No impeachment, não há sinceridade nem prorrogação

Por Leandro Colon

Nas palavras de um líder no Congresso, o governo hoje segura o resultado, põe o time na retranca e ataca sempre que pode.

Ao mesmo tempo, oposição e dissidentes da base governista vão levantar bola na área adversária, sob pressão, até os 45 minutos do segundo tempo, com chances cada vez mais reais de gol.

Palpite não falta, mas na tarde de ontem, nos corredores da comissão do impeachment na Câmara, coincidiam alguns cálculos de deputados pró e anti-Dilma Rousseff: entre 320 e 330 votos pelo afastamento dela e de 170 a 180 contrários –com uma pequena margem de indecisos. A regra exige o mínimo de 342 votos (dois terços da Casa) para autorizar a abertura do processo.

O problema é que sinceridade, entre outras virtudes, é um comportamento raro no Congresso e não se compra pelo valor de face o discurso de muitos dos que já manifestaram o voto contra ou a favor do impeachment.

Uma lição que sempre vale a pena ser lembrada é a do dia 12 de setembro de 2007. Naquela histórica quarta-feira, o Senado se reuniu para julgar o mandato do seu então presidente, Renan Calheiros (PMDB-AL).

Na véspera, 41 senadores afirmaram publicamente que votariam para cassar o mandato do senador alagoano. Era o placar mínimo para derrotá-lo.

No final, foram 35 votos contra Renan, 40 a favor e seis abstenções. O peemedebista, na época acusado de usar um lobista para bancar despesas pessoais, foi absolvido pelos pares.

Comprovou-se de fato que alguns senadores mentiram descaradamente antes da votação ou, para sermos mais ingênuos, mudaram de consciência na última hora.

Embora os senadores estivessem protegidos pelo sigilo da sessão e do voto, regra esdrúxula que vigorava para julgamentos de mandato, o episódio de 2007 reforça a cautela necessária com qualquer estimativa de votação que trate do futuro de um parlamentar ou de um governo, como é o caso do impeachment de Dilma.

Ao contrário da votação que salvou Renan, o afastamento da presidente da República é decidido pelo voto aberto, o que aumenta a exposição do deputado e restringe seu espaço para mentir (ou blefar) ao adotar antecipadamente uma posição.

Se a votação fosse hoje, Dilma teria boas chances de se manter no Palácio do Planalto. Mas aí reside o problema para ela: o julgamento não é hoje. Faltam alguns dias para o plenário decidir seu futuro e uma ligeira margem de 5% de traição já poderia derrotá-la. Dilma estaria no limite da salvação.

O balcão de negociação de cargos montado pelo ex-presidente Lula (o ministro que não é ministro) em Brasília pode até estancar dissidências da base aliada, apesar de movimentos contrários cada vez mais escancarados de partidos como PR e PP.

O desafio petista é não tomar gol até os 45 minutos da segunda etapa, principalmente porque no jogo do impeachment na Câmara não haverá prorrogação.

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