O Brasil é o paraíso dos canalhas. Por Paulo Renato Coelho Netto

Por Paulo Renato Coelho Netto

Daqui de tudo se leva, na surdina e nos conchavos, seja dinheiro destinado à saúde pública, seja troféu esportivo. Até a taça Jules Rimet, que o capitão da Seleção Brasileira Carlos Alberto Torres levantou na Cidade do México, no Estádio Azteca, ao conquistar o tricampeonato na Copa do Mundo de 1970, foi furtada do prédio da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), no centro do Rio de Janeiro, na noite 19 de dezembro de 1983. Do peso total de 3,8 quilos, 1,8 era ouro maciço.

O poeta Ferreira Gullar escreveu “que o Brasil parece tão pródigo em corruptos quanto em craques de futebol”.

Do ponto de vista humano, parece inimaginável que exista alguém que tenha coragem de roubar dinheiro público destinado ao combate de uma doença mortal, no auge de uma pandemia mundial.

Os corruptos brasileiros têm. São profissionais do ramo que não perdem uma única oportunidade de agir no submundo do crime em benefício próprio. São extremamente bem relacionados e motivados pela impunidade. Não estão nem aí.

O corrupto brasileiro sabe que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que ir parar na cadeia. Sabe que, se for pego, mesmo em flagrante, com o dinheiro na cueca, será protegido pelos seus pares e, para ficar melhor, sabe que, se for condenado, não vai cumprir pena.

Por fim, sabe que, se for preso, será por pouquíssimo tempo. Quando muito, vai cumprir prisão domiciliar na mansão que construiu ou comprou com dinheiro roubado. O Brasil é o paraíso dos canalhas.

Fosse um animal na savana africana, certamente o dinheiro público brasileiro seria uma indefesa gazela de olhos brilhantes, cercada por vorazes leões e leoas de todos os lados, sempre famintos e prontos a atacar, com garras e presas afiadas, para saciar a insaciável fome doentia do enriquecimento criminoso.

Comparar o corrupto Made in Brazil a animal é, no mínimo, uma ofensa imperdoável a qualquer bicho que voe, suba em paredes, caminhe sobre duas ou quatro patas ou rasteje carregado de peçonha. É um tipo nocivo de psicopata social, sub-humano que exala repulsa e asco por onde passa, extremamente manipulador e incapaz de demonstrar culpa ou remorso pelos crimes em série que comete.

A corrupção está de tal maneira arraigada no cotidiano deste país, que acontece diariamente, de forma tácita, nas perguntas “Não tem como dar um jeito?”, entre o infrator e o fiscal, ou “Com nota ou sem nota?”, entre o contratante e o prestador de serviço.

A opção sem nota (fiscal) é mais lucrativa para ambos. Um deixa de pagar integralmente o imposto, e o outro sai na vantagem por desembolsar menos pelo trabalho. Já o “Não tem como dar um jeito?” tem infinitas variações e possibilidades diárias de uso.