Acredite se quiser! Planalto já deu sumiço no vídeo da reunião citada por Moro para incriminar Bolsonaro

A gravação estaria (?) com Wajngarten, o secretário de Comunicação

Jussara Soares
Estadão

O vídeo da reunião ministerial citado pelo ex-ministro da Justiça Sérgio Moro, em depoimento à Polícia Federal, está sob responsabilidade do secretário de Comunicação, Fabio Wajngarten. A gravação seria uma prova de que o presidente Jair Bolsonaro pressionou Moro para interferir no comando da PF.

Na noite de terça-feira, dia 5, o ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, mandou o Planalto apresentar, em até 72 horas, as cópias da reunião entre Bolsonaro e o primeiro escalão do governo do dia 22 de abril, dois dias antes da demissão de Moro. A ordem do decano também obriga o governo a preservar a integridade do conteúdo da gravação e impedir que ele seja modificado.

CARTÃO FORMATADO – Citado pelo portal O Antagonista como o responsável por ter formatado o cartão de memória da reunião de ministros do dia 22 de abril, o chefe da assessoria especial da Presidência, Célio Faria Júnior, nega que tenha ficado com a gravação. Segundo a publicação, Faria teria ficado com o cartão de memória e só devolvido nesta terça-feira, sem nenhum conteúdo.

“Não é da minha competência gravar, manter, ou trabalhar qualquer tipo de mídia na Presidência da República. Essa competência é da Secom (Secretaria Especial de Comunicação)”, disse ao Estado por mensagem de texto.

SECOM – Questionado se a gravação citada por Moro ainda existe, o chefe da assessoria de Bolsonaro voltou a citar a Secom, órgão comandado por Fábio Wajngarten. “Não é da minha competência. Se existe ou não quem pode responder é a Secom”, disse.

Célio Faria foi citado por Celso de Mello no despacho que obriga o Planalto a apresentar as gravações. Além do chefe da assessoria especial, foram citados os ministro Jorge Oliveira (Secetaria-Geral), e Fábio Wanjngarten, chefe da Secom. Procurada pelo Estado, a Secom não se pronunciou nem respondeu os questionamentos sobre existência do vídeo e protocolos sobre gravação e armazenamento das reuniões ministeriais.

REGISTROS CURTOS – Após a publicação desta reportagem, Faria enviou nova mensagem ao Estado dizendo que a Secom faz “registros curtos e pontuais” com a finalidade de divulgar a agenda presidencial.

“As reuniões realizadas na Presidência da República são eventualmente gravadas pela Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom), com a única finalidade de divulgar as imagens da agenda Presidencial, na sua maioria registros curtos e pontuais”, escreveu Célio, enfatizando “que não compete à Assessoria Especial do Presidente da República o registro de imagens de reuniões, tampouco o arquivo de eventuais registros.”

Entretanto, na semana passada, o próprio presidente admitiu que existe um registro do encontro ministerial. Na ocasião, ele disse que divulgaria o vídeo da reunião com Moro para saber como ele trata os ministros. “Nossa reunião é filmada e fica no cofre lá o chip”, comentou Bolsonaro, dizendo ter pedido autorização dos outros ministros para divulgar a cena. “Mandei legendar e vou divulgar. Tirem as conclusões de como eu converso com os ministros.”

TURBULÊNCIA – No dia 30 de abril, no entanto, o presidente desistiu de divulgar a gravação que teve a participação de Moro. “Último conselho que tive é não divulgar para não criar turbulência. Uma reunião reservada, então é essa a ideia. Talvez saia, mas por enquanto não”, disse.

O despacho de Celso de Mello pedindo o vídeo foi deferido no inquérito que apura as acusações do ex-ministro Sérgio Moro de tentativa de ‘interferência política’ de Bolsonaro no comando da Polícia Federal. O decano mandou as autoridades citadas a ‘preservar a integridade do conteúdo’ da gravação e impedir ‘que os elementos nela contidos possam ser alterados, modificados ou, até mesmo, suprimidos’.

TESTEMUNHAS – Em outro despacho, Celso de Mello também determinou que os ministros Augusto Heleno (GSI), Walter Braga Netto (Casa Civil) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), citados como testemunhas por Moro, também prestem depoimento.

“Eis que a mencionada gravação constitui material probatório destinado a instruir, a pedido do Senhor Procurador-geral da República, procedimento de natureza criminal”, afirmou o ministro.

TROCA DE COMANDO – Moro relatou à PF que o presidente retomou a cobrança pela troca de comando da PF, algo que vinha fazendo desde janeiro deste ano, em reunião ministerial no dia 22 de abril – dois dias antes do ex-juiz anunciar sua demissão.

“O presidente afirmou que iria interferir em todos os Ministérios e quanto ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, se não pudesse trocar o Superintendente da Polícia Federal do Rio de Janeiro, trocaria o Diretor Geral e o próprio Ministro da Justiça”, relatou Moro.