Os sons da guerra. Por CLAUDEMIR GOMES

Por CLAUDEMIR GOMES

Ensurdecedor e torturante este barulho da guerra. A guerra que, sem pedir licença, a qualquer hora, do dia, ou da noite, invade nossas casas, nos tira o sono e nos enche de medo. Sinais dos tempos. É a força da comunicação num mundo sem barreiras.

Antes, tudo parecia coisa de cinema, do imaginário. Afinal, foi a indústria cinematográfica que, a sua maneira, nos repassou os horrores da Primeira, e da Segunda Guerra Mundial. Criou seus heróis, nem sempre condizente com as verdades repassadas pelos livros de história.

As notícias da guerra chegavam através do rádio e dos jornais. Privilégio para quem tinha acesso aos meios de comunicação de massa. Os horrores da guerra nos foram repassados até em forma de poema. Poesia de protesto, evidentemente. Em 1946, Vinícius de Moraes, fez o poema:  A Rosa de Hiroshima. Os versos foram musicados em 1973, tendo sido um dos grandes sucessos do grupo Secos e Molhados.

Nos anos 60, mais precisamente em 1967, o conjunto, Os Incríveis, fez o maior sucesso com a versão de: Era um garoto, que como eu, amava os Beatles e os Rolling Stones. Os jovens da época, enchiam os salões de dança fazendo coreografia como se estivessem atirando com uma metralhadora. A falta de informação, e conhecimento dos fatos dos conflitos no Vietnam, fez com que, o protesto existente na letra da música italiana, passasse despercebido.

A informação era pouca, mas a indignação com os horrores da guerra era grande. Quem assistia o Repórter Esso, ou tinha acesso aos jornais, ficava consternado com o que estava acontecendo do outro lado do mundo.

A comunicação evoluiu e o mundo mudou. Conceitos foram revistos; quebras de paradigmas provocaram mudanças de hábitos e o planeta ficou minado. Guerras e conflitos estouram de forma orquestrada e contínua. Detalhe: não observamos indignação nas pessoas. A lamentação é passageira, mas o grande volume de informações, imagens em tempo real e tudo o mais, torna os horrores dos conflitos, uma coisa banal.

O Século XXI tem nos mostrado que a guerra é um produto exposto no mundo todo. Ela é apresentada no grosso, e no varejo. Em grosso são os grandes conflitos como este, da ordem do dia, entre os terroristas do Hamas e Israel, onde morrem dezenas, centenas e milhares de pessoas. No varejo é a guerra urbana existente nas grandes cidades, tomadas por traficantes e milicianos, onde se mata no varejo.

Foi-se o tempo em que a arte imitava a vida com os Canhões de Navarone; Rambo; Braddock; 1917; A hora mais escura; Esquecido em Belfast; Dunkirk… Agora, a vida está copiando a arte. Temos guerra na nossa sala 24h por dia.

Fecho os olhos e viajo no tempo. Logo me vem na lembrança a imagem dos grupos de jovens, dançando, bebendo e cantando: “Era um garoto que como eu, amava os Beatles e os Rolling Stones… tatá, tata, tá… tatá, tata, tá…”.