Por Paulo Cunha

O nome estrangeiro escolhido pelo pai não deve nos enganar: Rucker Vieira foi um brasileiro absoluto, nascido em 1931, em Bom Conselho, filho do deputado udenista Gervásio Campos e que se tornaria, a partir do início dos anos 1960, um dos mais importantes fotógrafos e cineastas da geração do Cinema Novo.

Era um gênio. Quando foi chamado por Linduarte Noronha para ser o diretor de fotografia do curta Aruanda, Rucker Vieira nunca havia filmado. Conhecia apenas fotografia estática. Mas já tinha a coragem que o caracterizaria pela vida inteira. E encarou com alegria o desafio. Foi para a Serra do Talhado, na Paraíba, literalmente no meio do nada, para revelar a vida dos negros quilombolas que viviam da produção de vasos de argila.

Foi um choque. O resultado do trabalho de Rucker Vieira, apresentado no Rio e em São Paulo, espantou o então jovem crítico Glauber Rocha, que identificaria nas imagens contrastadas de Aruanda o modelo que seria a marca do Cinema Novo.

Rucker Vieira fotografou Aruanda com uma câmera simples e um tripé. Sem iluminação, destelhava as casas dos quilombolas para poder filmar a produção de cerâmica. Sem rebatedores, usava bacias de alumínio para desviar a luz do sol.

Depois de Aruanda, Rucker fez muitos outros filmes surpreendentes. Por exemplo, dirigiu e fotografou A Cabra na Região Semiárida, até hoje o melhor documentário sobre caprinocultura no sertão nordestino.

Para além do cinema, a vida de Rucker Vieira foi repleta de aventuras que pouca gente conhecia: aprendeu a pilotar e foi o primeiro a pousar com um teco-teco em Bom Conselho (num descampado, porque na época nem havia pista por lá…); foi preso em 1964 por ter ido buscar no Rio de Janeiro, poucos meses antes do golpe, uma câmera de cinema fabricada na antiga União Soviética; tocou bateria numa banda de chá-chá-chá no interior de São Paulo…

Na tarde de hoje, na Aliança Francesa do Derby, a partir das 16 horas, lanço o Árida Luz Nordestina: o cinema de Rucker Vieira. Trata-se de um livro de 350 páginas, fruto de uma pesquisa de mais de três anos, e que conta em detalhes a vida desse pernambucano talentosíssimo e que ajudou a mudar o jeito de registrar nos filmes o povo brasileiro.

Na ocasião, haverá também uma exposição fotográfica com imagens pouco conhecidas de Rucker e uma roda de conversa com participação do escritor e cineasta Fernando Monteiro, professor e pesquisador Alexandre Figueroa e a cineasta Adelina Pontual.

Estão todos convidados para celebrar o grande Rucker Vieira.