Google limita acesso da Huawei ao Android

TECNOLOGIA

Ação da Google contra a Huawei vai ao encontro a medidas anunciadas pelo Departamento de Comércio dos Estados Unidos no último dia 15 de maio

Google limita acesso da Huawei ao Android
Os novos smartphones da empresa chinesa não terão acesso aos principais produtos da Google (Foto: John Karakatsanis/Flickr)

Em um novo passo dos Estados Unidos na escalada de boicote à Huawei, a Google suspendeu no último domingo, 19, parte do acesso da companhia de tecnologia chinesa ao sistema Android. Com isso, os novos smartphones da empresa chinesa não terão acesso aos principais produtos da Google.

Os produtos da Huawei já lançados e vendidos continuarão tendo acesso – pelo menos por ora – aos aplicativos, como Gmail, YouTube, Google Maps, entre outros. No entanto, os novos smartphones só contarão com programas de código aberto, que são livres para qualquer pessoa.

A decisão da Google de limitar os negócios com a Huawei vai ao encontro a dois comunicados dos Estados Unidos, emitidos na última semana pelo Departamento de Comércio dos EUA. Ambas as notas foram divulgadas na última quarta-feira, 15. A Huawei é acusada de repassar informações coletadas em seus equipamentos ao governo chinês.

Na primeira, os Estados Unidos incluíram a Huawei em uma espécie de “lista negra”, na qual se encontram empresas com suposto envolvimento “em atividades contrárias à segurança nacional dos EUA”. De acordo com o comunicado do Departamento de Comércio, a decisão obedeceu as orientações do presidente Donald Trump.

“Isso impedirá que a tecnologia americana seja usada por entidades de propriedade estrangeira de uma maneira que possa prejudicar a segurança nacional dos EUA ou interesses de política externa”, diz a nota.

Em um segundo comunicado, que não cita nominalmente a Huawei, o Departamento de Comércio revela que, ainda na quarta-feira, Trump assinou uma ordem para proteger a “cadeia de fornecimento de tecnologia da informação e comunicação”.

Na nota, a entidade explica que a ordem “proíbe transações que envolvam tecnologia de informação e comunicação ou serviços projetados, desenvolvidos, fabricados ou fornecidos por um adversário estrangeiro sempre que o Secretário de Comércio [Wilbur Ross] determinar que uma transação representaria uma ameaça à segurança nacional”.

A ordem assinada por Trump não impede que a Huawei venda ou compre equipamentos de comunicação. No entanto, empresas como Intel, Qualcomm e Broadcom, que estão entre as maiores fabricantes de processadores do mundo, informaram que não fornecerão equipamentos à Huawei até uma nova decisão.

Ainda não se sabe o quanto a medida vai impactar os negócios da Huawei. No entanto, é esperado um impacto negativo. Isso porque a Europa é o segundo maior mercado mundial da companhia chinesa. No continente, a Huawei licencia seus serviços através do Google, o que não será mais permitido.

Essa, no entanto, não foi a primeira medida de uma empresa contra equipamentos da Huawei. No último mês de janeiro, a Vodafone, que é a segunda maior empresa de telefonia celular do mundo, anunciou que ia suspender parte da implementação de equipamentos de tecnologia da empresa chinesa Huawei.

Resposta chinesa

Em resposta à decisão do Google, a Huawei informou que vai continuar oferecendo atualizações e serviços a todos os usuários de smartphone da marca. “Continuaremos a construir um ecossistema de software seguro e sustentável”, informou a Huawei, segundo noticiou o portal de tecnologia TecMundo.

Na última semana, o presidente-executivo da Huawei, Ren Zhengfei, informou que já estava preparado para as ações dos Estados Unidos contra a companhia chinesa. Zhengfei garantiu que a empresa não fez nada que viole a lei. No entanto, ele admitiu que o crescimento da Huawei pode diminuir “ligeiramente”.

Enquanto isso, o governo chinês, através do Ministério das Relações Exteriores, classificou as ações da Google como uma “histeria do Ocidente”. A Huawei é uma das principais empresas do mundo na corrida da tecnologia 5G, que conta ainda com, pelo menos, três companhias sul-coreanas e a americana Verizon Communications.

Ainda não se sabe se o governo chinês vai responder a essa pressão tecnológica. No entanto, analistas acreditam que a China pode tomar providências contra a Apple, o que pode prejudicar a empresa americana. A China é o terceiro maior mercado da Apple no mundo.

Guerra comercial e pressão tecnológica

A limitação à Huawei ocorre em um momento no qual a guerra comercial entre Estados Unidos e China continua a aumentar. Nas últimas semanas, os Estados Unidos impuseram novas tarifas sobre produtos importados da China. Em contrapartida, a China anunciou sobretaxas em US$ 60 bilhões em produtos dos EUA.

Enquanto isso, no último final de semana, Trump defendeu a guerra comercial contra produtos chineses. Em paralelo, ambos os países mantêm um diálogo comercial aberto, com direito à visita de comitivas para negociar melhores acordos.

Apesar de não integrar diretamente a guerra comercial, o setor de tecnologia chinês tem sido alvo constante de ações e medidas americanas. Há anos o governo americano está de olho na Huawei. No entanto, a pressão sobre a empresa chinesa cresceu no ano passado, quando foi revelado que a companhia superou a Apple em vendas de smartphones.

Em dezembro, a pedido dos Estados Unidos, o Canadá prendeu temporariamente a diretora financeira da Huawei, Meng Wanzhou, filha do fundador da empresa. A medida deixou o governo chinês exasperado, marcando a escalada na disputa tecnológica. Wanzhou foi libertada, sob pagamento de fiança, 11 dias depois da prisão.

Em janeiro, a China acusou os Estados Unidos de intimidação tecnológica, citando a tentativa de extradição de Wanzhou para solo americano. Para os chineses, a detenção da diretora financeira foi um ato “altamente político”.

Desde que a possibilidade de extradição pelos Estados Unidos passou a ser real, os advogados da Huawei passaram a buscar formas de impedir a medida. Na última semana, os advogados chineses afirmaram que vão alegar “fatores políticos”, baseados em afirmações de Trump, para impedir a extradição.

Fonte:
DW-Google suspende parte de acesso da Huawei ao Android
The Guardian-Google blocks Huawei access to Android updates after blacklisting
Reuters-Exclusive: Google suspends some business with Huawei after Trump blacklist – source

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