Polícia Federal quer saber por que a Globo fechou a empresa mais lucrativa do mundo

TRIBUNA DA INTERNET | Jornalistas do grupo Globo não podem apoiar candidaturas nem partidos políticos

Charge do Kayser (Arquivo Google)

Carlos Newton

Conforme informamos aqui na Tribuna, sempre com absoluta exclusividade, o inquérito movido contra os irmão Marinho (Roberto Irineu, João Roberto e José Roberto) é o deslinde de uma armação econômico-financeira inacreditável que envolveu uma sociedade que jamais foi “anônima” e depois se transformou em “limitada”.

Criada pelos irmãos Marinho, a Portal do Esporte S/A virou GME Marketing Esportivo Ltda. Tinha um patrimônio irrisório e pouquíssimos empregados. Mesmo assim, ao final de 5 anos fez uma transferência de patrimônio equivalente a 2,8 bilhões de dólares para os irmãos Marinho.

Se a empresa conseguiu transferir tamanha fortuna, quanto, de fato, faturou naqueles 5 anos? E se tudo ia tão bem, por que, de repente, os irmãos Marinho fecharam a GME Marketing Esportivo, empresa mais lucrativa do mundo?

DETALHE IMPORTANTE – Se a tal empresa global GME tinha essa montanha de dinheiro, por que o Grupo Globo, entre 2002 e 2005, teve que renegociar sua dívida internacional de 1,7 bilhão de dólares?

Bem, a GME Ltda. era simplesmente a segunda versão da Portal do Esporte S/A, pois usavam até o mesmo CNPJ. Tiveram atuação na Copa América em 2001 e nas Copas do Mundo de 2002 e 2006, todas transmitidas pela Rede Globo.

Sob o comando de Marcelo de Campos Pinto, ex-funcionário da Globo, a GME Marketing Esportivo Ltda., que tinha poucos funcionários, tornou-se a empresa mais lucrativa do mundo, repita-se, mas encerrou suas atividades em 1º de setembro de 2006, com patrimônio líquido de 2,8 bilhões de dólares, quando o dólar estava cotado a R$ 2,14, e o total correspondia a cerca de R$ 6 bilhões.

NAS MESMAS MÃOS – Essa fortuna, maior do que o patrimônio declarado à época pelas Organizações Globo, corresponderia, hoje, a cerca de R$ 15 bilhões, com o dólar cotado a R$ 5,60. E foi tudo integralmente transferido para as Organizações Globo Participações S/A, através da Cardeiros Participações S/A ou de outras empresas fantasmas dos irmãos Marinho.

As indagações a respeito dessa bilionária patrimonialização de uma sociedade limitada, em tão pouco tempo, e com finalidade bem restrita, “promoção de eventos esportivos”, teve sua liquidez atestada por conceituada empresa de planejamento e engenharia de avaliações.

A consultoria avaliadora informou que “os ativos e passivos da GME MARKETING ESPORTIVO LTDA. encontram-se adequadamente contabilizados no referido balanço, as atualizações monetárias foram adequadamente efetuadas e as provisões foram calculadas de acordo com a legislação societária e fiscal em vigor.

PATRIMÔNIO LÍQUIDO – Acrescentou a consultoria avaliadora: Postas essas premissas, cumpre-nos afirmar que, compulsando os livros e documentos fiscais da GME MARKETING ESPORTIVO LTDA., que nos foram apresentados, os ativos e passivos a serem incorporados, de acordo com o estabelecido no referido protocolo, assim se qualificam: total do Patrimônio líquido R$ 5.852.533.310,23”.

A GME Marketing Esportivo Ltda. encerrou as atividades em 1º de setembro de 2006, sob o comando do sócio Marcelo de Campos Pinto, ex-empregado global, e quando foi incorporada pelas Organizações Globo tinha lucros acumulados de R$ 326.006.892,30.

Nessa mesma data, a Globopar S/A, concessionária dos canais de televisão de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife e Distrito Federal, sem o obrigatório conhecimento do poder concedente, já tinha sido fatiada entre as holdings particulares de seus três acionistas-proprietários, e o total do patrimônio não passava de R$ 1,8 bilhão, um montante bem menor do que o fenomenal administrador Marcelo de Campos Pinto colheu para a GME (ex-Portal do Esporte) em apenas 5 anos.

DISPARIDADE – Repita-se, para ficar bem claro: o patrimônio transferido pela sociedade limitada promotora de eventos esportivos, que funcionou apenas 5 anos, era várias vezes maior do que o patrimônio de sua própria incorporadora, a Organizações Globo Participações S/A.

Bem, a Polícia Federal está investigando. Mas se quiser saber o que realmente aconteceu, terá de pesquisar o chamado caso Fifa. Um dos personagens principais era o empresário e jornalista brasileiro Jota Hawilla. Foi preso pelo FBI em dia 9 de maio de 2013, acusado de obstrução de Justiça.

No dia seguinte, o empresário fez um acordo de colaboração com as autoridades americanas. Em troca de não ser processado por diversos outros crimes, Hawilla entregou uma grande quantidade de documentos e topou grampear vários de seus interlocutores: dirigentes de futebol, sócios, concorrentes.

CORRUPÇÃO MUNDIAL – A colaboração de Hawilla foi decisiva para o desenvolvimento do “Caso Fifa”, maior investigação sobre corrupção no futebol mundial, que tem mais de 40 réus, entre eles, três ex-presidentes da CBF – Ricardo Teixeira, José Maria Marin e Marco Polo Del Nero – e três ex-presidentes da Conmebol, Nicolas Leoz, Eugenio Figueredo e Juan Angel Napout.

Hawilla depôs no tribunal americano e detalhou como pagava subornos para dirigentes de futebol desde 1991. Além de colaborar com as autoridades. aceitou pagar uma multa de US$ 151 milhões, mas até sua morte, em 2018, só tinha devolvido US$ 25 milhões.

A notícia da morte do empresário foi um alívio para as Organizações Globo, que até o fim contou com a fidelidade dele. Na época, Hawilla aparecia como dono de uma rede de emissoras no interior de São Paulo, todas afiliadas à Globo, mas é claro que isso era apenas coincidência.

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P.S. 1 –
 Segundo o próprio Hawilla, a Traffic, sua agência de marketing esportivo, subornava dirigentes para conseguir a preço baixo os direitos comerciais de competições da CBF e da Conmebol. Os direitos depois eram revendidos para emissoras de TV (leia-se Rede Globo) e patrocinadores por valores muito mais altos. Com parte do lucro da operação, as agências pagavam subornos aos cartolas.

P.S. 2 – Como se vê nos exemplos vitoriosos de Marcelo de Campos Pinto e de Jota Hawilla, que enriqueceram da noite para o dia, não basta ser competente para vencer na vida . Antes de mais nada, é preciso se ligar a uma organização realmente poderosa, como a Globo.  (C.N.)