Bolsonaro não entende que a imprensa é o único canal de comunicação entre os fatos e a população

Charge do Roque Sponholz (humorpolitico.com.br)

Pedro do Coutto

A imprensa (mídia, como se diz hoje), incluindo os jornais, as emissoras de televisão, as estações de rádio e as redes sociais da internet constituem os únicos canais possíveis de informação e opinião entre os fatos que acontecem e as populações que os acompanham. Apesar de seus mandatos como deputado federal e seus quase três anos de presidente da República, Jair Bolsonaro não aprendeu e muito menos entendeu o processo da comunicação.

O canal que a mídia ocupa é insubstituível e essencial à própria existência humana. Trata-se de uma testemunha e ao mesmo tempo intérprete dos tempos que passam e se incorporam à história das nações e dos povos. A imprensa não inventa nada. Ela reflete as manifestações do poder e as implicações que acarretam nas populações de todo o mundo. O Brasil, claro, não foge à regra. E não é pela violência ocorrida em Roma que os problemas, tanto políticos quanto econômicos e sociais, vão ser resolvidos ou então que se transformarão em episódios falsificados a favor dos governos, no caso brasileiro de seu governo marcado por impulsos totalitários de intolerância.

FUTURO EM DISCUSSÃO – O presidente Bolsonaro estava caminhando pelo centro histórico de Roma,visitou cidades de ancestrais seus, mas não teve a menor vontade ou sentiu a impossibilidade de comparecer à Glasgow quando o futuro da humanidade estava sendo discutido e equacionado pela defesa do clima, pelo combate ao desmatamento, pelo garimpo ilegal, pela especulação fundária e também pela ultrapassagem do limite  que separa os madereiros das reservas indigenas, asseguradas pela Constituição de 88.

As reportagens de Janaína César, Folha de S. Paulo,  e Lucas Ferraz, O Globo, edições de ontem, terça-feira, focalizam os episódios que se sucederam ao conflito de Roma, incluindo a participação de agentes italianos e seguranças brasileiros. Mas Bolsonaro não leva em conta que ele, por suas ações e omissões, transformou-se num fato de insegurança na medida em que sua atuação ameaça a democracia do país.

O próprio presidente que se queixa da imprensa é o mesmo que compareceu à manifestação na Esplanada de Brasília contra o Supremo Tribunal Federal, contra o Congresso, assistindo à exibição de cartazes pedindo a ditadura militar comandada por ele próprio. As ofensas, a intolerância, as agressões por parte do governo formam o clima que conduz às manifestações em sentido contrário, sendo que na Itália  não houve manifestações contra o governo brasileiro, mas sim o impulso de repórteres agredidos que desejavam apenas fazer perguntas sobre a sua ausência, tanto no encerramento do G20, quanto da abertura da reunião da ONU em Glasgow.

ESCAPISMO – Sentindo que as perguntas seriam essas, Bolsonaro resolveu escapar das respostas. O escapismo marcado pela agressão e pelo desrespeito à liberdade no dever de informar, sobretudo uma obrigação da imprensa e da mídia em geral. Não foi a imprensa que rejeitou a oferta inicial das vacinas da Pfizer ou que alegando motivos ideológicos mandou suspender o fornecimento da vacina chinesa, depois aceita e aplicada livremente na campanha de imunização.

Não foi a imprensa que fez propaganda contra as vacinas. Não foi a imprensa que desaconselhou o uso de máscaras ou que articulou o projeto de contrato com a indiana Covaxin que previa um adiantamento de US$ 45 milhões antes do fornecimento. A imprensa registra os fatos, não os produziu. Foi assim e sempre será, rebatendo a tese nazista de que uma mentira repetida mil vezes se transforma em verdade. É falso e os exemplos se acumulam, sobretudo no estágio em que se encontra a comunicação com as redes sociais se incorporando ao processo informativo.

A imprensa é muito forte na medida em que acompanha a onda que se destina à areia. Não possui força alguma para fazer com que a onda retorne da areia para o mar. Nem a imprensa ou pessoa alguma pode inverter a lógica ou o processo de busca da realidade, marca indelével da democracia. A comunicação e a opinião são meios de defesa da sociedade.

OPINIÃO PÚBLICA –  A CPI do Senado Federal, presidido pelo senador Omar Aziz, conseguiu evitar com que fosse concretizada a compra da vacina indiana num valor acima de R$ 1 bilhão. Mas a atuação da CPI foi viabilizada pela imprensa na medida em que transportou ao conhecimento da opinião pública o que estava se passando em bastidores do Ministério da Saúde e do governo.

Quando campanhas publicas são lançadas, para citar uma face da questão, contra a violência doméstica e o espacamento e o assassinato de mulheres, são os meios de comunicação que tornam pública a inciativa, estendedo-a a todas as escalas da sociedade. Se alguém, como aconteceu no Rio de Janeiro mais de uma vez, é preso por um engano, o erro terrível só se esclarece pela publicação nos jornais e espaços que a matéria obtém nas emissoras de televisão. Quando alguém está ameaçado de alguma forma, as comunidades recorrem a quem ? Aos meios de comunicação. Porque são eles os que pressionam e terminam mobilizando os governos para que façam o mínimo de suas obrigações para com as camadas menos assistidas das cidades e dos países.

FATOR DE LIBERDADE – Quando se fala em combater o desmatamento e as queimadas a repercussão internacional do tema, aliás vinculado diretamente ao futuro da humanidade, é destacado pelos jornais, pelas emissoras, pela internet, pela mídia em geral. A mídia é um fator de liberdade ao mesmo tempo que é uma ação permanente na defesa dos direitos humanos e da esperança das populações, não só do Brasil, mas de todo o planeta.

A imprensa é um bem essencial à existência humana, podendo-se acrescentar mais um aspecto: não houve liberdade de imprensa no nazismo, não houve e não há liberdade de imprensa no comunismo.Quando chegam ao governo correntes totalitárias, a primeira coisa que fazem é censurar a imprensa.  A história se escreve na imprensa a partir de Gutemberg. Sempre foi e sempre será assim.Apesar dos momentos difíceis de opressão, ela, a imprensa, ressurgirá e libertará das sombras as populações que foram subjugadas.

DIVIDENDOS – Reportagem de NIcola Pamplona, Folha de S. Paulo desta terça-feira, revela que o presidente Bolsonaro está pensando em usar a renda dos dividendos da Petrobras para reduzir o preço do óleo diesel, já que nos próximos vinte dias a Petrobras vai reajustar, acentua a matéria, mais uma vez o preço dos combustíveis. Essas declarações do presidente foram divulgadas na tarde de segunda-feira pela TV CNN e também pela Rede Record.

Jair Bolsonaro assim quer taxar fontes de renda do capital para subsidiar os transportes, exatamente ao contrário do que Paulo Guedes defende, transferindo os custos dos precatórios originários de ações vencidas por trabalhadores para sustentar ações assistenciais como o Auxilio Brasil.