Uma dos grandes mistérios da pandemia da Covid-19 é o quão mortal é a doença. No início de março, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou uma taxa de mortalidade de 3,2% – que acabou sendo uma ‘taxa de mortalidade fatal’ dividindo o número de mortes pelo número casos registrados, ignorando o grande número de casos assintomáticos ou que de outra forma não são registrados.

A modelgem do Imperial College de Londres,  que foi tão influente no governo, assumiu uma taxa de mortalidade por infecção (IFR) de 0,9%. Isso foi usado para calcular a infame previsão de que 250.000 britânicos morreriam, a menos que o governo abandonasse sua estratégia de redução e adotasse uma política de eliminar o vírus através do lockdown. Mais tarde, a Imperial revisou sua estimtiva do IFR para 0,66% – embora o documento de 16 de março, que previsse 250.000 mortes, não tenha sido atualizado.

Nas últimas semanas, uma série de estudos sorológicos estimando a prevalência de infecção na população em geral se tornou disponível. Isso permitiu ao professor John Ioannidis, da Universidade de Stanford, elaborar o IFR em 12 locais diferentes.

Eles variam entre 0,02% e 0,5% – embora Ioannidis tenha corrigido esses números brutos para levar em conta o balanço demográfico e apresentar estimativas entre 0,02% e 0,4%. As estimativas mais baixas vieram de Kobe, no Japão, com IFR de 0,02% e de Oise no norte da França, com IFR de 0,04%. Os mais altos foram em Genebra (um valor bruto de 0,5%) e Gangelt na Alemanha (0,28%).

Em artigo no site Stat, dedicado a notícias sobre biotecnologia, Ioannidis escreveu: “A Covid-19 está sendo chamada de pandemia que só acontece uma vez por século. Mas também pode ser um fiasco, do ponto de vista das evidências, que só acontece uma vez por século.” Como não sabemos ao certo quantas pessoas estão infectadas -já que, em geral, só uma fração pequena dos doentes, com sintomas graves, está fazendo os testes que comprovam a presença do vírus-, fica impossível estimar o risco real do problema, afirma ele.

As advertências comuns se aplicam: a maioria dos estudos para detectar a prevalência do vírus SARS-CoV-2 na população em geral permanece inédita e ainda não foi revisada por pares. Alguns provavelmente não são representativos da população em geral. O estudo de Oise, em particular, foi baseado em alunos, professores e pais de uma única escola, conhecida por ser um ponto crítico da infecção pelo Covid-19. Na outra extremidade da tabela, Genebra tem um perfil etário relativamente alto, o que provavelmente aumentará sua taxa de mortalidade.

Mas é perceptível como todas essas estimativas para IFR são extremamente mais baixas do que as divulgadas há alguns meses, quando foi amplamente afirmado que o Covid-19 era muito pior que a gripe. A gripe sazonal é frequentemente citada como tendo um IFR de 0,1 a 0,2%. O estudo de Stanford sugere que o Covid-19 talvez não seja mais mortal que a gripe – embora, como Ioannidis observe, o perfil seja muito diferente: a gripe sazonal tem uma IFR mais alta nos países em desenvolvimento, onde a vacinação é rara, enquanto a Covid- 19 tem uma taxa de mortalidade mais alta no mundo desenvolvido, graças em parte de mais populações idosas.

O estudo de Stanford, no entanto, não inclui o maior estudo de anticorpos até o momento: o de uma amostra aleatória de 70.000 residentes espanhóis, cujos resultados preliminares foram publicados pelo Instituto de Saúde Carlos III há duas semanas. Isso sugeria que cinco por cento da população espanhola havia sido infectada pelo vírus. Com 27.000 mortes no país, isso se converteria em um IFR de 1,1%.

*Com informações The Spectator