A guerra pune a todos. Por Por Antonio Magalhães

Por Antonio Magalhães*

Nada como uma crise para acelerar a busca por novos caminhos ou negócios. O início da guerra da Rússia com a Ucrânia não surpreendeu ninguém. Há mais de um mês se estendia o cerco fronteiriço dos russos. O que estava por vir iria afetar, como afetou, muitas nações distantes do conflito, inclusive o Brasil.

A passagem do presidente Bolsonaro por Moscou para acertar a compra de fertilizantes para o nosso agronegócio foi mais um episódio da pré-guerra. Bem tratado por Vladimir Putin, presidente da Rússia, ele recebeu a garantia de que o produto seria mandado para o Brasil, o correspondente a 20% do que é usado no campo. Outra parceira comercial de fertilizantes, a Bielo-Rússia, vizinha e aliada fechada com Putin, também acertou a vinda do produto.

Infelizmente não pode ser enviado por conta das sanções econômicas à Rússia e à Bielo-Rússia pelo envolvimento dos dois países na invasão da Ucrânia. Para punir os russos, os Estados Unidos e a União Europeia estão punindo o mundo. Principalmente os países produtores de alimentos, como o Brasil, e os consumidores.

Por isso, a ministra de Agricultura Teresa Cristina encaminhou um pedido à FAO (Organização para Alimentos da ONU) para que os fertilizantes sejam retirados da lista de sanções econômicas. Sem os fertilizantes não se produzem alimentos em larga escala, como o agronegócio brasileiro. Ela ainda não obteve resposta da organização.

E Teresa Cristina partiu para buscar produtos de fosfato, nitrogênio e potássio que compõem os fertilizantes em países como Canadá, Chile, Israel e Marrocos. Foi o jeito, uma vez que o fertilizante nacional só atende 20% da demanda e não tem condições de ver sua capacidade ampliada a curto prazo. A estratégia de governos anteriores de exportar 80% do produto um dia ia dar problema. E deu, como o atual.

Diante da dificuldade, o Governo Federal quer o apoio do Congresso para superar questões legais que impedem a mineração do potássio em terras indígenas, onde existem extensas reservas minerais suficientes para abastecer a agricultura nacional por décadas.

A mentalidade das ONGs e da esquerda é a de manter os nativos brasileiros como objeto de estudos sociológicos e  antropológicos como num museu humano. E, para a oposição, eles sequer deviam aspirar a melhoria do padrão de vida, recebendo royalties pela exploração do produto e mantendo, claro, seus hábitos culturais, a exemplo do que acontece hoje com os índios americanos que usam suas propriedades de forma rentável, até abrigando grandes cassinos que lhes dão uma renda razoável pela ocupação. E eles continuam sendo índios.

As ONGs, hoje ponta de lança de grandes grupos corporativos, vem atrapalhando o desenvolvimento sustentável da nação. No século passado, nos anos 50 e 60, o capital privado internacional fez a mesma coisa, encobrindo a trilha para a exploração de minerais estratégicos, como foi o caso da mina de Fosfato em Olinda, Pernambuco.

Diante da possibilidade de reduzir a importação do produto para o agronegócio da cana de açúcar no Nordeste, grupos locais, por orientação de exportadores, fecharam a Fosforita Olinda, onde hoje se situam os bairros de Ouro Preto e Peixinhos, permitindo a construção de centenas de casas populares nas terras da mina. A área ficou inviabilizada para qualquer exploração mineral. Esta história está bem retratada na obra dos jornalistas Marcos Cirano e Ivan Maurício sobre a ação dos cartéis em Pernambuco.

A expectativa é que esta guerra seja breve, com menos vítimas e pouca destruição. Bom para ucranianos, russos e brasileiros. É isso.

*Jornalista