No radicalismo fatal, Trump e Bolsonaro se encontram com Carlos Lacerda ao longo da história

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Lacerda foi radical a vida toda e acabou fora da política

Pedro do Coutto

A invasão do Congresso dos EUA por fanáticos da direita transformou-se num episódio que marca o crepúsculo de um presidente que não suportou a derrota nas urnas, expressão maior da Democracia. No Brasil o presidente Bolsonaro não suporta o embate democrático e numa fase de seu governo incentivava seus seguidores a alvejar e ameaçar o Congresso e o Supremo.

Recuou dessa campanha negativa e aberta, mas não desestimulou a ação de grupos a ele ligados nas investidas nas redes sociais.

ATRÁS DA REELEIÇÃO – Bolsonaro, com sua agitação, preocupa-se hoje com a sucessão de 2022 e prega um retrocesso eleitoral que seria o retorno ao voto impresso. Chegou a dizer que com as urnas eletrônicas daqui a dois anos poderá haver uma crise ainda pior, nos moldes que marcaram o desfecho final americano. Quer dizer, se ele perder em 2022, haverá um episódio extremamente crítico no Brasil. Como Trump, ele não admite de forma alguma ser derrotado. O que isso significa? Um apelo à ditadura.

Mas eu disse que na estrada da história Trump e Bolsonaro estão se encontrando com o então governador Carlos Lacerda. Antes de governar a Guanabara, no seu jornal Tribuna da Imprensa, Lacerda combateu a candidatura de Vargas em 1950 quando disse que este não podia ser empossado.

Com o trágico desfecho de 54, Lacerda elegeu-se deputado federal e logo em 1955 foi a figura de destaque na tentativa de golpe militar para impedir a posse de JK.

JÂNIO E JANGO – Em 1960, Lacerda apoiou Jânio Quadros, mas com a renúncia de Jânio desencadeou forte campanha contra a posse de Jango Goulart. Apesar de jornalista, ele comandou no Rio de Janeiro uma operação de censura à imprensa.

O Correio da Manhã, jornal em que ele (Lacerda) trabalhou como repórter e colunista, teve sua circulação proibida por iniciativa sua, quando acionou a Polícia Militar para apreender os exemplares nas rotativas da Gomes Freire.

O tempo passou e ele não abandonou o narcisismo de julgar-se acima da Constituição e das leis. Mais um ato antidemocrático ele proporcionou, tentando alucinadamente impedir a posse de Negrão de Lima que derrotou nas urnas Flexa Ribeiro, o candidato que Lacerda havia lançado. Como se constata uma sequência de impulsos ditatoriais.

DE 54 A 64 – Quando Café Filho em 1954 assumiu a presidência da República, Lacerda lançou uma campanha para adiar as eleições de 55 sob o argumento de que eram pelo menos necessários dois anos para desintoxicar o país. Falhou. Ainda em 1955, quando o golpe contra JK falhou, exilou-se na embaixada de Cuba, na época governada por Fulgencio Batista.

Em 1964, era governador e estava na linha de frente do golpe. Depois, terminou rompendo com o movimento militar de 64. Foi preso e cassado pelo poder militar pelo qual desencadeara uma campanha golpista.

A direita, portanto, marcou encontro na névoa do tempo entre Donald Trump, Bolsonaro e Carlos Lacerda.