Chefe do Estado-Maior dos EUA mostra como barrar presidente que tenta melar eleições

Trump e o general Mark Milley na Filadélfia 8/12/2018    REUTERS/Jim Young

General Mark Milley não embarcou no golpe de Trump

Bruno Boghossian
Folha

O general americano Mark Milley sentiu o cheiro do golpismo. Maior autoridade militar dos EUA, o chefe do Estado-Maior Conjunto percebeu a movimentação de Donald Trump para incitar uma rebelião e permanecer no poder após ser derrotado nas urnas. Ele procurou colegas comandantes e discutiu planos para conter o presidente.

A formação de uma trincheira contra Trump é narrada num livro dos repórteres Carol Leonnig e Philip Rucker, do jornal The Washington Post. Em trechos divulgados pela CNN, o general mostra o que pode acontecer quando militares se recusam a apoiar um presidente interessado em melar as eleições.

MILÍCIA POLÍTICA – Segundo o livro, Milley tinha preocupação com os protestos convocados por Trump para atacar o resultado das eleições de 2020. Ele teria dito a aliados que os manifestantes mais radicais pareciam uma milícia política. No Brasil, generais passeavam de helicóptero com o presidente durante atos que pediam o fechamento do Congresso e do STF.

Milley levava a sério a aventura golpista de Trump. Os autores contam que o general pediu à sua equipe que ficasse atenta a gestos do presidente para incitar a desordem. Ele acreditava que a Casa Branca queria aproveitar distúrbios para tomar medidas de exceção, mandar soldados para as ruas e criar um ambiente para evitar a posse de Joe Biden.

NOS BASTIDORES – A atuação para garantir a democracia se deu nos bastidores. Depois da invasão do Capitólio, no dia 6 de janeiro, o general passou a falar diariamente com auxiliares diretos de Trump para garantir que a transição ocorresse pacificamente. Por aqui, ministros e comandantes preferem agir em sintonia com o presidente.

O livro relata que Milley considerava impossível um golpe de Trump porque ele não teria o apoio de militares, da CIA e do FBI. “Nós somos os caras com as armas”, teria dito, segundo os autores. Jair Bolsonaro se antecipou aos obstáculos enfrentados pelo ídolo americano: alguns chefes das Forças Armadas, da Abin e da PF falam a língua do presidente.