O crítico literário, tradutor, ficcionista e poeta gaúcho Luís Carlos Verzoni Nejar, no poema “No Tribunal”, sentencia a sua própria condenação.
NO TRIBUNAL
Carlos Nejar
Eu e o tribunal
e sua fria mudez.
O juiz no centro e no fim,
o rosto girando em mim,
farândola.
Vim, com a escura coragem,
de um réu antigo e selvagem.
O que me prendeu,
lutou comigo e venceu.
Vacilava em me reter,
mas eu que entregava,
por saber que minha chaga
estava exposta na lei.
Giram as mãos
e os pés atados.
O juiz é um vulto
que eu mesmo fiz
com meus esboços.
O juiz no centro, no fim,
no tribunal onde vou,
no tribunal donde vim.
E assim me condenei
a permanecer aqui.