Alas do PT pressionam para haver mudança no comando da campanha eleitoral de Lula

Jantar com Gleisi deixa empresários preocupados com política econômica de  Lula | CNN Brasil

Toda plastificada e cheia de botox, Gleisi não está agradando

Johanns Eller

O diagnóstico de letargia na pré-campanha de Lula à presidência, as negociações frustradas para aumentar a aliança petista e as declarações consideradas desastradas do ex-presidente colocaram a presidente nacional da legenda, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), na berlinda.

Uma ala do partido passou a defender internamente que o senador Jaques Wagner (BA), que não disputará eleições em outubro, assuma protagonismo na coordenação política da campanha lulista. Essa ala atribui a Gleisi o fracasso na formação de uma federação com o PSB e na composição com legendas de centro, como o PSD.

DIRCEU E QUAQUÁ – No grupo estão desde petistas antigos da ala do ex-ministro José Dirceu até lideranças regionais importantes no partido, além do vice-presidente nacional Washington Quaquá.

“Nós formamos apenas uma pequena federação que, na realidade, serviu como uma grande boia para salvar o PV e o PCdoB (legendas que não atingiriam a cláusula de barreira em 2022)”, dispara Quaquá . “É preciso ampliar as conversas. Por exemplo, é essencial trazer o PSD do Kassab, que está até agora sem candidato à Presidência, ainda no primeiro turno”.

A questão, porém, é delicada no PT, porque Gleisi é vista não só como um dos quadros mais fiéis a Lula, inclusive durante o período da prisão. É difícil que ela venha a ser desbancada do espaço que ocupa no PT e na campanha de Lula, mas os quatro quadros da campanha com quem conversamos nos últimos dias concordam com o diagnóstico de isolamento e dizem que a movimentação serve de alerta para que Lula faça um movimento mais ao centro político.

FALAS DESASTROSAS – Vários desses petistas estão inclusive preocupados com as duas declarações recentes de Lula – uma defendendo o aborto e outra recomendando que os petistas batam à porta da casa de deputados para pressionar o Congresso Nacional em diferentes agendas. Nesta quinta-feira, em uma entrevista à Rádio Jangadeiro Band News, no Ceará, Lula buscou contemporizar as duas declarações.

Questionado, Lula reiterou que é pessoalmente contra o aborto, mas defendeu que o assunto seja tratado como um problema de saúde pública. Ele justificou a fala pela disparidade entre mulheres de maior poder aquisitivo, que realizam o procedimento em clínicas clandestinas caríssimas ou mesmo fora do país, e gestantes pobres, sujeitas a riscos e desprovidas de tratamento adequado.

O petista também buscou colocar panos quentes sobre a declaração incentivando pressão sobre parlamentares. Lula declarou que sugeriu uma abordagem pacífica aos congressistas nos seus respectivos estados no lugar de custear passeatas caríssimas em Brasília, mas aproveitou para alfinetar os críticos. “Lamentavelmente, me parece que tem deputado que não quer conversar com o povo. Só na época das eleições”, disse à emissora cearense.

REUNIÕES COM ALIADOS – Gleisi Hoffmann, por sua vez, tem feito reuniões com aliados para identificar onde atuar e como fazer esse movimento. A tentativa de calibrar as declarações polêmicas de Lula ocorreu após a interlocução de aliados dentro e fora do PT. Além disso, a dirigente tem se reunido com nomes do mercado para selar uma aproximação com o empresariado.

A apreensão em torno da campanha do PT vem ganhando corpo desde que as pesquisas eleitorais começaram a mostrar uma queda nas intenções de voto do ex-presidente e um avanço de Jair Bolsonaro.

O resultado das movimentações da janela partidária também é fator de preocupação. Encerrado o prazo para as trocas de partido, o PT manteve o mesmo tamanho que já tinha na Câmara e limitou-se a formar uma federação com duas legendas pequenas, o PCdoB e o PV.

Em contrapartida, o PL de Bolsonaro passou de 42 para 75 deputados, com a maior bancada da Câmara, e as outras duas principais legendas de sua base, o PP e o Republicanos, também cresceram de forma substancial.

CAMPANHA LENTA – Para esses setores do PT, a campanha está lenta e precisa ir para as ruas. Dizem que o último grande fato político envolvendo Lula foi a sinalização de que Geraldo Alckmin seria indicado como seu companheiro de chapa.

Até agora, o próprio Lula não se colocou formalmente como pré-candidato e ainda não começou a percorrer o país de forma ostensiva.

Para essa ala, que vem exercendo pressão interna mas ainda não se posicionou formalmente, Gleisi deveria continuar na presidência do PT e passar a coordenação geral da campanha para Wagner, considerado mais hábil e pragmático na costura política. O diagnóstico desse grupo é que Lula não ganhará a eleição no primeiro turno, como queria, sem formar uma coalizão centrista já no primeiro turno.

VÁRIOS FATORES – Eles avaliam que a guinada à esquerda promovida por Gleisi após o impeachment de Dilma, a prisão de Lula e a derrota de Fernando Haddad para Bolsonaro estava alinhada com o contexto político da época, mas maculou sua capacidade de manobra com o empresariado e partidos fora da órbita esquerdista.

Mais do que o chamado “salto alto”, afirmam integrantes desta ala, o que tem mais prejudicado o ex-presidente é a deficiência na formação de alianças estaduais sólidas.

Um exemplo bastante lembrado é a desastrosa negociação em torno da sucessão do governador baiano Rui Costa, que custou à legenda o apoio regional do PP. Outro, a insistência em candidaturas pouco competitivas como Edegar Pretto, no Rio Grande do Sul, e a falta de interlocução com atores políticos de peso, como o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), na disputa fluminense.