Na CPI, líder do governo se diz ‘constrangido’ com diálogos entre vendedor da Davati e servidor

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Revelações claras impactaram o líder Fernando Bezerra

Por G1 — Brasília

O depoimento do representante de vendas da Davati Medical Supply Cristiano Carvalho à CPI uniu senadores da base governista e da oposição em relação ao que entenderam como falta de qualificação e de credibilidade da empresa, com sede nos Estados Unidos, para negociar com o governo brasileiro. O líder do governo no Senado, Fernando Bezerra, se disse constrangido com diálogos que envolviam servidor do Ministério da Saúde.

A Davati pretendia intermediar a venda de 400 milhões de doses de vacina da AstraZeneca para o Brasil. Carvalho se apresentou como representante de vendas da empresa no país e trabalhou junto com o policial militar e vendedor Luiz Paulo Dominghetti em busca de contatos no Ministério da Saúde para viabilizar o negócio.

MENSAGENS REVELADORAS – À CPI, Cristiano Carvalho mostrou uma série de mensagens atribuídas ao ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias (vídeo abaixo). Carvalho relatou a insistência de Dias em buscar contato. Segundo Luiz Dominghetti, o ex-diretor pediu propina de US$ 1 por dose para fechar a compra das vacinas. Roberto Dias nega.

Líder do governo Bolsonaro no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE) manifestou desconforto e constrangimento ao ouvir os diálogos mantidos entre os representantes da empresa e servidores públicos e afirmou que ficou constatada a falta de habilidade e capacidade técnica da Davati para tratar com o governo.

“Quero manifestar meu desconforto com diálogos que foram mantidos entre representantes da Davati, servidores públicos e ex-servidores públicos”, afirmou Bezerra. E complementou: “Eu estou realmente, digamos assim, constrangido com os diálogos que estão sendo aqui mostrados. Mas é importante também deixar claro que, apesar de todas essas contradições ou equívocos, ou falhas, ou transgressões que possam ter sido praticados por eventuais colaboradores ou servidores, essas negociações não foram à frente. Não se comprou uma dose de vacina da Davati”.

NEM HAVIA VACINAS – Relator da CPI, o senador Renan Calheiros contestou: “Mas não precisariam ir à frente para caracterizar corrupção”, disse. “Até porque não tinha vacina para vender”, emendou o senador Humberto Costa (PT-PE).

Presidente da CPI, o senador Omar Aziz (PSD-AM) questionou a presença no Palácio do Planalto do ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde Élcio Franco – que recebeu a Davati quando ainda tinha gabinete no Ministério da Saúde. Atualmente, ele é assessor especial da Casa Civil.

“Que a Davati não tenha uma vacina para vender, nós já sabemos. Agora, o que nos espanta e o que constrange o governo [é que] o coronel Élcio Franco ainda está no gabinete do presidente. Ele não está mais no ministério, não. Ele está lá, dentro do gabinete do presidente. Eu sugiro, para o bem do país, que um cidadão como o coronel Elcio Franco não pode estar na antessala do presidente mais. Você não pode passar a mão em cima de uma pessoa que brincou com a vida das pessoas negociando vacina fantasma. Vacina fantasma e ainda com um indício muito forte de que houve pedido de benefícios”, disse Omar Aziz.

OPERAÇÃO TABAJARA – O senador Rogério Carvalho (PT-SE) ironizou as reuniões entre a Davati e autoridades do governo brasileiro.

“Tem vários nomes do governo que estão sendo apresentados aqui como pessoas que buscaram uma empresa numa verdadeira Operação Tabajara, e esse governo caiu. Qual o interesse? Só pode ter sido a propina. Caiu porque todos conversaram”, afirmou.

Um dos principais representantes da tropa de choque do governo na CPI, Marcos Rogério (DEM-RO) afirmou que a Davati tentou dar um “golpe”.

“Existiu uma coisa muito estranha: a tentativa de golpe ao Ministério da Saúde e a um conjunto de governos e prefeituras municipais”, afirmou. Na sequência, ele reclamou do fato de a CPI dar palco para um “vendedor de ilusão”. “O ministério expurgou essa tentativa de venda do nada, de vacinas inexistentes, nos trâmites de ‘compliance’ do ministério. Lá, não teve êxito”, afirmou.