PT usa festejos para fixar marcas de gestão a serem exploradas em 2014

 

Dilma

BRASÍLIA — Um ato conjunto para defender o legado do ex-presidente Lula, reafirmar sua continuidade na gestão da presidente Dilma Rousseff e estabelecer que essa é a base de sua campanha à reeleição, em 2014. É essa ação combinada de PT e governo que vai marcar hoje, em evento em São Paulo, os dez anos do partido à frente do Palácio do Planalto. O PT pretende usar a festa de hoje, com a participação de Dilma e Lula, e os 13 seminários que realizará pelo país ao longo do primeiro semestre para fixar marcas da gestão petista, em especial as da gestão Lula, visando a campanha da reeleição ano que vem.

A intenção é martelar números como o aumento real do salário mínimo, redução da taxa básica de juros e, principalmente, o combate à pobreza e as medidas para a erradicação da miséria. Na mesma linha, Dilma deve ressaltar no evento de hoje o anúncio, feito ontem, no Palácio do Planalto, de inclusão, em programa de complementação de renda, dos últimos 2,5 milhões de brasileiros beneficiários do Bolsa Família que ainda se encontram na pobreza extrema.

A presidente também deve destacar medidas como a redução da tarifa de energia elétrica e programas como o ProUni, que concede bolsas de estudo para alunos de baixa renda. Dos dois lados, do PT e do governo, não há interesse em mencionar o escândalo do mensalão — ele será lembrado pela presença, na plateia, dos petistas condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

O formato dos eventos programados pelo PT e o material que será distribuído, com comparações com os governos de Fernando Henrique Cardoso, não teriam sido discutidos com a Presidência da República e desagradaram auxiliares de Dilma. Esses assessores criticaram a utilização de conceitos ideológicos, como “neoliberalismo” para bater na gestão tucana, considerados ultrapassados.

Integrantes da equipe de Dilma discordam do tom adotado pelo PT e defendem que o discurso da reeleição deve olhar para a frente e não se fixar em comparações. Mas, a presidente não teria como não participar do evento de hoje.

Em seu discurso, Dilma deve fazer referências à oposição, mas numa linha mais moderada, lembrando que muitos disseram que os governos petistas não seriam capazes de promover as mudanças implementadas e apostaram em problemas, como a possibilidade de um apagão de energia elétrica.

Na série de eventos programados, o PT pretende celebrar, e divulgar, que o Brasil é outro depois de dez anos de governo Lula e Dilma, principalmente com conquistas para os mais pobres, e ressaltar o fim da dependência do FMI.

— Nós queremos manter esses avanços durante o governo da presidente Dilma e na sua sucessão. Nós queremos vê-la reeleita em 2014 — diz o presidente do PT, Rui Falcão, em vídeo de convocação para o evento de hoje.

Aliás, espantar o fantasma de que Lula seria o candidato do PT no ano que vem, e não Dilma, também é um dos objetivos desses atos políticos. Apesar do anseio de parcela do partido de que Lula volte, líderes do PT afirmam que o partido está pacificado em torno da candidatura de Dilma.

— Quem sai com cinturão de ouro depois de oito anos não deve voltar para o ringue — dizia ontem o governador petista Jaques Wagner (BA), após sua passagem pelo Planalto.

Além de fixar marcas de governo e consolidar a pré-candidatura de Dilma, o PT pretende usar os eventos para tentar consolidar o leque de alianças rumo a 2014. Com a desculpa de participar dos seminários, Lula percorrerá o país fazendo articulação política. Na semana que vem ele participará do evento sobre combate à pobreza em Fortaleza, e aproveitará para conversar com o governador Cid Gomes (PSB).

Mesmo com a movimentação de Lula gerando alguns ruídos, como a defesa de que Dilma ceda a vaga de vice para o PSB, desalojando o PMDB, o PT considera fundamental sua participação:

— Ele pensa política o tempo todo, conhece muita gente, não dá para colocar isso no armário — defende o governador da Bahia.

Apesar das negativas petistas, todos os festejos em torno do legado do partido no governo servem como contraponto ao julgamento do mensalão. Para o professor de Ética e Filosofia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Roberto Romano, o governo Dilma e o PT farão mais um ato de marketing em vez de discutir problemas do partido, como abandono de bandeiras históricas:

— Um partido precisa de referências, crítica interna. O PT perde uma oportunidade simbólica de discutir o que o levou a uma situação vexatória como a da ação penal 470 (mensalão).

Na Câmara dos Deputados, a homenagem aos condenados é mais explícita: em exposição sobre os 33 anos do PT, o ex-ministro José Dirceu mereceu uma grande fotografia, ao lado de uma menor de José Genoino. O líder do PT, José Guimarães (CE), defendeu:

— O Dirceu faz parte da história do PT, discordem ou não, o PT não vai renegar seu passado.

Fonte: O Globo

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