Há muito se sustenta o mito de que o povo brasileiro é pacífico. A exaltação desta virtude é alimentada há anos, sobretudo pelos políticos, intelectuais e artistas. Alguns brasileiros, genuinamente sensatos, até se sentem honrados por pertencerem à uma nação tão pacífica.
Enquanto muitos preferem destacar esta caraterística, algumas outras, tão ou mais marcantes, costumam ser negligenciadas por diversos setores da sociedade. Neste caso, não seria aconselhável confundir pacifismo com passividade, docilidade, comodidade, conveniência ou até mesmo com a covardia de boa parte da população.
De fato, não há como realizar um estudo mais apurado sobre o predomínio de uma ou outra característica, dada a diversidade sócio cultural e econômica da população. O objetivo deste artigo é tentar realçar apenas uma das facetas que permanece camuflada por este frágil verniz de povo pacífico e civilizado: a covardia.
O Brasil é o país mais violento do mundo em números absolutos em todos os aspectos e o sétimo em índices proporcionais. Aqui se mata, se espanca e se estupra mais que a soma de muitos países juntos. No ano passado ocorreram 58 mil crimes de estupros e quase o mesmo número em homicídios.
Embora presente em todos os segmentos da sociedade, esta realidade é ampliada nas periferias, comunidades carentes e entre pessoas de baixo grau de instrução e renda. Diante do fato de que no Brasil se mata, se estupra e se agride mais que em qualquer lugar do mundo, deduz-se que há no Brasil, proporcionalmente e em números absolutos, mais gente violenta e covarde que em qualquer lugar do mundo,
Imagem referente à pesquisa “mulher assassinada” no Google Imagens
A covardia se manifesta de formas diferentes em boa parte dos indivíduos. Enquanto agem de forma violenta contra os mais frágeis ou indefesos, seja um animal, criança, mulher ou através do emprego de armas letais, o covarde se revela repentinamente amistoso e recua diante do mais forte. A covardia da sociedade em relação à violência pode ser atribuída tanto para os que a praticam quanto para os que se calam diante dela.
A covardia da sociedade se revela ainda através da falta de capacidade de reação diante da injustiça. Boa parte dos indivíduos toleram de forma bastante pacífica os desmandos dos governantes do país.
A passividade e a indiferença em relação à estes dados também é uma forma de covardia. Quanto menos violento o país, mais a população cobra das autoridades. Veja o exemplo abaixo:
Enquanto a taxa de homicídios na França é de 0,8 para a cada 100 mil habitantes, no Brasil é maior que 25. Entre os jovens, na França o índice permanece inalterado, ficando nos mesmos 0,8. No Brasil, este número sobre para quase 55, para a cada 100 mil habitantes.
No Brasil se mata 6,2 vezes mais que na Argentina. Entretanto, o povo de lá não se curva aos abusos propostos pelo governo e lotam as ruas para barrar medidas consideradas injustas. Não se acovardam diante da injustiça e ganância do Estado.
O fato é que, quanto mais civilizada é uma sociedade, maior a consciência do cidadão sobre seus direitos e deveres, bem como a percepção dos deveres do Estado. Há maior intolerância em relação à violência, maior rigor quanto ao respeito mútuo e maior união da população para pressionar o Estado.
Nenhuma população civilizada iria tolerar reajustes de até 120% na conta de energia, o injusto aumento dos combustíveis, corte nas verbas da educação e saúde, e até mesmo corte nos direitos trabalhistas para cobrir rombos causados pela corrupção, que penaliza o povo e protege os interesses dos bancos, empresários e meios de comunicação.
No Brasil, parte significativa da população permanece de braços cruzados diante da violência contra seus pares, assim como não esboça nenhuma reação diante dos desmandos do governo. De modo geral, não se trata de um povo pacífico, mas sim covarde.