O brasileiro ordeiro não coloca o governo em alta tensão
Por Flávio Chaves – Jornalista, escritor e membro da Academia Pernambucana de Letras. Foi Delegado Federal/Minc
Recentemente, uma medida provisória (MP) assinada pelo governo federal causou uma grande comoção entre os consumidores de energia elétrica no Brasil, principalmente nas regiões Norte e Nordeste. A MP, que beneficia a Âmbar Energia, empresa do Grupo J&F dos irmãos Wesley e Joesley Batista, tem gerado críticas intensas por seu impacto direto no encarecimento da conta de luz, especialmente para as famílias de baixa renda.
A medida provisória aprovada pelo governo federal favorece a Âmbar Energia, permitindo que a empresa continue operando em condições vantajosas no mercado de energia. O objetivo declarado da MP é manter a estabilidade e garantir a continuidade do fornecimento energético, mas seus efeitos práticos têm levantado questionamentos sobre quem realmente se beneficia dessa decisão.
Para as famílias de baixa renda, a situação já é difícil devido ao aumento geral dos preços e ao desemprego elevado. A medida provisória traz um impacto direto e doloroso: o aumento das tarifas de energia elétrica. Com a nova estrutura tarifária, muitas dessas famílias, que já enfrentam dificuldades para pagar contas básicas, se verão ainda mais pressionadas a fazer escolhas entre necessidades essenciais como alimentação, saúde e educação.
As regiões Norte e Nordeste, historicamente menos favorecidas economicamente, são as mais afetadas pela MP. Nessas áreas, a dependência da energia elétrica é crítica para a sobrevivência e o funcionamento de pequenos negócios. O aumento nas tarifas de energia pode resultar no fechamento de pequenos comércios, perda de empregos e uma deterioração ainda maior da qualidade de vida.
O impacto da medida provisória não se limita apenas aos consumidores residenciais. A indústria, que é um grande consumidor de energia, também será afetada. Com o aumento dos custos de produção, é inevitável que parte desse custo seja repassado aos consumidores finais. Isso pode gerar uma cadeia de aumentos de preços em diversos produtos, exacerbando a inflação e tornando a vida mais cara para todos os brasileiros.
A medida provisória tem sido alvo de críticas não apenas por seus efeitos econômicos, mas também por sua transparência e legitimidade. A relação próxima entre o governo e o Grupo J&F levanta suspeitas sobre os reais motivos por trás da aprovação dessa MP. A percepção de favorecimento a uma grande empresa, em detrimento dos consumidores mais vulneráveis, contribui para um sentimento de injustiça e desconfiança em relação às políticas públicas.
Em resposta às críticas, o governo federal anunciou algumas medidas de mitigação, como programas de subsídio para famílias de baixa renda e incentivos para a adoção de energias renováveis. No entanto, essas iniciativas são vistas por muitos como insuficientes para compensar o impacto negativo da MP. É necessário um esforço mais abrangente e coordenado para garantir que os consumidores mais vulneráveis não sejam os mais prejudicados.
A medida provisória que beneficia a Âmbar Energia, ao encarecer a conta de luz, é um exemplo claro de como decisões políticas podem ter consequências profundas e abrangentes para a população. Para as famílias de baixa renda, especialmente nas regiões Norte e Nordeste, esse “choque elétrico” representa mais um desafio em um cenário já adverso.
É crucial que o governo adote políticas mais justas e equilibradas, que protejam os consumidores mais vulneráveis e garantam um acesso igualitário a recursos essenciais como a energia elétrica. Somente assim será possível mitigar os efeitos dessa medida e promover um desenvolvimento econômico mais inclusivo e sustentável.