Nada aprendemos com o desastre de Dilma e crescemos menos do que outros emergentes

Marcos Lisboa
Folha

O debate sobre política econômica no Brasil surpreende pela escassez de temas e de propostas. A polarização ocorre principalmente sobre alguns preços, juros e câmbio, e a necessidade de um ajuste fiscal. Mesmo quando aparecem outros assuntos, como a nossa disfuncional estrutura tributária, a controvérsia se resume à regressividade de um imposto sobre consumo e à maior oneração de alguns setores.

Aparentemente, a maioria dos analistas ignora a complexidade e a sutileza técnica dos problemas. Não deveria surpreender, portanto, que tantos estrangeiros estejam desistindo de investir no Brasil.

CRESCIMENTO PÍFIO – Há quatro décadas crescemos menos do que os países ricos e, desde os anos 1990, muito menos do que outros emergentes, inclusive da América Latina.

Chile tem lá seus problemas, mas é duas vezes mais rico do que o Brasil. Colômbia e Peru há 20 anos crescem mais do que nós. O desastre fica maior ainda quando nos comparamos com o leste europeu ou o sudeste da Ásia.

Nosso sistema tributário adota critérios inexistentes em outros países, como definições sui generis de renda e de crédito tributário, em meio a regras complexas que induzem investimentos em atividades ineficientes, tendo como consequência um contencioso difícil de entender para qualquer estrangeiro, cerca de 150 vezes maior do que a mediana da OCDE.

CUSTO BRASIL = Nossa infraestrutura é capenga, e o setor privado teria apetite para investir fossem outras as condições de contorno. Em vez de enfrentarmos os problemas tecnicamente sutis, no entanto, preferimos as controvérsias sobre temas menores, como a política monetária.

O segredo está nos detalhes e procedimentos, que resultam em custos de transação elevados e uma incerteza disfuncional. Novos investimentos se descobrem reféns de obrigações e contrapartidas inesperadas que tornam obsoletos os planos de negócios.

Reduzir o debate à necessidade de expandir o gasto do governo em contraponto à defesa do ajuste fiscal apenas deixa claro que nada aprendemos com o desastre da gestão Dilma.

IMENSA DÍVIDA PÚBLICA – O investimento público aumentou mais de 10% ao ano em 2013 e 2014, porém a taxa de crescimento econômico despencou. O resultado foi a longa recessão e uma imensa dívida pública.

Temos o difícil desafio de reformar um poder público caro e ineficiente, quando comparado com os demais países. Estados e municípios não conseguem pagar a folha de pagamentos e a população sofre com a precariedade dos serviços de saúde, educação e saneamento.

Alguns economistas, no entanto, ainda acham que nossos principais problemas são a taxa de juros e o teto dos gastos. Enquanto isso, há uma epidemia que ameaça contaminar o país.