Cravinhos suplica por perdão de Andreas von Richthofen em carta

“Palavras mal conseguem expressar a intensidade de minha angústia e remorso”, diz Cravinhos, um dos condenados pelo assassinato dos pais de Andreas

Daniel Cravinhos Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

Duas décadas após o assassinato do casal von Richthofen, Daniel Cravinhos – um dos condenados pelo crime – busca o perdão de Andreas, filho das vítimas que na época tinha 14 anos e hoje está com 36. Em carta endereçada ao homem, que um dia foi seu amigo, Cravinhos expressa profunda “angústia e remorso” e destaca que seu “desejo mais profundo” é ter o perdão de Andreas, que, em sua visão, é a “maior vítima de tudo o que aconteceu”.

– Minha mente está em turbilhão, pois meu desejo mais profundo é ter o seu perdão. As palavras mal conseguem expressar a intensidade de minha angústia e remorso. Minhas mãos tremem enquanto escrevo, e cada linha é uma batalha contra os fantasmas do passado. Há duas décadas, desde aquele fatídico dia, carrego o peso do arrependimento e da culpa, ciente de que minhas ações trouxeram tamanha tragédia para nossas vidas. Desde sempre penso em você, a maior vítima de tudo o que aconteceu – diz Daniel em trecho da carta obtida pelo jornalista Ullisses Campbell, de O Globo.

Cravinhos expressa ainda o seu desejo por reaproximação e o medo de que Andreas sinta-se ameaçado por isso. Antes do julgamento, Suzane von Richthofen; que agora usa o sobrenome Magnani – também condenada pelo duplo homicídio – chegou a tentar reencontrar o irmão, mas ele registrou um boletim de ocorrência contra ela. Desde 2017, Cravinhos se encontra em regime aberto, e uma eventual denúncia de Andreas poderia botá-lo novamente atrás das grades.

– Sinto vontade de tocar a sua campainha, mas temo sua reação. Morro de medo que você se sinta ameaçado com a minha presença. Além disso, sei que a sociedade me vê unicamente como o assassino de seu pai. E você? Como você me enxerga além disso? Saí da prisão em 2017 após perder 17 anos de minha liberdade. Mas você perdeu muito mais do que eu. Desejo compreender seu luto e fazer parte dele – continua Daniel em sua carta.

Na missiva, o ex-namorado de Suzane afirma que o remorso pelas suas ações permanecerá com ele até o fim de seus dias e implora pela compaixão de Andreas.

– A culpa continua a me perturbar. Parte de minha família me rejeita, e sinto que um dedo acusador aponta para mim constantemente, me lembrando do que fiz. Essa culpa não desaparecerá com a sentença que me condenou a 39 anos. Seguirá comigo até o fim dos meus dias. Espero, do fundo de minha alma, que você encontre no coração a compaixão para me perdoar. Sei que minhas palavras podem parecer insuficientes diante da magnitude do que aconteceu, mas é com toda a sinceridade e humildade que peço por tua misericórdia – acrescenta.

Ele recorda ainda que, duas semanas após o crime, durante a reprodução simulada, Andreas tentou abraçá-lo, mas os policiais não permitiram, e que hoje atualmente gostaria de saber se é possível que esse gesto se concretize.

– Estou disposto a enfrentar as consequências de meus atos e a fazer tudo o que estiver ao meu alcance para tentar reparar o enorme dano que lhe causei. Se você permitir, gostaria de ter a oportunidade de falar pessoalmente, olhos nos olhos, e abrir meu coração. Mas, se você preferir manter distância, respeitarei. Apenas desejo saber o tamanho do abismo emocional que nos separa para saber se é possível atravessá-lo. Hoje, serias capaz de me dar o abraço que não aconteceu 22 anos atrás?

O CASO QUE CHOCOU O BRASIL
Manfred Albert von Richthofen e Marísia von Richthofen foram mortos em 2002 por Daniel e seu irmão, Cristian Cravinhos, a mando da filha do casal, Suzane. O plano era simular um roubo seguido de morte a fim de ficar com a herança que seria da filha após a morte dos pais.

Suzane e Daniel Cravinhos acabaram condenados a 39 anos e seis meses de prisão, enquanto Cristian Cravinhos foi sentenciado a 38 anos e seis meses de reclusão.