Bicentenário: estudar o passado, entender o presente e iluminaro futuro

Por Luís Faro Ramos
Embaixador de Portugal no Brasil

Em boa hora a Associação de Imprensa de Pernambuco, Associação Portuguesa de Imprensa e a Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) se juntaram à Universidade de Coimbra para organizar uma exposição do valioso acervo desta Universidade na Galeria Massangana da Fundaj, no Recife, intitulada “Documentos históricos pré e pós-coloniais entre Brasil e Portugal”.

As relações entre os nossos países são, desde sempre, especiais. E este ano, quando o Brasil celebra o bicentenário da sua independência, apresentam-se várias oportunidades para destacar esse relacionamento singular. Uma dessas oportunidades é justamente a exposição que será inaugurada no próximo dia 21.

Estudar o passado para entender o presente e iluminar o futuro: eis tarefa da maior importância, normalmente a cargo de estudiosos e especialistas, mas por regra longe do grande público. Agora, graças a esta meritória iniciativa, o público poderá percorrer, primeiro no Brasil e depois em Portugal a partir de setembro, as linhas que nortearam as relações entre a sede do Império português e o Brasil colônia até a independência; e entre o Império brasileiro e o Reino português após a independência alcançada em 1822.

Estarão em exibição 38 documentos históricos inéditos do acervo da Universidade de Coimbra. Entre aqueles documentos, destacam-se a matrícula do primeiro aluno natural do Brasil em Coimbra; a primeira edição do poema “Caramuru, poema épico do descobrimento da Bahia”, de Frei Santa Rita Durão; uma notícia do jornal O Paraense, impressa no dia da independência, antes da proclamação; um outro recorte de jornal sobre a venda da capitania da Bahia; e uma carta redigida ao imperador do Brasil em 1823, publicada na Gazeta Pernambucana.

O local e a data não poderiam ter sido melhor escolhidos. Recorde-se que a revolução pernambucana, tão importante para o Nordeste do Brasil, teve início em março de 1817. Foi também em março, há exatos cem anos, que os navegadores Gago Coutinho e Sacadura Cabral partiram de Lisboa para uma aventura que os levaria a completarem a primeira travessia aérea do Atlântico Sul, entre Portugal e o Brasil, com passagem pelo Recife.

O Recife está, por diversas razões, no centro das relações entre Portugal e o Brasil. Aqui se situa um polo muito importante na área cultural, o Gabinete Português de Leitura, que guarda entre outros itens do seu valioso espólio peças originais do segundo hidroavião utilizado na travessia por Gago Coutinho e Sacadura Cabral.

Aqui também, e no estado de Pernambuco, vive uma comunidade portuguesa plenamente integrada na sociedade local mas que não perdeu e, pelo contrário, se orgulha das suas raízes e tradições.

A Embaixada de Portugal, juntamente com o Vice-Consulado no Recife e o Camões – Centro Cultural Português em Brasília, não poderia deixar de se associar a esta auspiciosa iniciativa. Os nossos parabéns aos organizadores e à Fundação Joaquim Nabuco pela realização desta exposição, num local pleno de significado.

Joaquim Nabuco, político, diplomata, historiador, jurista, orador, abolicionista e jornalista brasileiro nascido no Recife, era também um grande admirador de Luís de Camões, a quem dedicou o famoso discurso proferido no dia 10 de junho de 1880. Autor do livro Camões e Os Lusíadas, Joaquim Nabuco dá o nome à Fundação que abre as suas portas a uma exposição documental luso-brasileira, no mês em que são assinalados os 450 anos da primeira publicação de Os Lusíadas, de Luís de Camões.

Só nos resta desejar que o público pernambucano acorra em massa. Agora que a pandemia começa a deixar-nos, esta exposição possibilita ao visitante um maior conhecimento, através da leitura de documentos históricos, de momentos relevantíssimos no caminho que Portugal e o Brasil têm vindo a percorrer juntos há muito tempo.