A origem do carnaval, na visão irônica do revolucionário poeta Oswald de Andrade

Oswald de Andrade | Oswald de andrade, Semana da arte moderna, Arte  contemporânea brasileira

Oswald de Andrade, retratado por Tarsila do Amaral

O advogado, escritor, ensaísta, dramaturgo e poeta paulista José Oswald de Souza Andrade (1890-1954) foi um dos principais articuladores do movimento modernista literário e da célebre Semana de Arte Moderna, espécie de marco divisório na história das artes brasileiras, realizada em São Paulo, em 1922.

A rebeldia de Oswald o levava a querer muito mais do que simplesmente revolucionar forma e conteúdo da criação artística. O que ele queria mesmo era uma revolução que transformasse a vida social dos brasileiros, suas instituições e costumes.

O poema “brasil”, com letra minúscula, forma de satirizar até o nome do país, faz parte da primeira fase do Modernismo. Este período é o mais radical, pois os escritores dessa época ainda buscam definições, destroem paradigmas, enfim, é um a época de construção, onde notamos a busca ao passado, do quinhentismo brasileiro, porém, sem aquele ufanismo dos românticos.

Aqui, na literatura de Oswald de Andrade há uma crítica ao ufanismo exagerado e, assim, ele busca o passado, mas de forma crítica, irônica, com isso, surgem os poemas piadas, a paródia. É notório o humor nesse poema, o “eu-lírico” retrata a construção da etnia brasileira, com o português, o índio e o negro: “

Brasil
Oswald de Andrade

O Zé Pereira chegou de caravela
E preguntou pro guarani de mata virgem
– Sois cristão?
– Não, Sou bravo, sou forte, sou filho da morte
Tetetê tetê Quizá Quizá Quecê!
Lá de longe a onça resmungava Uu! Ua! Uu!

O negro zonzo saído da fornalha
Tomou a palavra e respondeu
– Sim pela graça de Deus
Canhem Babá Canhem Babá Cum Cum!
E fizeram o carnaval.