Renúncia é ato absolutamente individual, como no episódio do presidente Jânio Quadros

Jânio estava meio perdido (foto de Erno Schneider)

Pedro do Coutto

O Datafolha realizou pesquisa indagando se o presidente Jair Bolsonaro deve ou não renunciar ao mandato. A resposta foi de que 59% acham que o presidente não deve renunciar enquanto 37% assumiram a posição contrária. Na edição de domingo da Folha de São Paulo, Igor Gielow publicou reportagem analisando e traduzindo alternativas constantes do levantamento.

Uma pesquisa difícil esta, porque é preciso que os entrevistados se coloquem no lugar da figura principal da questão, no caso o presidente da República, e assim decidirem no seu lugar.

LEVADO PELA FANTASIA – Portanto, é preciso grande atenção aos rumos que os números indicam, levando-se em consideração a dificuldade de alguém transportado pela fantasia abrir mão de seu mandato e principalmente do poder que enfeixa em torno de si. Mas esta é outra questão.

Me lembro do episódio da renúncia do presidente Jânio Quadros, aceito imediatamente pelo Congresso, considerando que a renúncia não pode ser objeto de aprovação ou não do Legislativo.

Entretanto, a pesquisa do Datafolha funcionou para mostrar o grau de insatisfação popular com o desempenho do governo. 37% é um índice muito alto. Mas não foi só os 37% a percentagem que preocupa ou deve preocupar o Palácio do Planalto.

CAPACIDADE DE LIDERAR – Em outra pergunta sobre se o presidente tem ou não capacidade de liderar o país, 52% disseram que sim e 44% afirmaram que não. Vejam os leitores como a margem de diferença se estreitou.

Inclusive, se lermos com atenção todos os lados da pesquisa, há um ponto que coloca em confronto Jair Bolsonaro com o governador João Dória. E o resultado? Está aqui. A pergunta refere-se ao comportamento do governador em não seguir as orientações de Bolsonaro no caso da pandemia coronavírus. E 57% acham que o governador tem razão em não seguir o posicionamento do presidente da República quanto à dimensão e ao grau de contágio da virose.

Deve se acrescentar mais um aspecto que, a meu ver, deveria ter sido incluído na sequência da pergunta principal. Ela tratou da hipótese de renúncia, mas devemos considerar que o afastamento de um presidente pode ocorrer de outras formas. Respondido esse enigma, os números do levantamento seriam ainda mais amplos para distinguir a vontade dos brasileiros e do país.