Não há nível saudável para o consumo de álcool, diz estudo

Até mesmo ingestão ocasional de vinho ou cerveja aumenta significativamente os riscos de problemas de saúde, aponta pesquisa. Bebidas alcoólicas são associadas a 2,8 milhões de mortes prematuras por ano.

    Homem serve vinho

Consumo diário de uma “dose padrão” aumenta em 0,5% as chances da ocorrência de problemas de saúde

Um estudo sobre o consumo de bebidas alcoólicas abrangendo 195 países aponta que até mesmo pequenas quantidades de vinho ou cerveja ingeridas ocasionalmente podem aumentar o risco de problemas de saúde ou de morte.

A pesquisa, divulgada nesta sexta-feira (24/08) na revista científica The Lancet, atribui 2,8 milhões de mortes prematuras anuais em todo o mundo ao consumo de de álcool.

“Não há nível seguro para o consumo de álcool”, afirmou Max Griswold, pesquisador do Instituto de Métrica e Avaliação da Saúde em Seattle, nos EUA, autor principal de um consórcio de mais de 500 especialistas.

O estudo derruba teorias recentes que afirmam que a ingestão moderada dessas bebidas reduz o risco de doenças cardíacas.

“O efeito protetor do álcool é anulado pelos riscos”, diz o cientista. “De modo geral, os riscos à saúde associados ao álcool aumentaram de acordo com a quantidade ingerida a cada dia”, afirma Griswold.

Em comparação com a abstinência, o consumo diário de uma “dose padrão” – 10 gramas de álcool, o que equivale a um copo de vinho, uma dose de bebidas destiladas ou a uma garrafa pequena de cerveja – aumenta em 0,5% as chances da ocorrência de ao menos um entre mais de duas dezenas de problemas de saúde.

A princípio, pode parecer pouca coisa: a cada 100 mil pessoas que não consomem álcool, 914 desenvolvem um dos males relacionados à bebida, como câncer. No caso dos que consomem bebidas alcoólicas uma vez ao dia, 918 pessoas a cada 100 mil podem apresentar problemas de saúde.

“Entretanto, em nível global, o risco adicional de 0,5% entre os consumidores [de álcool uma vez ao dia] corresponde a cerca de 100 mil mortes adicionais por ano”, afirma Emmanuela Gakidou, professora da Universidade de Washington e diretora do Instituto de Métrica e Avaliação da Saúde. “São mortes que poderiam ser evitadas.”

Segundo o estudo, os riscos aumentam em curvatura semelhante a uma letra “J”. A média de duas bebidas por dia representa um aumento de 7% na ocorrência de doenças e problemas físicos, em comparação á abstinência. No caso de cinco doses por dia, a probabilidade de consequências graves aumenta para 37%.

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As conclusões do estudo reforçam a posição da Organização Mundial de Saúde (OMS) de que “menos é bom, mas zero é melhor”, mas contraria as orientações das autoridades de saúde em muitos países, especialmente desenvolvidos. No Reino Unido, por exemplo, a recomendação é que o consumo não deve exceder 14 doses por semana para que os riscos se mantenham em níveis baixos.

O consumo de álcool foi apontado como o 7º principal fator de risco para mortes prematuras e doenças em 2016, totalizando 2% das mortes entre as mulheres e quase 7% entre os homens.

No entanto, na faixa etária de 15 a 49 anos, o álcool aparece como o fator mais letal, responsável por mais de 12% das mortes entre homens, aponta o estudo divulgado nesta sexta-feira. As principais causas das mortes relacionadas ao consumo de álcool nessa faixa etária são a tuberculose, acidentes de trânsito e suicídio.

Entre os homens, o consumo de álcool em 2016 foi mais difundido entre os dinamarqueses (97% bebem), seguidos dos noruegueses, argentinos, alemães e poloneses (94%). No caso das mulheres, a liderança também é da Dinamarca (95%), seguida da Noruega (91%), Alemanha e Argentina (90%) e Nova Zelândia (89%).

Os maiores bebedores, porém, se encontram em outros países. Os homens romenos consomem em média oito doses diárias, seguidos dos portugueses, lituanos e ucranianos, com sete unidades por dia.

Entre as mulheres, as ucranianas consomem diariamente uma média de quatro doses, enquanto em Andorra, Luxemburgo, Belarus, Suécia, Dinamarca, Irlanda e Reino Unido a média feminina é de três bebidas.

Os países com maior índice de não bebedores são os de população majoritariamente muçulmana. No Paquistão, por exemplo, apenas 0,8% dos homens consomem álcool.

Fontes:DW/RC/afp

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