Janela para desfiliação e a federação com Cidadania agravaram a crise dos tucanos

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Charge do Jorge Braga (Arquivo Google)

Deborah Hana Cardoso
Correio Braziliense

O PSDB chegou cheio de problemas à janela partidária, período que os parlamentares têm para mudar de partido sem a perda do mandato pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A sigla coleciona perfis que vão de grupos ligados à agenda do presidente Jair Bolsonaro (PL) a outros que fazem oposição ao chefe do Executivo, como os tucanos da velha guarda Aloysio Nunes, José Serra, Tasso Jereissati e José Aníbal.

De acordo com um dos fundadores da legenda, o ex-deputado federal Fábio Feldmann, que deixou o PSDB em 2005, a sigla enfrenta uma crise de identidade e não sabe onde se colocar no momento que o país vive.

DESFILIAÇÕES – Por meio de interlocutores, muitas desfiliações foram confirmadas ao Correio, como a do ex-líder do partido na Câmara, Rodrigo Castro (MG), assim como de Rose Modesto (MT) e Mara Rocha (AC) — a última é apontada como alinhada ao governo Bolsonaro e deve sair candidata ao governo de seu estado.

Um alerta acendeu em 2018, quando o ex-governador paulista Geraldo Alckmin ficou para trás logo no primeiro turno, com 4,76% dos votos — o pior desempenho em uma eleição geral do partido desde o mandato de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). O eleitorado que não votava no PT migrou para Jair Bolsonaro, que ganhou naquele ano.

De acordo com o suplente de senador José Aníbal (SP), naquela eleição, a legenda não conseguiu captar a polarização. “Perdemos o protagonismo à Presidência da República e, em 2019, o parlamento”, disse. Em sua avaliação, há outro fato que se soma a isso: a eleição do governador João Doria. “Ele ia perder para Márcio França e então se agarrou ao BolsoDoria”, afirmou.

A CRISE É ANTIGA – Segundo o CEO da consultoria Dharma Politics, Creomar de Souza, o problema é anterior e começa em 2016, quando Doria se tornou prefeito de São Paulo e “fez um movimento para garantir sua candidatura ao governo paulista, de tomada do diretório estadual”.

Os derrotados, apoiadores de Geraldo Alckmin — que acaba de confirmar filiação ao PSB —, foram convidados a se retirar do partido. “Esse intento de Doria de se posicionar como a maior liderança do partido começou um processo de desgaste da sigla”, pontuou Feldmann.

Vale destacar que agora há uma pressão interna no PSDB para que Doria deixe a disputa. Ele admitiu recentemente que poderá retirar sua candidatura ao Palácio do Planalto mais à frente. E o PSDB não ter um candidato à Presidência é um peso para o tamanho e história do partido.