Ao demitir Joaquim Levy do BNDES, Bolsonaro demonstra intolerância política

Pedido é feito um dia após Levy ser alvo de duras críticas de Bolsonaro, que disse estar ‘por aqui’ com Levy e que ele estava ‘com a cabeça a prêmio’

Joaquim Levy pede demissão do BNDES
Levy enviou carta de demissão a Paulo Guedes neste domingo, 16 (Foto: Fabio Pozzebom/ABr)

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Joaquim Levy, enviou neste domingo, 16, uma carta ao ministro da Economia, Paulo Guedes, pedindo demissão do cargo.

Segundo informou o portal Uol, a medida foi tomada um dia após Levy ser alvo de duras críticas do presidente Jair Bolsonaro por ter nomeado o advogado Marcos Barbosa Pinto para o cargo de diretor de Mercado de Capitais do BNDES.

No último sábado, 15, durante uma entrevista a repórteres logo ao sair do Palácio da Alvorada, em Brasília, para seguir para Santa Maria (RS), onde participaria de uma cerimônia militar, Bolsonaro disse “estar por aqui” com Levy e afirmou que o diretor do BNDES estava “com a cabeça a prêmio”.

“Levy nomeou Marcos Pinto para função no BNDES. Já estou por aqui com o Levy. Falei para ele: Levy, demite esse cara na segunda [17] ou eu demito você, sem passar pelo Guedes. Levy está com a cabeça a prêmio há algum tempo”, disse o presidente. Questionado por uma repórter se estava demitindo publicamente o presidente do BNDES, Bolsonaro negou e respondeu: “Você tem problema de audição?”.

Horas após a declaração de Bolsonaro, Marcos Barbosa Pinto pediu demissão do cargo antes mesmo de assumir – ele tomou posse na última quarta-feira, 12, e começaria a trabalhar na próxima segunda-feira, 17.

O cerne da aversão de Bolsonaro a Marcos Pinto é o fato de o advogado já ter prestado serviço ao BNDES em governos do PT.

Doutor em Direito pela Universidade de São Paulo (USP), Marcos Pinto tem mestrado na área pela Universidade de Yale. Ele também é mestre em Economia e Finanças pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e foi pesquisador visitante da Universidade de Columbia, entre 2006 e 2007.

Marcos Pinto foi assessor da diretoria e chefe do gabinete da presidência do BNDES entre 2005 e 2006, durante o governo Lula. Em seguida, se tornou o mais jovem diretor da Comissão de Valores Mobiliários, cargo no qual permaneceu até 2010.

Dentre suas contribuições nas gestões do PT está o auxílio a Fernando Haddad – na época ministro da Educação – na formatação de Parcerias Públicos Privadas (PPPs) e na criação do Prouni – programa que oferece bolsas estudantis a estudantes de baixa renda.

O próprio Levy já atuou em gestão do PT, em 2015, quando foi alçado ao cargo de ministro da Fazenda do governo Dilma Rousseff. Sua passagem pela gestão da ex-presidente, no entanto, foi crítica.

Economista ortodoxo, com doutorado pela Universidade de Chicago – instituição referência do pensamento liberal – ele assumiu o posto com uma tarefa praticamente impossível: conter o aumento da dívida num momento que o país estava às portas da recessão econômica. Na época, ele defendeu que só a austeridade poderia conter o crescimento da dívida do Brasil, restaurar a credibilidade do país com os investidores, reduzir a inflação e evitar novos aumentos na taxa de juros. Por conta de suas propostas, Levy acabou ganhando o apelido de “mãos de tesoura”, em referência aos cortes de gastos que impunha para reduzir o déficit nas contas públicas.

Porém, suas medidas contavam com forte oposição da presidente. Isso porque, embora apontassem na direção correta, as medidas sugeridas eram consideradas intragáveis politicamente, num momento em que a popularidade de Dilma atingia baixas históricas.

Diante do impasse, Levy deixou o cargo em dezembro de 2015. Um mês depois, ele assumiu a diretoria do Banco Mundial.

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