As eleições em Pernambuco

Por Marcelo Teixeira*

O candidato de situação foi muito bem escolhido. Trata-se de um político do ramo, nascido e criado no meio. O pai foi, desde deputado a presidente do Tribunal de Contas. Danilo Cabral, há oito anos atrás, era o preferido de Eduardo Campos para lhe suceder.

Paulo Câmara teve uma forte proteção familiar liderada por Roberto Viana e o conselheiro João Campos. Ambos trabalharam bastante, junto com Romeu Baptista e Ettore Labanca. Danilo no aguardo de sua vez, e eis que, em 2022, chegou a hora.

Danilo conhece tudo de Pernambuco: foi secretário de Administração do Recife na gestão de João Paulo, deputado estadual, secretário de Educação, e das Cidades, gestão de Eduardo Campos, exerce o terceiro mandato de deputado federal e é concursado do Tribunal de Contas de Pernambuco. Sem dúvidas, apresenta-se o mais experiente para ser candidato do PSB.

Pernambuco caminha para uma disputa com três candidatos da oposição, também de família política, a começar pelo mais velho, Anderson Ferreira.  Político tarimbado, ex-deputado federal e atual prefeito da maior cidade depois da capital, Jaboatão dos Guararapes. Além disso, o pai, o irmão e o cunhado são parlamentares em exercício dos mandatos.

Raquel Lyra, ex-delegada da Polícia Federal, procuradora licenciada do Estado de Pernambuco, ex-secretária do Governo de Eduardo Campos, deputada estadual por duas legislaturas, prefeita de Caruaru reeleita. Família política, o avô, João Lyra, foi duas vezes prefeito de Caruaru, deputado Estadual e Federal. O pai, João Lyra Neto, duas vezes prefeito de Caruaru, deputado estadual, vice-governador por duas vezes e governador do Estado substituindo Eduardo Campos. O tio, Fernando Lyra, deputado estadual, seis vezes federal e ministro da Justiça.

Miguel Coelho, o mais jovem deputado estadual de Pernambuco, é prefeito reeleito de Petrolina. Filho de família política, o irmão é deputado federal pela segunda vez e foi Ministro de Estado. O pai, secretário de Estado, ministro, prefeito duas vezes de Petrolina, deputado federal e, atualmente, senador da República.

Examinando as eleições passadas, não vi nenhuma com todos os principais candidatos trazendo laços familiares, políticos e experiências administrativas tão marcantes. Também não detectamos esse fenômeno em outros estados.

Daí vamos para a disputa. A eleição não é solteira: vamos ter presidente, governador, senador, deputado federal e deputado estadual. O conjunto vai para a disputa com o somatório de tempo na propaganda gratuita, apoio dos prefeitos e vereadores, também segmentos sociais, órgãos de classe, sindicatos, personalidades do estado e nacionais. Juntando-se a esses ativos intangíveis, vem a reboque o dinheiro do fundo partidário. A partir dessa junção, no fim do mês de março, os candidatos começam a colocar as cartas na mesa. Será o momento inicial no qual políticos, a imprensa e o povo passarão a fazer as comparações.

O peso do conjunto é que define as eleições, começando pelo candidato a presidente. A reboque, temos as estruturas das máquinas públicas, federal, estadual e municipal, o candidato a senador, as chapas de federal e estadual. Para esse conjunto de forças não funcionar com superioridade, é preciso que você tenha um candidato com um conjunto mais fraco, mas que ele seja muito superior, a exemplo de Arraes contra Gustavo Krause. E olhe que Arraes foi exceção. Em uma reunião na casa dele, eu disse: “Dr. Arraes, nessa eleição, ou o senhor é exceção, ou a maior surpresa das eleições no Brasil. Apesar da disputa com um candidato muito mais fraco, o senhor tem que vencer contra o plano Real e as máquinas públicas federal, estadual e municipal”. Assim foi.

Temos muitas experiências desse tipo, onde o derrotado cria a desculpa, tipo “foi por não ter apoiado o fulano para presidente”, “foi por não colocar uma mulher na vice”, “se tivesse mais uma semana de campanha…” e por aí vai.

Eleição é matemática. Não tem zebra. Quando termina, que você examina nos detalhes, verá que o resultado foi matemático.

Outra situação interessante: os quatro candidatos ao governo de Pernambuco têm realizações para mostrar aos pernambucanos. A população vai examinar, pensar e olhar o que fizeram de mais importante e que pode ser útil e bom para o Estado.

Diversos candidatos a governador se somam contra o do governo, facilitando a ocorrência do segundo turno. É vantagem para a oposição. Já para o senado, é divisão para os de oposição – não tem soma. Assim, o quadro favorece o da situação. Como exemplos, temos Mendonça governador e Jarbas senador. Na oposição, Humberto e Eduardo somaram para fazer o segundo turno, ambos apoiando e puxados por Lula. Já para o senado, Jorge Gomes e Luciano dividiram, facilitando a eleição de Jarbas. No geral, as eleições são puxadas de cima para baixo. Vejam Fernando Henrique ou Lula, especialmente no Nordeste. Quando eleitos, levaram junto a grande maioria dos candidatos locais. Assim foi também com Haddad no Nordeste, na eleição de 2018.

Outra questão interessante é sobre o filho da terra. Em 2014, Marina venceu Dilma e Aécio em Pernambuco no primeiro turno. Diante da comoção do acidente que vitimou Eduardo Campos, Marina, como a candidata a vice-presidente e que substituía Eduardo na eleição, herdou os votos dos pernambucanos. É normal o candidato a presidente vencer em seu reduto. Lembremos de Brizola no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul, Ciro no Ceará e Collor em Alagoas. Vamos ver se neste ano, para governador, Petrolina, Caruaru e Jaboatão farão frente à forte estrutura do PSB em todo o estado.

*Publicitário e especialista em campanhas eleitorais