Ataques irracionais a Moro mostram que Ciro Gomes continua politicamente imaturo

Ciro Gomes abala frente de esquerda e volta ao jogo

Ciro chama Moro de “fascista” e diz que ele “vendeu a toga”

Dimitrius Dantas
O Globo

O ex-ministro Ciro Gomes (PDT) afirmou nesta segunda-feira que “lavou a roupa suja” com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na reunião entre os dois no começo de setembro, conforme revelado pelo Globo. Segundo o pedetista, entretanto, os dois não mudaram de opinião em relação a temas da política nacional.

— Tivemos uma conversa muito franca mesmo. Para usar uma expressão popular: lavamos a roupa suja para valer. Sobre o ponto de vista das compreensões da questão brasileira para trás e para frente continuamos como estávamos. Mas a mim me agrada que a gente faça essa política conversando — afirmou.

EM SÃO PAULO – Ciro participou de um evento com candidatos a vereador do PDT em São Paulo. O encontro também marcou um ato de apoio a Márcio França (PSB), apoiado pelo partido na capital paulista.

— Somos ambos muito experientes, muito vividos. O que está em jogo no Brasil é uma disputa de hegemonia. Eu quero que essa hegemonia seja arbitrada pelo conjunto da sociedade brasileira, não em gabinetes, jogadinhas, donos da bola, culto à personalidade. Sobre isso, continuo com a mesma opinião — disse.

Em sua fala, Ciro fez referências às eleições americanas e apontou a necessidade de construção de um campo mais moderado contra Jair Bolsonaro.

UMA GRANDE SURRA – “Parece que o bolsonarismo boçal e o lulopetismo corrompido vão levar uma grande surra no Brasil inteiro. Parece, a preço de hoje. Isso quer dizer que surgiu organicamente um novo campo? Não, quer dizer que o eleitorado brasileiro está banindo esses dois extremos’ — afirmou.

Ao citar as eleições americanas, Ciro destacou que o Partido Democrata não escolheu o candidato mais animador, mas o que tinha chances de vencer. Segundo ele, a esquerda brasileira precisa adotar uma estratégia parecida. Sem citar diretamente o PSOL, o pedetista criticou o que chamou de “turma da lacração”.

— Pode ter alguém mais qualificado que o Marcelo Freixo? Entretanto, o gueto no Rio que cercou o Marcelo Freixo produziu o Bolsonaro, o Witzel e o Crivella. São Paulo não pode entrar nessa — disse, em referência ao candidato Celso Russomanno.

CONTRA MORO – Apesar do discurso de unificação, Ciro afastou qualquer possibilidade de união com Sergio Moro. Neste domingo, a “Folha de S.Paulo” revelou um encontro entre o ex-juiz e o apresentador Luciano Huck.

Em entrevista para a colunista Bela Megale, do GLOBO, Moro confirmou a conversa e disse que “em 2022 devemos ter alternativas não polarizadas”. Segundo ele, há “movimentação de pessoas com perfil de centro que têm conversado”.

Questionado sobre o encontro, entretanto, Ciro refutou o rótulo de centro para o ex-ministro da Justiça do governo Bolsonaro. “O que eu vejo é que a fraude que campeia no Brasil não cede espaço. No dia que Doria, Huck e Moro forem de centro, eu sou de ultra-esquerda” — afirmou.

“VENDIDO A TOGA” – As principais críticas, entretanto, foram focadas no ex-juiz. Ciro chamou Moro de fascista e afirmou que ele teria “vendido a toga”.

— Vendeu a toga, prendeu um adversário político, tirou o adversário político da eleição e em seguida aceitou ser ministro do que ganhou a eleição. Isso é uma lesão ética que para mim transforma o Moro num grande malandro.

Segundo Ciro, o único que teria legitimidade seria Doria. Contudo, o pedetista disse que nenhum deles poderia se apresentar como um candidato de centro. “Eu vou enfrentá-los. Agora, se apresentar de centro não vai não. Na minha frente, não vai” — disse.