Aguinaldo Silva: “Nunca disse que sou contra o beijo gay”

 

Autor de Roque santeiro, Fina estampa e Senhora do destino assina a trama que terá José Mayer, Nanda Costa, Vanessa Giácomo e Marina Ruy Barbosa no elenco

Diario de Pernambuco

 

Foto: TV Globo/Divulgação (TV Globo/Divulgação)
Foto: TV Globo/Divulgação

Se reclamaram de sisudez na novela Em família, de Manoel Carlos, Império pode satisfazer o público saudoso por comicidade em telenovelas. Até nas cenas mais complexas, o humor é uma característica forte nas tramas de Aguinaldo Silva, autor do folhetim que estreia nesta segunda-feira, às 21h, na TV Globo. Nascido em Carpina – Zona da Mata Norte de Pernambuco -, o escritor de 71 anos tem a virtude de todas as suas novelas serem exibidas no horário nobre, como Roque santeiro (1985),Senhora do destino (2004) e Fina estampa (2011).

Aguinaldo não teme desafios. Percorrendo caminho contrário ao adotado por outras produções – Amor à vida e Em famíliadefendiam a autonomia de assumir a homossexualidade -, Império traz o ator José Mayer, – símbolo sexual da TV brasileira -, vivendo um gay enrustido, casado e com filhos. A trama abordará o direito de um homossexual não se assumir. Também deve “alfinetar” a indústria de sites e revistas de fofoca, em que o bloqueiro gay, interpretado por Paulo Betti, revela o segredo íntimo.

Usuário assíduo do Twitter, o escritor aproveita o espaço na internet para emitir opiniões de conteúdos diversos – algumas polêmicas -, seja para ironizar o “apagão” da Seleção Brasileira no Mundial, se posicionar contra a onda de manifestações deflagrada no ano passado ou discordar da exibição de beijo gay na televisão. Em entrevista ao Viver, Aguinaldo nega ser contra o beijo gay em telenovelas, apesar de aparentar em comentários publicados nas redes sociais.

Entrevista >> Aguinaldo Silva

“Não falta originalidade na TV”

Lília Cabral e Alexandre Nero são os protagonistas do novo folhetim de Aguinaldo  - Foto: TV Globo/Divulgação (TV Globo/Divulgação)
Lília Cabral e Alexandre Nero são os protagonistas do novo folhetim de Aguinaldo – Foto: TV Globo/Divulgação

  A audiência das novelas do horário nobre apresenta queda significativa, se compararmos com os números da década de 1980 e 1990. Você acredita que o formato está desgastado?
Não acredito que o formato esteja desgastado e acho que as pessoas ainda gostam de consumir – e muito – este tipo de entretenimento audiovisual. O que acredito que esteja mudando nos últimos anos seja a maneira de consumir as novelas, os filmes e as minisséries. Atualmente as diversas plataformas de exibição, assim como a diversidade de opções de programação, nos permitem escolher o que ver e em qual horário ver. Essas questões, assim como outras, influenciam nos índices do Ibope, naturalmente. O comportamento do telespectador está mudando, mas ainda estamos passando por esse processo e todos estão se adaptando com isso, tanto telespectadores quanto profissionais do audiovisual.

Você é bastante crítico em relação à atuação e textos em seus posts. Acredita que falta de originalidade é um mal nas tramas atuais?
Sempre que posto algo sobre algum assunto, não tenho a intenção de criticar, e sim de avaliar, o que é bem diferente. Não acho que falta originalidade. Todo o tipo de produto tem espaço na televisão brasileira, mas a fórmula para o sucesso, nós, autores, ainda não temos.

Você acompanha séries estrangeiras? Investiga novas plataformas?
Gosto muito de assistir a séries e sou completamente viciado em algumas (risos), como American horror story, Downton Abbey e Breaking bad. Gosto do formato e da maneira como elas são feitas. São o que há de mais moderno na TV. Estou sempre atento ao que acontece ao meu redor, seja no cotidiano do bairro onde moro, nas minhas viagens ou nas novas plataformas. Busco referências para escrever histórias. Escrevi recentemente Doctor Pri, com 14 episódios, que será gravado em 2015.

Você foi editor do primeiro jornal gay do Brasil (O Lampião da Esquina). Mas por que não concorda com a exibição de beijo gay em novelas?
Não acho que ser editor do primeiro jornal gay do Brasil seja ter uma postura política. Trabalhei no O Lampião da Esquina porque sou jornalista e gostei da oportunidade. Nunca disse que sou contra o beijo gay, só acredito que para ele existir tem que ter um motivo.

Outro ponto sobre a questão da homossexualidade é o estereótipo de gays. Crô (o mordomo de Fina estampa) era acusado de carregar nos clichês. O que teria a dizer sobre personagens como ele em suas novelas?
Existem todos os tipos de pessoas, certo? Das mais alegres e exaltadas, às mais tímidas e caladas. Quando penso nos meus personagens, quero que fiquem “reais” para os telespectadores. Quem não conhece uma mulher romântica e meiga? A dramaturgia é assim, se espelha na vida cotidiana, em pessoas que fazem parte da nossa vida.

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