Chefe da comunicação de Lula, ex-ministro Franklin Martins está sem diálogo com PT

Franklin Martins é pago pelo partido para assessorar Lula

Sérgio Roxo
O Globo

Homem-chave da pré-candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o jornalista e ex-ministro Franklin Martins tem acumulado conflitos com o PT ao longo dos anos. O mais recente diz respeito aos valores do contrato com o marqueteiro Augusto Fonseca para a campanha presidencial deste ano. Entre dirigentes há também relatos de que o jornalista não se mostra disposto a contribuir para facilitar a integração das linhas de comunicação de Lula e da legenda.

O clima é tão tenso que alguns integrantes da executiva petista se recusam a cumprimentá-lo. Franklin ainda vem sendo atacado por não compartilhar com a sigla os relatórios de monitoramentos de redes sociais feitos por uma empresa contratada.

AMIGO DE LULA – O jornalista se mantém no comando da comunicação da pré-campanha por causa da sua relação direta com Lula, de quem foi ministro da Secretaria de Comunicação Social entre 2007 e 2010.

Em maio do ano passado, o PT acertou a contratação de Franklin para ser o cabeça de todo o esquema de comunicação da pré-campanha. Ele foi o primeiro nome escalado dentro da estrutura que o ex-presidente pretende montar. Desde então, recebe salário de cerca de R$ 20 mil do partido.

Como chefe da comunicação, coube ao ex-ministro liderar a escolha do marqueteiro que será responsável pela propaganda do candidato petista na eleição presidencial. Quatro empresas participaram da seleção realizada, e o vencedor foi Augusto Fonseca, da MPB Estratégia & Criação, que trabalhou com Fernando Henrique Cardoso em 1994 e também na campanha de Lula com Duda Mendonça em 2002.

R$ 40 MILHÕES – Quando os valores apresentados por Fonseca para realizar o serviço chegaram às mãos da direção do PT, houve problemas. O marqueteiro teria afirmado que a conta havia sido avalizada por Franklin.

Dirigentes relataram que a quantia pedida, perto dos R$ 40 milhões, não estava adequada à nova realidade financeira das campanhas políticas após a proibição de doações empresariais e representava mais de três vezes o que foi gasto com Fernando Haddad em 2018. A questão ainda está pendente e ficou para ser resolvida diretamente pelo entorno de Lula.

O marqueteiro também não chegou a um acerto com o PT no valor para produzir os comerciais partidários que estão indo ao ar agora. A quantia apresentada inicialmente foi reduzida, e Fonseca acabou sendo escalado para fazer apenas os vídeos que têm a participação direta de Lula. Os demais spots, que contam com a participação de mulheres, ficaram a cargo da estrutura de comunicação do partido.

AÇÃO NA JUSTIÇA – A questão de valores de contratos já havia colocado Franklin em embate com o PT no passado. Em 2014, o jornalista foi escalado para fazer o site Muda Mais, de apoio à campanha à reeleição de Dilma Rousseff. A direção resistiu a concordar com o valor pedido, e a assinatura só ocorreu depois de interferência direta da então candidata a presidente.

A legenda não pagou uma parte do contrato, o que gerou uma ação de execução contra o PT. De acordo com a apelação que corre no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, o partido deixou de pagar uma parcela referente a outubro de 2014 no valor de R$ 2 milhões e uma parte da parcela de setembro de R$ 261 mil. Em abril de 2021, o débito, ainda segundo a Justiça, estava em R$ 8,3 milhões por causa da correção. O partido chegou a ter uma conta bancária com saldo de R$ 5,9 milhões bloqueada. Os advogados têm apresentado recursos para garantir a movimentação do dinheiro, mas é dado como certo que será necessário, em algum momento, quitar o débito.

JOÃO SANTANA – A ação de cobrança da dívida é movida pela Pólis Propaganda, empresa do marqueteiro João Santana, que assinou o contrato com o partido para prestar os serviços relativos à produção do site Muda Mais em 2014. Questionada pelo GLOBO, Monica Moura, mulher e sócia do marqueteiro, não respondeu se o dinheiro cobrado terá como destinatário Franklin Martins.

Procurado, o jornalista não se pronunciou. A direção do PT informou que também não comentaria o assunto. Pessoas próximas ao jornalista, porém, reconhecem que o ex-ministro vem sendo bombardeado pelo PT, mas atribuem isso ao fato de ele não fazer política dentro da legenda. Dizem também que há ciúmes dos petistas por causa de seu livre acesso a Lula.

Após a publicação da reportagem, o PT divulgou nota em que afirma que “os contratos com fornecedores da campanha presidencial e seus valores serão definidos no devido tempo, de acordo com a legislação e considerando os recursos disponíveis pelo fundo partidário, fundo eleitoral e arrecadação própria”. “Qualquer valor divulgado neste momento não passa de especulação”, diz a nota.

DIZ O PT – O partido ainda acrescenta que Franklin Martins “não move nenhum processo ou demanda judicial nem extrajudicial contra o PT”.

Por fim, diz que “a escolha da empresa que fará os programas de rádio e TV e de atuação em redes sociais para a futura campanha ocorreu de modo transparente, entre quatro concorrentes de reputação no campo da publicidade, com acompanhamento direto da presidente Gleisi Hoffmann e do ex-presidente Lula”.