José Nivaldo 100 anos – Bença pai. Por José Nivaldo Junior

José Nivaldo Júnior é jornalista, historiador, advogado, publicitário, membro da Academia Pernambucana de Letras, diretor-geral de O Poder e filho mais velho do Dr. José Nivaldo

Se vivo fosse, o grandioso, não por ser meu pai mas porque foi grande mesmo, Dr. José Nivaldo Barbosa de Souza, estaria completando 100 anos. Nasceu em 26 de maio de 1924, portanto. Na Vila do Cedro, na época ora distrito de Limoeiro (nesse caso, chamava-se Cedro) ora de Bom Jardim, quando mudava o nome para Urucuba. Isso no balanço do prestígio dos coronéis Chico Heráclio, de Limoeiro, ou Oswaldo Lima, de Bom Jardim. Era Limoeiro, em maio de 24.

Meu avô

A história da juventude do meu avô está sublimada no livro do Dr Nivaldo, ‘Noite sem Nome’. O pai de Severino é um mistério. Reza a lenda que morreu no Acre, explorando borracha. Adotado pelo famoso Monsenhor Fabrício, meu avô foi colocado para estudar (e pagar trabalhando) no Seminário de Olinda. Acabou expulso por ter confrontado ricos baderneiros no refeitório. Foi ser cobrador de bondes puxados por burros. Demitido por reprimir baderna de play boys no período junino. A corda arrebenta do lado mais fraco, é lei. Daí foi ser barraqueiro no engenho Terra Vermelha, da família amiga Lapenda, nas imediações do Cedro. Daí, casou com minha avó. Compartilhou o barracão com ela. Prosperou. Abriu uma mercearia no Cedro. Prosperou mais ainda, montou um motor de algodão, as ruínas encontram-se ainda de pé. Daí, tornou-se senhor de dois engenhos, enriqueceu. Graças em parte…

A minha avó

Quem quiser conhecer melhor suas artimanhas, leia o livro ‘O Atestado da Donzela’, primeiro romance do meu pai. Está tudo lá. Vendedora excepcional, econômica grau máximo, empurrou a família para o alto na base da educação de qualidade e trabalho em quantidade. Todos os filhos “deram para gente” como se falava antigamente.
Mesmo depois de sofrer tropeços familiares e muito bem de vida vir morar no Recife para apoiar os filhos na Universidade, D. Yayazinha mantinha hábitos simples. Fazia ela mesma suas roupas e sapatos do dia a dia, fabricava palitos de jurubeba e produzia papel higiênico com papel de embrulho — eu mesmo achava um horror, mas era ela. E seu slogan: O veio do mundo é dinheiro.

Meu pai

Médico, cientista, pecuarista de escol, escritor consagrado em muitas Academias, no Brasil, Europa e África. Pessoa exuberante e contraditória. Humanista de direita. Pacifista que puxou gatilho e não foi para fazer barulho. Nunca feriu ninguém, que eu saiba. Salvou muitas vidas, centenas, milhares. Profundamente religioso, não perdoava fácil os inimigos. Capaz de espancar um filho em reprimenda a trela real ou imaginária e de acolher franciscanamente uma ave ferida.

Não vou falar muito porque Sérgio Gondim, meu irmão médico e articulista primoroso, resumiu bem ontem. Outros depoimentos acontecerão. Amanhã, na Academia Pernambucana de Letras, Alvacir Raposo e Ana Maria César vão falar. Outros darão seus depoimentos. Pretendo republicar aqui em O Poder.

Atestado 2

Quando meu pai deu os primeiros sinais de problemas de saúde, minha mãe já estava mergulhada no maldito Alzheimer. Resolvi fazer uma homenagem inédita: peguei o Atestado e escrevi a continuação, sob as bênçãos dele. Que escreveu um delicioso “Puxão de orelhas”, como orelhas do livro, naturalmente. Onde confessa: “Dei muitos. Não me arrependo de nenhum”.
O lançamento, na Academia, em festa grandiosa presenteada por Marcelo Teixeira e os parceiros da Makplan, foi um momento único para nós dois. E para a família, acredito.

Benção pai

Ele não dispensava a benção. Todos os dias, filhos, sobrinhos, afilhados, quem mais estivesse por perto, tomava a benção. Hoje, mais uma vez, puxo a fila. Atrás, Ricardo, Lucinda, Sérgio, Virgínia, Paulo e Neisinha, e mais os 14 netos e perto de 26 bisnetos, falam em uníssono: benção pai, vô, bisa. De onde estiver, como está bem-humorado hoje, dá a resposta irreverente que não era a mais comum, embora preferida por meu avô: “Deus te abençoe, cabeça de boi”.

E minha mãe

Também centenária, merece um texto só para ela. Fica para outro dia. Por hoje, basta de emoções.