Fogo na Notre Dame foi previsto pelo escritor Victor Hugo

Na obra ‘O Corcunda de Notre Dame’ o escritor alertou que chegaria ‘um momento em que Notre Dame assistiria a um incêndio’

Fogo na Notre Dame foi previsto pelo escritor Victor Hugo
Na trama, protagonizada, o escritor alertou para a necessidade de restaurar a igreja (Foto: Twitter/Anne Hidalgo)

Claudio Carneiro

Um dos mais notórios moradores de Paris alertou há 188 anos – em 1831 – para os riscos de um incêndio na catedral de Notre Dame. Exatamente um ano antes de habitar um sombrio apartamento na Place de Vosges – onde viveria por 16 anos até sua morte em 1848 –, o escritor Victor Hugo escreveu a obra de 940 páginas intitulada “O Corcunda de Notre Dame”.

Na trama, protagonizada por Quasímodo e Esmeralda, o escritor alertou para a necessidade de restaurar a igreja e que chegaria “um momento em que Notre Dame assistiria a um incêndio”, retratado, aliás, num desenho animado da Disney, em vários pontos da Cidade Luz quando Quasímodo luta para salvar sua amada.

Debeladas as chamas, agora se sabe que a reconstrução da catedral é possível e que diversos objetos, como a coroa de espinhos – com a qual Jesus Cristo teria sido coroado antes de ser crucificado – e a túnica de São Luís, duas das relíquias mais importantes da Notre Dame, estão salvas, conforme relatou o monsenhor Patrick Chauvet.

Como outras obras foram tragicamente destruídas

Ao longo da História, incêndios destruíram obras de valor inestimável. Em 1958, por exemplo, o Museu de Nova York de Arte Moderna (MoMA) viu o fogo destruir “Flor de Lótus”, pintada por Claude Monet – adquirida um ano antes. Tudo aconteceu porque um dos operários que instalavam um sistema de ar condicionado resolveu acender um cigarrinho em meio a latas de tinta e serragem.

Mesmo destino teve ”O pintor e sua maneira de trabalhar” – um autorretrato do holandês Vincent Van Gogh, de 1888 -, que acabou consumido durante a Segunda Guerra Mundial, quando o Museu Kaiser Friedrich, em Berlim, foi incendiado. Aos nazistas é atribuída a destruição de 14 telas do austríaco Gustav Klimt ao atearem fogo ao Museu Immendorf Schloss, em 1945.

Destino igualmente trágico foi reservado para “O pintor”, do espanhol Pablo Picasso, avaliado em US$ 1,5 milhão e que se perdeu num acidente aéreo da Swissair, em 1998, no Canadá, no qual morreram 229 passageiros. A Clementine Ogilvy Spencer-Churchill é atribuída a destruição completa, em 1954, de uma tela em corpo inteiro do marido, Winston Churchill. A obra foi pintada por Graham Sutherland por ocasião dos 80 anos do primeiro-ministro do Reino Unido. Tudo indica que ela detestou o quadro do pintor modernista. E o marido também. Mas o ataque somente foi revelado depois que ela morreu, em 1977.

Os habitantes do Rio de Janeiro ainda se lembram do incêndio que destruiu o Museu Nacional – e seu acervo, que incluía telas de Debret e um gravador, fabricado por Thomas Edson, – na noite de 2 de setembro do ano passado. Muitos deles, no entanto, talvez não saibam que, no dia 8 de julho de 1978, mais de mil obras de artistas renomados – entre eles Di Cavalcanti, Matisse, Miró, Picasso, Portinari e Salvador Dalí – foram incineradas em outro incêndio que levou à reconstrução quase que total do MAM. O fogo faz arderem grandes obras, mas não consome lembranças.

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