A procissão marcou o início de três dias de luto por Soleimani, decretados na sexta-feira pelo líder supremo do Irã, Ali Khamenei. O corpo do general de 62 anos, que comandava as Forças Quds, unidade de elite da Guarda Revolucionária iraniana que coordenava os grupos aliados do Irã em países como Síria e Iraque, foi levado depois para as cidades iraquianas de Karbala e Najaf, locais de peregrinação dos muçulmanos xiitas. De lá, neste domingo, vai para Mashhad, no Irã, onde haverá um serviço fúnebre. O enterro, segundo a agência iraniana Tasnim, será na segunda-feira na cidade natal de Soleimani, Kerman.

À noite, depois do cortejo, um foguete do tipo katyusha, de curto alcance, caiu na Zona Verde de alta segurança em Bagdá, onde ficam prédios do governo e a embaixada americana, sem causar vítimas. O projétil aterrissou na Praça da Celebração, perto da missão dos EUA. Outro foguete caiu no bairro de Jadriya e mais dois na base aérea de Balad, no norte da cidade, segundo uma nota das Forças Armadas iraquianas. Não houve feridos e os autores  dos ataques não foram identificados.

A multidão em Bagdá também estava de luto pela morte de Abu Mahdi al-Muhandis, morto na mesma operação dos Estados Unidos. O iraquiano era vice-comandante das FMP, formadas em 2014 para combater o Estado Islâmico no Iraque e que depois foram incorporadas às forças de segurança do país. Muhandis havia ido ao aeroporto para receber Soleimani, que chegava de Damasco, na Síria. Antes, segundo o site Middle East Eye, o general iraniano estivera em Beirute, onde se reunira com o líder do movimento xiita Hezbollah, Nassan Nasrallah.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, alegou que os assassinatos foram uma operação preventiva, acusando Soleimani de estar preparando ataques a alvos americanos na região. Trump também acusou o comandante iraniano e as FMP de orquestrarem a tentativa de invasão à embaixada americana em Bagdá, na terça-feira, dia 31 de dezembro. A tentativa de invasão foi uma retaliação a ataques americanos que no domingo, 29, matou 25 milicianos de um grupo das FMP, o Kataib Hezbollah.

Neste sábado, o Kataib Hezbollah advertiu os militares iraquianos para ficar a ao menos um quilômetro de distância das bases americanas no Iraque a partir deste domingo.

O Irã, por sua vez, denunciou na sexta-feira um “ato criminoso”, de “terrorismo de Estado”, e prometeu retaliação. Ainda na sexta, milhares de pessoas foram às ruas de Teerã e outras cidades iranianas para homenagear Soleimani, considerado um herói nacional.

O cortejo fúnebre em Bagdá deixou o distrito de Kadhimiya em direção à Zona Verde, onde há prédios e embaixadas do governo. O cortejo serpenteava pelas ruas, com pessoas carregando retratos de Soleimani e do aiatolá Ali Khamenei.

As pessoas em luto incluíram membros da milícia em uniforme para quem Muhandis e Soleimani eram heróis. Eles carregaram retratos de ambos, colocaram-nos nas paredes e em veículos blindados, e gritaram “Morte à América” e “Israel, não, não”.

Apesar da homenagem maciça, grupos de iraquianos também comemoraram, nas ruas de Bagdá, a notícia da morte de Soleimani. Ele foi acusado de orquestrar a repressão violenta aos protestos contra a corrupção política, contra o desemprego e por melhores serviços públicos que vêm ocorrendo no país desde outubro.

Onda de reações

Entre as reações que sucederam o ataque, o Papa Francisco divulgou um pedido de paz e a China pediu ao EUA que “não abusem da força”. Já a Otan , a aliança militar ocidental, suspendeu, neste sábado, um programa de treinamento das forças de segurança do Iraque.

— A segurança de nosso pessoal no Iraque é fundamental — disse o porta-voz interino da Otan, Dylan White. — Continuamos a tomar todas as precauções necessárias. A missão da Otan continua, mas as atividades de treinamento estão temporariamente suspensas.

A tensão entre os Estados Unidos e o Irã vem aumentando desde que Washington abandonou o acordo nuclear assinado em 2015 entre Teerã e as principais potências globais, e voltou a impor sanções que vêm estrangulando a economia iraniana.

A embaixada dos EUA em Bagdá pediu que cidadãos americanos deixem o Iraque, após o ataque que matou Soleimani. Dúzias de funcionários americanos de empresas de petróleo deixaram a cidade de Bosra, no sul do país, na sexta-feira.

O Globo e agências internacionais