Pais adotam cartão pré-pago para vetar ‘porcarias’ no lanche escolar em SP

Alejandra Guerrero de Berios entre as filhas Gabriella (à esq.), 13, e Daniella, 9, que têm níveis elevados de colesterol

Colégios particulares de São Paulo, como o Dante Alighieri e o Porto Seguro, passaram a adotar em suas cantinas cartões eletrônicos que permitem aos pais o controle dos gastos diários dos filhos e das guloseimas proibidas para o consumo –tudo pela internet.

Ao menos dez empresas já administram esses cartões de consumo. O esquema é simples: no início de cada mês, dependendo do modelo do cartão, o pai determina quanto o filho poderá gastar com o lanche todos os dias, semanalmente ou mensalmente.

“O cartão é pré-pago e não há como a criança gastar mais do que o estabelecido. Quando ele pede um produto que o pai havia bloqueado pelo site, o sistema não aceita e ele não poderá levar”, afirma Julio Cesar Salles, o tio Julio, dono de uma rede que mantém, só em São Paulo, 45 cantinas.

A dona de casa Alejandra Guerrero de Berios é mãe de duas meninas, Gabriella, 13, e Daniella, 9, que têm problemas de níveis elevados de colesterol. Ela acredita que, com o cartão, consegue controlar melhor a alimentação das duas e, ao mesmo tempo, ensiná-las a administrar despesas.

“É duro fazer uma criança de nove anos entender que não pode comer certas coisas, que precisa fazer dieta”, diz.

TODA A VIDA

Para a nutricionista Josiane Carvalho Cardillo, o controle por parte dos pais é positivo do ponto de vista nutricional.

“A criança que aprende ou é disciplinada a ter bons hábitos alimentares desde cedo leva isso para o resto da vida. Se é possível determinar as boas escolhas, por que não fazê-lo?”

Algumas cantinas vão além do cartão. Elas colocam nas redes sociais, todos os dias, fotos dos cardápios disponíveis e não permitem que a criança coma o que bem entender.

“Não vendemos só balas, só chocolates ou só coxinhas para crianças pequenas de jeito nenhum”, afirma Rodrigo Naldoni, da Cantina da Escola, no Objetivo do Ipiranga.

DIÁLOGO

Na avaliação da pedagoga Ângela Soligo, doutora pela Unicamp, a sociedade está substituindo a educação das crianças pelo controle.

“O pai quer controlar o que filho come pelo cartão, onde o filho está pelo celular. É muito mais interessante abrir um diálogo sobre alimentação em casa e educar para uma alimentação saudável”, diz.

Segundo a especialista, o mecanismo é ilusório. “Alunos trocam de lanche o tempo todo. O pai vai saber o que ele comprou, mas não o que ele comeu. A marca do controle é superficial, a marca da educação é profunda e levada para a vida toda.”

Fonte: Folha de são Paulo

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