Mandetta não aceita o pedido de demissão e diz que secretário de Vigilância continua no Ministério

“Entramos e sairemos juntos”, declarou Mandetta

Gustavo Maia, André de Souza, Leandro Prazeres e Renata Mariz
O Globo

O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, não aceitou o pedido de demissão do Secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson de Oliveira. Segundo a assessoria de imprensa do ministério, o secretário atendeu a um apelo do chefe da pasta, voltou atrás e continuará na equipe enquanto o ministro, ele próprio cotado a deixar o posto, permanecer à frente do Ministério da Saúde.

“Hoje teve muito ruído por causa do Wanderson, por causa de toda essa ambiência. Ele falou lá para o setor dele que iria sair. Aquilo virou uma… Chegou pra mim. Já falei que não aceito. Wanderson continua. Acabou esse assunto. Vamos trabalhar juntos até o momento de sairmos juntos do Ministério da Saúde. Por isso eu fiz questão de vir aqui nessa coletiva de hoje”, disse Mandetta, no começo de entrevista coletiva no Palácio do Planalto.

PERMANÊNCIA – Wanderson continuará no cargo enquanto Mandetta permanecer à frente da pasta. Mas o próprio ministro pode deixar o posto em breve. Mandetta entrou em choque com o presidente Jair Bolsonaro em razão de divergências na estratégica de enfrentamento à epidemia do novo coronavírus, que já infectou 28.320 pessoas no país, matando 1.736

Mandetta chegou a avisar, na noite de terça-feira, a auxiliares e assessores próximos que sua demissão deve ocorrer em breve. Após os últimos embates com Bolsonaro, com quem vem se contrapondo publicamente nas últimas semanas, Mandetta desabafou com a equipe da pasta de que seu tempo na cadeira estava chegando ao fim.

CLIMA DE DESPEDIDA – A conversa, na noite desta terça-feira, fez retornar ao Ministério da Saúde o clima de despedida. Na última segunda-feira, quando o Planalto chegou a iniciar internamente os atos formais para a demissão de Mandetta, suas gavetas foram esvaziadas. Mas o ministro foi mantido no cargo por pressão principalmente da ala militar do Planalto.

O cenário agora é outro. Segundo interlocutores, Mandetta entendeu os sinais de que sua exoneração está próxima na reunião de ministros ontem, na qual se manteve quieto. Na ocasião, Bolsonaro teria deixado claro que seus auxiliares precisam ouvi-lo e emitido, ainda que de forma indireta, que não toleraria comportamento diferente.

ENTREVISTA – Ele está convencido de que a entrevista ao “Fantástico”, da TV Globo, no domingo, esgarçou de vez a relação com Bolsonaro. No programa, Mandetta disse que a população não sabe se segue o presidente ou o ministro em relação às orientações de afastamento social contra o novo coronavírus e que isso provoca uma “dubiedade”, cobrando uma discurso unificado.

Também criticou pessoas que ficam “grudadas” em “padaria” e “supermercado”, classificando de “equivocado” tal comportamento. A aliados, o ministro disse, logo após a exibição da entrevista, ainda no domingo, que tinha decidido falar pelo “conjunto da obra do fim de semana”, referindo-se principalmente à visita às obras do hospital de campanha que a União está erguendo em Águas Lindas, cidade de Goiás na vizinhança do Distrito Federal, no sábado.

Lá, Bolsonaro provocou aglomerações e cumprimentou apoiadores. Mandetta se manteve distante. Na quinta-feira, o presidente esteve numa padaria.