Os Glaciares da Patagônia estão em perigo

O Parque Nacional Los Glaciares é um orgulho da Argentina e possui algumas das maiores geleiras do planeta. Mas, segundo cientistas internacionais, seu futuro é desalentador. Eles afirmam que, se as emissões de gases de efeito estufa continuarem no ritmo atual, a perda de gelo será tão grande que as geleiras poderiam desaparecer ou perder 60% do volume atual até 2100.

Esse é um dos resultados do primeiro estudo global realizado sobre as geleiras que foram declaradas Patrimônio Mundial pela Unesco. O estudo também conclui que quase metade das geleiras incluídas nessa lista pode chegar a desaparecer completamente no próximo século.

O informe – publicado no periódico Earth’s Future – foi realizado pela União Geofísica Americana (AGU, em sua sigla em inglês) junto com cientistas da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), com sede na Suíça e que assessora a ONU em assuntos de meio ambiente.

Os pesquisadores combinaram dados de um inventário global de geleiras, com uma revisão da literatura existente e um sofisticado modelo por computador. Documentaram ao todo cerca de 19.000 geleiras, 9% das que existem no planeta.

Os autores afirmaram que durante as últimas décadas ocorreram altas emissões de gases que provocam aquecimento global. Eles estimam que, se esta situação continuar, até 2100 as geleiras terão desaparecido completamente em 21 dos 46 sítios incluídos na lista da Unesco.

Mesmo sob uma perspectiva mais otimista, na qual as emissões de gases de efeito estufa diminuíssem significativamente (respeitando os objetivos do Acordo de Paris sobre o clima), o estudo considera que oito desses 46 sítios estarão sem gelo nessa data.

A previsão também indica que 33% a 60% do volume total de gelo registrado em 2017 nos sítios listados no Patrimônio Mundial desaparecerão até 2100. A porcentagem exata dependerá da evolução das emissões de gases de efeito estufa.

As reservas que estão em risco 

Entre as geleiras que correm perigo estão algumas das mais emblemáticas do mundo, como a grande geleira de Aletsch nos Alpes suíços, a de Khumbu no Himalaia (Nepal) e a geleira Jakobshavn na Groenlândia.

O Parque Nacional Los Glaciares, na Argentina, possui algumas das maiores geleiras da Terra, por isso faz parte do Patrimônio Mundial da Unesco. Dos 46 lugares listados no estudo, apenas cinco entram nessa categoria.

O comunicado difundido pela IUCN afirma que “uma perda de gelo muito grande, cerca 60% do volume atual, está prevista até 2100” dentro do parque que fica na província de Santa Cruz e que inclui a famosa Geleira Perito Moreno.

Na América do Norte, o Parque internacional da Paz Waterton-Glacier, na fronteira entre o Canadá e os Estados Unidos, os parques das Montanhas Rochosas Canadenses e o Parque Nacional Olympic nos Estados Unidos poderiam perder mais de 70% de suas geleiras atuais até 2100, mesmo havendo uma redução drástica das emissões de dióxido de carbono.

Na Europa, a projeção é que pequenas geleiras no Parque Nacional de Monte Perdido no Pireneus (Espanha e França) desaparecerão antes de 2040.

Na Nova Zelândia, segundo o estudo, a geleira Te Wahipounamu perderá 25% a 80% do volume atual de gelo ao longo deste século.

Como evitar o declínio

Os autores do estudo enfatizam o papel fundamental das geleiras para os ecossistemas e para as sociedades globalmente. Portanto, sua conservação poderia servir como um disparador para abordar o problema da mudança climática.

“Perder essas geleiras seria uma tragédia e acarretaria graves consequências sobre a disponibilidade dos recursos hídricos, o aumento do nível do mar e os padrões climáticos”, disse Peter Shadie, diretor do Programa do Patrimônio Mundial na IUCN, em um comunicado.

“Essa diminuição sem precedentes também poderia colocar em perigo a inclusão dos sítios em questão na lista do Patrimônio Mundial. Os países devem reforçar seus compromissos para combater a mudança climática e aumentar os esforços para preservar essas geleiras para as futuras gerações”, afirmou Shadie.

Jean-Baptiste Bosson, principal autor do estudo, afirmou que para preservar as geleiras “necessitamos realizar de forma urgente grandes reduções na emissão de gases de efeito estufa”. Só assim será possível evitar danos irreversíveis “que poderiam acarretar graves consequências naturais, sociais, econômicas e migratórias”.

(  ….(FILES) This file photo taken on March 12, 2018 shows a view of the Perito Moreno glacier, at Parque Nacional Los Glaciares near El Calafate, in the Argentine province of Santa Cruz. (Photo by WALTER DIAZ / AFP) santa cruz glaciar perito moreno…)

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