Design Gráfico: profissão que vai além de ‘meras’ ferramentas

No Dia Mundial do Design Gráfico, celebrado neste 27 de abril, profissionais falam sobre a importância da profissão

Peça da designer Aurora Jamelo

Peça da designer Aurora JameloFoto: Divulgação
Por: Germana Macambira

Antes de seguir adiante com os olhos nestas linhas, caro leitor, sugiro um percurso pelas páginas da edição impressa da Folha de Pernambuco. Tem um livro próximo por aí? Um vinil, um CD (capa, encarte), também servem. Aliás, pode ser qualquer objeto com estamparias e letras desenhadas, “tipo” aquela caneca que você toma café e, inclusive, já pode ir pegá-la para acompanhar a leitura a seguir, que se deterá ao Dia Mundial do Design Gráfico, celebrado neste sábado.

“A importância do design vai muito além de ferramentas gráficas e de redes, envolve conceito, forma. Compreendo a profissão como algo abrangente, de visão conectada com projetos, relações de inclusão do usuário final e mediações proporcionadas pelo profissional quando desenvolve e concebe ideias para produtos e/ou experiências”, ressalta Zzui Ferreira, designer gráfica pernambucana, pesquisadora e atuante em aulas e oficinas de design social.

De fato. Como segmento do design visual, o design gráfico é sinônimo de comunicação através de imagens, ilustrações e textos, entre outras ideias, fundidas em um trabalho final e que deve dialogar harmoniosamente, facilitando leituras e entendimentos de produtos como acontece, por exemplo, em jornais impressos. “Infelizmente nem todos os setores da sociedade conseguem dimensionar a importância do designer como articulador para solução de problemas”, lamenta Hans da Nóbrega Waechter, professor de design da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), com doutorado na área.

E a profissão também ganha peso quando direcionada a concepções sociais, como um dos projetos Zzui Ferreira, “Ocupação, Estamparia e Grafismos Kapinawá” – contemplado pelo Funcultura e que tem como mote grafismos indígenas, temática estudada em seu mestrado na UFPE, que envolve proposições entrelaçadas entre tecnologia a linguagens artísticas/afetivas. Um fato que tem impulsionado o profissional que segue pelo viés do design autoral.

“É preciso estar em conexão com todas as expressões. O mercado sempre ditou regras de tendências, mas agora ele (o mercado) deseja estilos criados nas ruas, tenta se adequar a questionamentos e posições políticas. E é esta minha preferência, com uma perspectiva mais otimista de ao invés de tê-lo como regente, podermos envolvê-lo nisso”, complementa a designer.

Novos olhares 
Para Hans Waecthter é a partir do viés da sustentabilidade, da indústria criativa e do consumo responsável que a sociedade contemporânea tem seguido tendências do movimento maker, ou seja, do “faça você mesmo”. “O recicle, reaproveite, reuse e resignifique, tem ganhado muita força, assim como o setor de serviços no design que propõe o uso e não posse. O ‘designer não especialista pode criar seus próprios produtos através de impressoras 3D e cortadoras a laser, por exemplo”, comenta o professor, que também enfatiza o surgimento de uma independência do design editorial, em projetos de livros, revistas e jornais.

“As editoras independentes atendem a uma tendência do design autoral, inclusive com a tradução de livros estrangeiros que abordam novas possibilidades. São editoras que circulam fora do circuito comercial, investem no design e nos recursos de produção gráfica, criando obras únicas”, completa.

Esse novos olhares para a profissão também são corroborados pela designer Aurora Jamelo. Autodeclarada indígena-quilombola, periférica e travesti, a artista, além de atuar na seara social, recebe bem o viés do design autoral, considerado por ela como “pequenos nomes que são muitos”. “Há uma produção autoral mais próxima das pessoas, tomando visibilidade maior em comparação, até, com nomes e empresas de peso, com produção automatizada”, reforça Aurora, que atua em um espaço de tecnologia como designer freelancer.

Da mesma forma Marcos Buccini, com formação em design embora há algum tempo dedicado ao cinema de animação e a lecionar (é professor da UFPE, no campus de Caruaru), sugere que designers têm que manter pensamentos e estéticas próprias dentro de produtos. “Por mais que se afirme que o principal é o produto, o profissional sempre vai colocar um pouco dele no trabalho”, ressalta, citando como referência, o conhecido David Carlson. “Ele tem um currículo mais underground, construiu sua imagem”, complementa.

Profissão: Design
Uma profissão em formação constante e com “muitas caras”, pelo menos na época em que era confundida com outras linguagens como a arquitetura por exemplo, isso lá pela década de 1950. Mas nos dias atuais as “faces” do design comportam, no máximo, extensões: design visual, design de comunicação e design gráfico são algumas delas. A esta última é a quem especificamente é dedicado o dia de hoje.

E de uma forma geral, vale ressaltar a importância do designer pernambucano Aloísio Magalhães (1927-1982) e o seu “toque” de modernismo à profissão, inclusive para a fundação da Escola Superior de Desenho Industrial da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (fundada em 1962), a primeira do país. A

o lado de José Laurênio de Melo, Gastão de Holanda e Orlando da Costa Ferreira, que conhecera na Faculdade de Direito, Aloisio fundou O Gráfico Amador, espécie de ateliê gráfico e editora experimental, em 1954. O grupo teve um papel importante nas origens da moderna tipografia brasileira.

Além dele, ainda pelas bandas de Pernambuco, são muitos os nomes (de peso) que podem ser destacados, além dos já citados, e que conduzem a profissão e as suas tantas possibilidades. “Faz tempo que ouço sobre a dispensabilidade do designer”, ironiza Marcos Buccini. “Dispensável é o/a designer só criar conceitos e produtos descartáveis e efêmeros”, reforça Zzui Ferreira. Cá pra nós, leitor? Tão substancial quanto assinar estas linhas, é visualizar ao longo das páginas em que se desdobra esta matéria, o trabalho de comunicação desses profissionais.

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