Especial – Historiador coloca aspas na “Independência” de 1822

O historiador, consultor político, membro da Academia Pernambucana de Letras e diretor do  Jornal O PODER, José Nivaldo Junior, realizou na noite de ontem palestra na Loja Maçônica União e Fraternidade Surubinense. O tema foi o processo de independência do Brasil e a participação da maçonaria, especialmente na Revolução Pernambucana. ” A Revolução de 1817, chamada de Revolução dos Padres, deveria, por justiça, ser denominada Revolução dos Maçons. Inclusive porque a grande maioria dos padres que dela participaram também integravam a maçonaria”, afirmou.

GOIANA

José Nivaldo destacou também a participação da maçonaria no chamado Grito de Goiana, quando um grupo de senhores de Engenho de Pernambuco, maçons na maioria, se rebelou contra o governo absolutista de D. João VI. Na Convenção de Beberibe, os rebeldes expulsaram o governador arbitrário Luiz do Rêgo, representante da monarquia e algoz dos revolucionários de 1817. “Um pioneirismo pernambucano que deveria ser comemorado, divulgado, explicado, compreendido. Se não fosse o esforço dos abnegados Institutos Históricos de Goiana, de Olinda e de Pernambuco a data teria passado em brancas nuvens. Não vim aqui criticar ninguém mas a omissão do governo do Estado nesse evento é simplesmente deploravel”, assinalou.

“INDEPENDÊNCIA”?

José Nivaldo afirmou que o Grito do Ipiranga não representou a Independência do Brasil e sim a separação institucional de Portugal. “Não se trata de interpretação. Muito menos de opinião. A Independência não foi um ato, foi um demorado processo”, defendeu.

DEMARCANDO DATAS

“Podemos tomar como ponto de partida a chegada da Corte Portuguesa em 1808. A partir daí, as ordens que governavam o Império português eram emitidas do Brasil. A rigor, já não se pode falar de dependência. Quem manda, não depende”, afirmou.
D. João era Príncipe Regente. Em 1818, dois anos após a morte da rainha, o regente foi finalmente aclamado como D. João VI. Rei do Reino Unido do Brasil, Portugal e Algarves. Desde 1815, o Congresso de Viena, que redefiniu o mapa do mundo ocidental depois de um terremoto chamado Napoleão, reconheceu o Brasil como Reino Unido. Qualquer leigo é capaz de entender que um Reino Unido não é colônia. É Unido. Logo a independência existia de direito desde 1815. Isso não se discute.

E O GRITO?

Em 1820, ocorreu em Portugal uma Revolução Constitucionalista, cuja sede era a cidade do Porto.
D João VI foi chamado de volta e deixou o primogênito, Pedro, como regente. Com ordem expressa para fazer a separação. Todo mundo que estudou conhece a frase: Pedro, lança mão dessa coroa antes que algum aventureiro o faça.

GRITO CONTRA QUEM?

O Grito de 1822 é claro. O que disse D. Pedro às margens do Ipiranga: As cortes querem nos escravizar. Laços fora. Os laços arrancados tinham as cores das Cortes Constituintes, não do Reino de Portugal. Ao gritar Independência ou Morte, D. Pedro não se referia a Portugal e sim às Cortes Constituintes, disse o conferencista.

DETALHE

As Cortes do Porto eram liberais. Aboliram o absolutismo e fizeram uma constituição. Porém, queriam recolonizar o Brasil. A proposta era reduzir novamente à condição de colônia. Mais uma prova de que já não era mais. Aí entra novamente em cena a maçonaria.

ROTEIRO

José Nivaldo lembrou que no processo de separação de Portugal a maçonaria estava dividida em duas correntes. A de Gonçalves Ledo queria separação com República. A de
José Bonifácio, queria implantar uma monarquia constitucional, modelo que foi adotado. Os maçons tiveram importante participação no Fico, de D. Pedro. Tanto que este foi atraído para a maçonaria em agosto de 1822, adotando o nome de Guatimozim. Citando Oliveira Lima, José Nivaldo explicou que José Bonifácio, chamado de Patriarca da Independência, apoiou D. Pedro para evitar a recolonizacão e manter a unidade nacional. Um herdeiro natural foi capaz de manter o Brasil como um só país. Segundo ele, as diferenças entre regiões eram profundas, na época. Qualquer governante brasileiro de qualquer província, não seria aceito pelas outras regiões.

TRAÍRA

O conferencista não poupou críticas a D Pedro, segundo ele um assassino frio e um autocrata arbitrário.
Destacou que na primeira ocasião, D. Pedro livrou-se de José Bonifácio, que tinha um programa avançado para o governo. Menos de 15 dias depois de ser aclamado Imperador e Defensor Perpétuo do Brasil, com total apoio da maçonaria, fechou as lojas maçônicas e em seguida implantou a sua própria tirania constitucional.

A CONFEDERAÇÃO

Pernambuco se rebelou contra. É a Confederação do Equador, cujo bicentenário ocorre daqui a dois anos. Essa é a comemoração de maior interesse para o Estado, afirmou.

EXPULSÃO DE D. PEDRO I

O conferencista destacou que D. Pedro I massacrou Pernambuco de todas as formas. Deveria ser sempre tratado como inimigo No 1 do nosso Estado.
Em 1831 ele perdeu aa condições de governar e foi obrigado a bater em retirada. Deixou o filho de 5 anos. Teve o bom senso de nomear o inimigo José Bonifácio, que ele reconhecia como um homem de bem e preparado, como regente.

LIVRES ENFIM

” A separação ocorreu em 1822. Mas só 9 anos depois o Brasil se livrou da dinastia portuguesa. Por ironia, o tirano foi para Portugal lutar pelo trono defendendo a Constituição, contra o irmão Miguel que ocupou o trono defendendo a bandeira do absolutismo. Venceu. Tornou-se o rei D. Pedro IV, de Portugal. Morreu aos 36 anos. Dele nos livramos mais cedo.
O jovem Pedro, futuro D. Pedro II, esse era um brasileiro, nato e independente. Só em 1831, o processo de independência foi concluído”, assinalou.

HOMENAGEM

Ao término, muito aplaudido, José Nivaldo que é surubinense, rendeu homenagens a antigos grao-mestres da Loja, ” homens amigos, respeitáveis, admirados por meu pai e por mim desde a infância. Por sua vez, foi homenageado recebendo dois diplomas de reconhecimento da Loja Maçônica União e Fraternidade, cujo Venerável Mestre atualmente é João Paulo Campos Leal.