Felicidade Interna Bruta, por Téta Barbosa

Ori é paulista, mora em Santa Catarina, tem mais de 70 anos e é o hóspede perfeito. É do tipo que elogia a comida, a paisagem, o calor, as pessoas, a cidade. Principalmente a cidade. Claro que a gente sorri e, secretamente, pensa; a cidade é ótima, mas vem comer um quilo de sal com a gente pra ver se você continua elogiando assim! Quando Ori disse, sem a menor cerimônia, que tinha certeza absoluta, baseado em suas visitas a várias cidades do Brasil, que o nordestino é mais feliz, a gente pensou: ok, não precisa exagerar, né?

Ficamos agradecidos e saudosos quando nosso amigo partiu para sua vida no Sul quando, pasmem, algumas semanas depois veio a revelação: Ori estava certo! A notícia vinha de fonte segura e dizia, em letras garrafais que “Pesquisa feita pelo IPEA aponta que nordestino é o mais feliz do Brasil”.

Bom, sendo o IPEA o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, nome cheio de pompa e de credibilidade, e a notícia vinda de um jornal nacionalmente respeitado, a gente acreditou. Claro que antes dei uma olhada nos créditos da matéria para ver se, sei lá, Ori não estava de alguma forma envolvido.

Não que um empresário do ramo de alimentação tenha muita influência em pesquisas científicas ou matérias jornalísticas, mas nunca se sabe. Não, não estava.

Nosso hóspede já desfrutava da sua vida no clima ameno de Santa Catarina, enquanto o jornal afirmava que um estudo feito em 147 países, classificava o Brasil em décimo sexto lugar, sendo a região Nordeste a mais feliz! Dizia, inclusive, que se o Nordeste fosse um país, estaria em nono lugar no ranking do estudo global.

Só posso imaginar que o bolo de rolo é o grande responsável por tanta felicidade. Imagino também que o céu azul, a praia e o Carnaval têm grande participação na alta nota que o nordestino recebeu na prova do Enem da Felicidade. Mas, o que é a felicidade, afinal?

 

 

Em 1972, o rei do Butão, Jigme Wangchuck, inventou o índice da FIB (Felicidade Interna Bruta). Não que o rei estivesse muito preocupado com teoria da felicidade, muito menos com a satisfação do seu povo, queria apenas justificar a miséria crescente em seu país.

Dizia ele que, riqueza não é sinônimo de alegria e contentamento, tudo baseado nas leis e ideias budistas. Seja lá quais foram as reais intenções do rei, o fato é que o Nordeste parece concordar. O povo sofrido com a seca, a discriminação e o descaso político, ainda encontra felicidade, bom humor, satisfação e contentamento, não se sabe da onde!

 

Téta Barbosa é jornalista, publicitária, mora no Recife e vive antenada com tudo o que se passa ali e fora dali. Escreve aqui sempre  sobre modismos, modernidades e curiosidades. Ela também tem um blog – Batida Salve Todos

 

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