Carlos Newton
A informação de que o ministro Bruno Dantas, do Tribunal de Contas da União, determinou que o ministro da Economia, Paulo Guedes, responda em 24 horas se o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) está analisando as movimentações financeiras do jornalista Glenn Greenwald é uma prova da esculhambação institucional que reina no país.
CÓPIA DO PROCESSO – O ministro Bruno Dantas fez idêntico pedido ao Coaf, exigindo que seja enviada ao TCU uma cópia do processo, se ele existir, e os fundamentos de uma eventual análise do caso.
A solicitação partiu do procurador Lucas Furtado, sob alegação de que uma eventual análise das contas do jornalista pelo Coaf seria uma “retaliação à divulgação de mensagens”. Logo, um “flagrante desvio de finalidade”, e com uso de recursos públiocs.
DIZ O MP – “Pelo teor das notícias jornalísticas [que noticiam o pedido de investigação das contas de Greenwald], a finalidade concreta da atuação, neste caso, pelo Coaf seria, aparentemente, constranger o jornalista Glenn Greenwald e fragilizar a liberdade de imprensa garantida constitucionalmente em nosso país”, aponta Furtado.
Dessa forma, o procurador pede que o TCU apure a “ocorrência de ilegalidades” relacionadas a Glenn Greenwald, alegando que uma eventual investigação seria uma tentativa de retaliação a Greenwald. Ele é um dos fundadores do site The Intercept Brasil, que está divulgando supostas mensagens de Sergio Moro com os procuradores da Operação Lava Jato.
CITANDO RENAN – O mais curioso da petição do procurador Lucas Furtado é que ele diz se basear numa entrevista transmitida pela TV, em que o senador Renan Calheiros (MDB-AL), um dos políticos notoriamente mais corruptos do país, manifesta sua preocupação com a liberdade da imprensa.
“É preocupante a possibilidade de dois órgãos públicos, Coaf e Polícia Federal, possam estar sendo manipulados para intimidar jornalistas e ameaçar a liberdade de imprensa. Se for verdade, Moro acrescenta problemas muito graves à pilha de ilegalidades já exposta. É o caso do típico desprezo repugnante à democracia, às leis e pode caracterizar obstrução da investigação do escândalo que envolve o próprio ministro. A Polícia Federal e o Coaf não podem permitir isso”, alegou o imaculado Renan no vídeo citado como argumento pelo procurador.
VIROU PIADA – Como o Brasil é o país da piada pronta, não se pode levar a sério o procurador, nem o ministro do TCU nem o senador Renan, por vários motivos.
- Não cabe à Procuradoria de Contas fiscalizar o que faz o Coaf, porque o próprio TCU não tem essa atribuição.
- O ministro deu 24 horas ao ministro Guedes para responder. E o prazo conta a partir desta segunda-feira, quando for recebida a intimação. E daí? Se Guedes não responder, o que acontecerá? Nada. Guedes não e subordinado ao Tribunal de Contas, que é um órgão do Poder Legislativo. Não tem a menor obrigação de obedecer ordem do TCU.
- Além disso, Guedes não tem ascendência sobre a Polícia Federal e não pode interferir nem divulgar investigação em curso.
- A Polícia Federal tem direito de requisitar dados ao Coaf, sempre que surgir necessidade, como é caso, pois é preciso saber se o jornalista Glenn Greenwald foi “contratado” para destruir a Lava Jato, libertar Lula, Cunha, Dirceu etc. e impedir a prisão de Temer, Aécio, Renan. Jucá, Moreira, Padilha e tutti quanti.
- Nessa confusão, qualquer personagem que surgir querendo proteger os corruptos e destruir a Lava Jato, seja por que motivo for, tem de ser enquadrado no rol dos suspeitos.