Uma poética autocondenação no tribunal da vida, pelo imortal gaúcho Carlos Nejar

Aos 81 anos, imortal Carlos Nejar lança obra na Capital

Carlos Nejar lançou mais um livro aos 81 anos

O crítico literário, tradutor, ficcionista e poeta gaúcho Luís Carlos Verzoni Nejar, no poema “No Tribunal”, sentencia a sua própria condenação.

NO TRIBUNAL
Carlos Nejar

Eu e o tribunal
e sua fria mudez.
O juiz no centro e no fim,
o rosto girando em mim,
farândola.

Vim, com a escura coragem,
de um réu antigo e selvagem.
O que me prendeu,
lutou comigo e venceu.
Vacilava em me reter,
mas eu que entregava,
por saber que minha chaga
estava exposta na lei.

Giram as mãos
e os pés atados.
O juiz é um vulto
que eu mesmo fiz
com meus esboços.

O juiz no centro, no fim,
no tribunal onde vou,
no tribunal donde vim.
E assim me condenei
a permanecer aqui.