Perda irreparável: adeus querido Rafael.Por  José Nivaldo Júnior

Por  José Nivaldo Júnior – Escrritor, historiador, Consultor em marketing político e membro da Academia Pernambucana de Letras

Dá um minutinho para eu me recompor. Puxa vida. A vida é bela e cruel, como aquelas flores assassinas. Dois queridos perderem a batalha para a  indigitada das gentes no mesmo dia é demais também. Escrevo derretido em lágrimas porque, no mesmo dia, zero é ótimo, um é péssimo, dois, sinceramente, extrapola todos os limites.

Irônico é que terça feira participei de um grande debate, na CBN, mediado por Geraldo Freire.  O tema: a hora da morte. Modéstia a parte, barbarizamos. Falar na teoria é muito fácil para quem sabe usar a palavra e é bem informado. Nessa hora, não tenho quem revise o texto. Os pontos são lágrimas, as vírgulas, soluços.

Doutor Augusto Coelho 

O mais novo dos filhos homens do lendário casal Quelê  (Clementino de Souza Coelho) e Josepha, a inigualável D. Zefinha. Os filhos homens: Nilo, morto quando presidia o Senado. A frase que garantiu seu passaporte para a posteridade: “Não sou presidente do Senado do PDS” – o partido dele, sigla sucessora da Arena, o partido oficial do governo militar.

Completou: “Sou presidente do Senado do Brasil”. Mutreta, jogatina de interesses menores, ali não, violão. Além de Nilo, os tios Oswaldo, ” O Braço Forte do Sertão”, slogan que Luiz Montenegro e eu criamos  na MMS. José, Paulo, Geraldo, Adalberto e Augusto, não necessariamente nessa ordem,  foram os que conheci dessa primeira geração. Quando me aproximei do clã, já tinham memória Clementino e Caio. As mulheres, conheci sem conviver e sem guardar o nome. Redigi a primeira biografia do Coronel Quelê. Atendi Augusto no terço final do seu mandato de prefeito, pela MMS. Ficamos amigos, de uns mais, de outros menos. Com Augusto, o ” prefeito das mil obras”, um case extraordinário na minha carreira no marketing político,  ainda falo quase toda semana.

Rafael

Gosto muito da família. Rafael, conheci na adolescência. Rapazinho calado, olhar curioso, sabia ouvir e escutar. Entrava e saia quase sem ser notado no gabinete, na sala de reuniões. Acompanhei, através do pai orgulhoso, a carreira linda do filho. Estudante aplicado, destaque nos Estados Unidos. Executivo competente. Empresário de sucesso. Cumprida sua missão na prefeitura, Augusto dedicou-se à causa médica, sua obra filantrópica tem sido reconhecida aqui em O Poder. Nunca convivi com Rafael. Uma vez nos encontramos. Brinquei: “e aí, quando vou fazer sua campanha?” Ele: “Zé, nunca. Nós, Coelho do Sertão, somos muito prolíficos e diversificados. Tem os que se dedicam à política, outros aos negócios. Nasci para ser empresário”. E ficamos por aí, até hoje.

Segunda feira

Perdoe a indiscrição nessa hora de dor,  querido Dr. Augusto. Segunda feira recebi do senhor a mensagem: “O meu filho Rafael fez uma cirurgia neurológica decorrente da dengue em São Paulo, e está em estado muito grave”. Respondi com palavras banais. Força, aquelas coisas que se dizem nessas horas. Ontem, sexta-feira 26/04,  ele avisou, numa frase literalmente lapidar: “Tudo muito ruim”.

Ordem inversa

Se houvesse justiça na natureza, um pai nunca deveria enterrar o filho. É dor que o ser humano só suporta por ser humano. E por ter responsabilidade com os que ficam. Os fortes não abandonam a luta jamais. Querido Dr. Augusto, se algum dia o senhor conseguir ler esse texto, saiba que meu coração dobra, descompassado, em sintonia com a sua dor.