“Racismo reverso” é fantasia que causa retrocessos, afirma a presidente da UNE

Conheça Bruna Brelaz, primeira presidente negra eleita da UNE

Bruna Brelaz é a primeira presidente negra eleita da UNE

Bruna Brelaz
Estadão

Na última semana o tema do “Racismo Reverso” esteve em alta, permeando discussões acaloradas nas redes sociais. E como estudante universitária e primeira presidente negra à frente da UNE (União Nacional dos Estudantes), penso que falar sobre o “fantasioso” racismo reverso, no qual pessoas brancas são vítimas de preconceito racial por negros chega a ser desumano.

Todo o tempo vemos o reflexo da perversidade do racismo estrutural na sociedade, no qual a população negra é prejudicada, em diversos âmbitos, vivendo sob uma violenta desigualdade social.

SEMPRE PREJUDICADOS – Mesmo em maioria, negros não ocupam todos os espaços na sociedade, inclusive os de poder público, têm menor acesso à educação, saúde, alimentação, têm piores condições de moradia e também são a maioria da população de baixa renda no país. São também quem mais sofre pela violência social, policial e os mais afetados pela pandemia da Covid-19.

Essa disparidade, que é fruto de mais de 400 anos de escravidão no Brasil, e mais de 130 anos em que faltaram políticas públicas para equiparar as condições entre a população branca e negra, não pode ser esquecida do centro do debate para o desenvolvimento brasileiro

Para nós, o ano de 2022 é emblemático: temos o grande desafio de renovar a Lei de Cotas (Lei 12.711/12), que teve vigência de dez anos e tornou o ambiente acadêmico muito mais plural e diverso. As universidades, anteriormente, ocupadas por alunos brancos e das elites, tem agora nas instituições públicas metade de discentes negros.

LEI DE COTAS – Hoje, se as universidades atendem às demandas da sociedade, é por conta da Lei de Cotas, que promove a diversidade racial, modificando grades curriculares, planejamentos e práticas.

Além disso, ela também elevou o debate da presença de negros na sociedade; as empresas estão incluindo reserva de vagas para funcionários negros o que também deve chegar aos espaços de docência e pesquisa nas instituições.

Assim, levando a população a ocupar espaços no mundo do trabalho, antes, majoritariamente voltados a brancos. Por isso, levar em consideração qualquer menção a racismo reverso, nos aponta para um imenso retrocesso.

CAMPANHA NACIONAL – A UNE, em nome do movimento estudantil do Brasil todo e instituições de ensino, participa da campanha “Cotas Sim”, iniciativa da Faculdade Zumbi dos Palmares, que já conta com apoio de diversas instituições e organizações sociais, culturais, artistas e personalidades, tanto para educação, quanto para administração pública, enquanto for necessário, para equiparar quase 500 anos de relações e estruturação desigual, agravados pelo projeto do governo Bolsonaro.

Sem ela, existe a possibilidade da presença no ensino superior, da população negra e indígena, oriundas da escola pública, deixar de existir. Dessa forma, o retrocesso será imenso, uma vez que também são os negros, de baixa renda, os mais atingidos pela crise social que atravessamos. Corremos o risco de perder todos os ganhos dos últimos dez anos em pouco tempo.