Falta de chuvas neste verão pode deixar reservatórios em níveis críticos, dizem pesquisadores

Um estudo do Cemaden, o Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais, mostrou que, até o fim de fevereiro, a quantidade de chuvas não deve ser suficiente para aumentar o nível dos reservatórios.

A situação crítica das represas pelo Brasil deve continuar em 2021. Pesquisadores alertam que a falta de chuvas pode deixar reservatórios ainda mais secos.

As marcas da crise que secou reservatórios pelo Brasil ainda existem. No Sistema Cantareira, que abastece quase oito milhões de habitantes na Grande São Paulo, ainda há trechos que nunca mais ficaram cheios.

Um, em Joanópolis, no interior do estado, é um exemplo.

Hoje, o sistema opera com quase 35% da capacidade, índice menor do que em 2019, quando estava com 40%. É o menor índice para esta época do ano desde 2015, quando o Cantareira enfrentava a maior seca da história.

O verão costuma representar a recuperação dos reservatórios brasileiros depois de meses mais secos. Só que, desta vez, especialistas projetam um cenário diferente, menos otimista.

Um estudo feito pelo Cemaden, o Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais, mostrou que, até o fim de fevereiro, a quantidade de chuvas não deve ser suficiente para aumentar o nível dos reservatórios.

No caso do Cantareira, por exemplo, se o volume de chuvas ficar dentro da média histórica, as represas terão 45% do volume em fevereiro de 2021, menos que os 59% que tinham em fevereiro em 2020.

O problema é que fenômenos como o La Niña, que esfria as águas do Pacífico, e o aquecimento das águas do Oceano Atlântico não devem colaborar muito nos próximos meses. No pior dos cenários projetados pelo Cemaden, o Cantareira pode chegar ao fim de fevereiro com apenas 24%.

“Nordeste do Brasil, Centro-Sul do Brasil estão passando por uma situação de falta de chuvas. E como os oceanos mudam muito lentamente as suas características, o mais provável é que essas circunstâncias acabem também influenciando os próximos meses. Então, eu diria que o mais provável é que no Nordeste e no Centro-Sul é chover abaixo da média”, diz o coordenador do Cemaden, Marcelo Seluchi.

A seca também pode causar impactos no sistema de geração de energia, que depende das hidrelétricas. De acordo com o Cemaden, usinas importantes como a de Itaipu, que em 2020 recebeu a menor quantidade de água da história, podem ter dificuldade de se recuperar.

O sistema de represas das regiões Sudeste e Centro-Oeste, por exemplo, hoje está com apenas 16% da capacidade. O da Região Sul, que inclui Itaipu, com 25%.

“A geração de energia elétrica precisa de volume, porque precisa encher reservatórios. Esse horizonte de poder encher reservatórios não aparece na previsão”, avalia o coordenador do Cemaden.