Por Elton Simões

O tempo, distorcido pela memoria, às vezes entrega fantasia, disfarçada de ilusão. Outras vezes, entrega ilusão travestida de fantasia. Na mente humana, alguns dias podem parecer séculos.

Seja lá como for já vai distante o eco da torcida. Já se foram os estrangeiros. Seleções não desfilam mais. Os estádios, em sua maioria, na ausência de publico, dormem silenciosos. A festa, por ser leve, passou.

A realidade, concreta que é, pousa como grãos de poeira, e vai cobrindo tudo. Lenta, mas certamente. É hora de olhar para o futuro, de escolher, de optar. É tempo de prestar atenção nas eleições. Viver, afinal de contas, ainda é melhor que sonhar.

Parece existir um consenso de que as coisas não vão bem. Que precisa mudar. Não se discute o diagnostico. Ele parece claro. O novo parece dizer as pesquisas, é bem-vindo e necessário.

O que falta é o remédio. Ou melhor, falta discutir e escolher os remédios e o tratamento. Coisa difícil. Especialmente em um ambiente em que as opções são escassas, e as existentes obscuras.

Por traz de cada jingle em ritmos nordestinos, parece haver um vazio. Vazio de ideias. Vazio de novidades. Vazio de projeto. Vazio de plano. Vazio de programa. Um deserto de propostas.

É neste vácuo de novidades que o anseio e desafio de mudar são enfrentados. Ano sim, ano não, o eleitor escolhe entre as opções listadas na cédula. Ano sim, ano não, as opções parecem cada vez mais difíceis. E as ideias, frequentemente, cada vez mais incertas ou velhas.

Mesmo assim, votar vale a pena. Mantem acesa a possibilidade de, ainda que lentamente, mudar para melhor, evoluir. Ou no mínimo aprender com a repetição do ritual eleitoral. A cada eleição, se aprende um pouco. Existe a chance de corrigir erros passados. Eleição é o triunfo da esperança sobre a frustração. E por isso vale a pena.

Elton Simões mora no Canadá. Formado em Direito (PUC); Administração de Empresas (FGV); MBA (INSEAD), com Mestrado em Resolução de Conflitos (University of Victoria).