Médicos do Hospital da Mulher do Recife ameaçam demissão

 

Do G1/PE

Médicos que atuam no Hospital da Mulher do Recife, no Curado, na Zona Oeste, ameaçam demissão em massa. Os obstetras relataram, hoje, um “cenário de horror”, com “cenas de guerra”, por causa da quantidade insuficiente de profissionais e da falta de materiais para atender as pacientes. Diante das dificuldades, profissionais informaram que protocolaram, na última segunda, 32 cartas com a intenção de desligamento.

Por medo de represálias, os profissionais preferiram não ser identificados, mas deram detalhes sobre uma situação. Segundo eles, tudo começou há aproximadamente dois anos e só piorou.

Os médicos relatam que pacientes chegam a esperar até oito dias por um procedimento e, em alguns casos, existem complicações e verdadeiras “tragédias” por causa dessa demora.

“É um cenário de horror, com cenas de guerra. Há mais de dois anos, a gente vem lutando por melhores condições não só para a gente, mas para a população. Toda semana, um profissional pede demissão, porque não aguenta ver a paciente sofrendo ou tendo um desfecho ruim por falta de pessoal e de material”, contou uma das médicas.

Ela afirmou que o livro de plantão do hospital chegou a ser apelidado peal equipe de “livro do horror”. “São tragédias e mais tragédias que acontecem”, disse.

Segundo a médica, muitas vezes, é preciso escolher entre dez pacientes aquela que será operada e algumas terminam esperando até oito dias. “E você sabe que em uma gestante um dia faz diferença para ela e para um bebê. Algumas vezes, tem um desfecho negativo e essa paciente não tem nem ideia que é por falta de condições, falta de material, falta de pessoal”, desabafa.

A médica também disse que já aconteceu de o plantão contar com dois obstetras. “A desculpa é que, por causa da Covid-19, muitos profissionais adoeceram, mas adoecerem de estresse, de ansiedade, estão com problema de saúde mental, o que prejudica os profissionais e as mulheres”, disse.

Outra médica, que também não quis ser identificada, contou os profissionais não aguentam mais não dar assistência adequada e que os médicos terminam sofrendo também agressões verbais e ameaças de acompanhantes de pacientes revoltados com a situação. “Recentemente, um grupo masculino de acompanhante de pacientes se reuniu para procurar quem eram as médicas do plantão, onde dormiam, onde ficavam para conversar com elas. E tudo isso deixa a equipe em um estado de medo”, lembrou.

Ela também lembrou que já houve plantão com 20 a 30 pacientes em observação. “No espaço onde fica quem está para ter bebê, chegamos a ter dez pacientes ou 12. E só dois médicos para tudo isso. Fora os médicos de outras especialidade e profissionais de saúde com escala defasada”, criticou.