Diálogo com um monge que conhecera o amor, na poesia de Raymundo Correia

O imortal do acadêmico Raymundo Correia

O magistrado, professor, diplomata e poeta maranhense Raymundo da Motta de Azevedo Correia Sobrinho (1859-1911), autor parnasiano e sócio fundador da Academia Brasileira de Letras, conta poeticamente que na infância fez um monge se transformar ao falar de amor.

O MONGE
Raimundo Correia

—”O coração da infância”, eu lhe dizia,
“É manso.” E ele me disse:—”Essas estradas,
Quando, novo Eliseu, as percorria,
As crianças lançavam-me pedradas…”
Falei-lhe então na glória e na alegria;
E ele — alvas barbas longas derramadas
No burel negro — o olhar somente erguia
Às cérulas regiões ilimitadas…
Quando eu, porém, falei no amor, um riso
Súbito as faces do impassível monge
Iluminou… Era o vislumbre incerto,
Era a luz de um crepúsculo indeciso
Entre os clarões de um sol que já vai longe
E as sombras de uma noite que vem perto!…