Íntegra da bombástica entrevista que abalou o PSB

BLOG DO MAGNO MARTINS

Verdades doem e, na entrevista que me concedeu, ontem, o empresário João Carlos Paes Mendonça, o maior do Norte e Nordeste do País, com uma soma fabulosa de investimentos de R$ 2,2 bilhões na construção de shoppings modernos e conectados com as tendências de mercado, mostrou que não tem papas na língua nem medo de cara feia. Disse o que todo mundo está caduco de saber.

Sobre a cidade do Recife: “A cidade está feia, tem placa de “aluga-se” e “vende-se” em todo canto, está suja e não temos cuidado com o turismo. Nosso turismo é praticamente Porto de Galinhas. As pessoas chegam ao aeroporto e vão para lá. Não há como reter o turista no Recife. Faltam condições à cidade. Temos gastronomia, cultura, museus, igrejas, mas precisamos usar e divulgar para atrair”. JPMC disse mais. Afirmou que Recife foi deixada léguas atrás por Salvador e Fortaleza, cidades que considera as mais nobres em atração de investimentos.

Quanto ao Governo do Estado, o empresário mandou um recado. Disse que tinha que acabar com essa prática do discurso do não ao Governo Federal e buscar alinhamento. “Preocupa-me que nós queríamos fazer muita coisa aqui e tudo era “não”. Primeiro, foi não à privatização do aeroporto, depois não à reforma da Previdência, então nós não podemos ser o partido do não”.

Sobre sucessão municipal, deu a entender que João Campos, escolhido pelo PSB, não tem maturidade ainda para administrar uma cidade do porte do Recife, disse que não conhecia Marília Arraes e elogiou Mendonça Filho e Raul Henry, dando a entender que são os seus preferidos.

Confira, na íntegra, a sua bombástica e oportuna entrevista. Vale à pena! Afinal, empresário falar nessas terras de Nassau é coisa muito rara.

Como está o País? Está começando a retomar a economia?

Acho que sim. Este ano já teve um crescimento que está praticamente definido em 1,1%, no próximo ano já se espera um crescimento de 2,5%, aproximadamente. A gente percebe que as medidas econômicas estão sendo eficazes. Apesar de toda luta, toda disputa entre as ideologias, o que nós observamos é que o ministro Paulo Guedes está fazendo um bom trabalho e acho que nós vamos retomar aos poucos esse crescimento. Lógico que 2,5% ainda é muito pouco, porque nós vivemos uma década, no mínimo, perdida. E agora, para recuperar, não é só com uma década, vai precisar um pouco mais.

A política econômica do governo Bolsonaro tem raízes na política econômica de Michel Temer?  

O Temer não teve tempo, foi pouco tempo de governo. Mas eu acho que é uma política de um economista experimentado, que não gosta muito de aparecer, gosta de trabalhar e acho que ele está fazendo um trabalho bom em realizar essas modificações. A economia mudou. O mundo de hoje é diferente do de ontem. O capitalismo de ontem não é o capitalismo de hoje, nem será o de amanhã. Acho que Paulo Guedes está no caminho certo, sabendo das dificuldades, porque tudo depende de integração com o Congresso, com o Judiciário, mas nós esperamos que consiga ir à frente com as suas ideias. Algumas dessas ideias estão um pouco avançadas, tem que ir com mais tranqüilidade, porque o Brasil é um país complicado, temos diferenças inter-regionais de renda, mas acho que é um caminho correto, o que ele traçou e está pondo em andamento.

Em São Paulo, a indústria da construção civil voltou a ser ativada, está dando sinais. Mas economia pra valer, só se sente quando o dinheiro começa a circular no bolso do povo. Quando isso vai acontecer?

Não é tão fácil, porque uma das últimas coisas que vamos sentir é a redução no número de desempregados. As empresas passam por momentos difíceis e vão ajustando pouco a pouco. Tem que se criar um programa de absorção dessa mão de obra e isso só será ser feito através da modernização. Concessão, privatização, infra-estrutura, habitação, tudo. Os hospitais precisam de gente. É por aí que vamos absorver a mão de obra, porque a tecnologia é impiedosa, veio para ficar. Se não houver, por parte dos governantes, medidas para essas concessões e privatizações, não vamos conseguir absorver essa mão de obra. No Nordeste, principalmente em Pernambuco, as autoridades não gostam de concessão e privatização e também têm muito pouco feito de infraestrutura, lamentavelmente.

O senhor é um empresário conceituado, solido gerador de emprego e renda. Nas suas empresas, o emprego está começando a reaparecer?

Nos Shoppings que nós participamos, temos mais de 50 mil funcionários. Não tem havido queda, pelo contrário, temos aberto novas lojas e estamos absorvendo mão de obra. Mas não é normal. A gente sente que não tem coisa nova. Precisamos de alguma coisa que apareça, principalmente em Pernambuco, para absorver essa mão de obra. É difícil, a construção civil está parada, uns dizem que é pela economia, outros pela burocracia. Então, eu acho que estamos cumprindo nosso papel, inclusive treinando jovens da área de Brasília Teimosa e do Pina, para colocar no mercado de trabalho, ao mesmo tempo ajudando nos estudos, para que eles cheguem na universidade.

Existia algum investimento que o senhor estava querendo fazer e agora, pela melhora da economia, irá realizar em 2020?

Nós começamos a construir duas torres com 800 salas anexas ao Shopping Riomar, que vem dotar a Região de equipamentos modernos. Vendemos três torres e estão todas ocupadas, temos também um projeto da área de turismo em Guadalupe, em fase final de aprovação. Assim que for aprovado, nós vamos começar a implantar esse projeto, na Zona Sul do Recife, que tenho certeza que vai ser um dos mais modernos empreendimentos turísticos do Nordeste brasileiro. É composto de hotel, marina, casas, loteamentos, numa área de 120 mil metros quadrados e nós só vamos utilizar 14% da área com construção.

Pernambuco é o Estado que o senhor mais investe hoje?

Foi e continua sendo o Estado que nós mais investimentos a vida toda.

E Sergipe do seu coração?

Não tanto. Nós temos dois shoppings em Sergipe e é o que nós achamos que é interessante, já é um bom volume. Investimos também na área social, temos uma Fundação há mais de 30 anos em funcionamento, dando assistência à toda população daquela região, que é pequena. São sete povoados que têm duas mil pessoas, mas totalmente amparadas pela Fundação Pedro Paes Mendonça. Em Sergipe, focaremos nesses dois shoppings, cada vez mais modernizando, ampliamos há pouco tempo um, modernizamos o outro, ou seja, nosso grande trabalho é de atualizar cada um deles.

Na época que tínhamos líderes políticos no Estado, como Eduardo Campos, que trouxe muitos investimentos, os empresários se motivavam a investir em Pernambuco. O Ceará também teve seu momento. Mas Pernambuco continua sendo o melhor Estado para investir?

Nós trabalhamos nas três principais cidades no Nordeste, Salvador, Recife e Fortaleza. A gente sente em Salvador um dinamismo extraordinário. A cidade está bonita, tem Centro de Convenções, Metrô, é uma briga bonita entre o prefeito e governador, porque cada um quer fazer mais. Salvador deu uma virada excepcional. Por outro lado, em Fortaleza há um desenvolvimento muito grande. Nós temos dois shoppings, um parecidíssimo com o Riomar de Recife, e nós sentimos um dinamismo, também. A cidade está esburacada, porque eles estão trabalhando, fazendo esgotos, metrô, abrindo avenidas, há um clima muito forte. Há um bom relacionamento entre o prefeito e o governador. Roberto Cláudio é um prefeito dinâmico e o governador Camilo Santana é uma pessoa acessível. Estamos muito felizes com o crescimento de Fortaleza. Neste ano, o nosso maior crescimento de vendas e público é em Fortaleza, maior do que Salvador e Recife.

ACM Neto desenvolveu o Natal da Luz em Salvador, investindo muito. Em Recife, não tivemos. Esse investimento, para fazer a cidade mais bonita, pesa em alguma coisa para atrair o turista?

Pesa muito não só em relação ao turista, mas como mudança do clima. Dá aquele entusiasmo na população local, e infelizmente, Recife não tem investido na decoração e iluminação da cidade, e isso é muito ruim, pois não motiva as pessoas. Nem os que estão aqui, nem os que chegam. A cidade fica fria, tradicional, e precisamos um pouco mais de alegria. Um exemplo, mesmo que não possa se comparar muito, vem de Lisboa. É sensacional a iluminação, a decoração, em todas as ruas. Atrai público, vale à pena ver aquela beleza que está acontecendo. Eu acho que é um erro grande não criar um clima favorável ao Natal. Natal é uma confraternização, é consumo e é renda, inclusive para o Estado e para o Município, e nós não sentimos esse trabalho sendo realizado no Recife.

O deputado Inocêncio Oliveira disse, em uma entrevista ao Blog, que o Brasil está dando sinais de recuperação, mas que o Governo estava sob o comando de um louco. Classificou Bolsonaro de maluco. Na sua visão, o presidente tem um parafuso solto?

Ele tem um estilo diferente. Nós não estamos habituados com o estilo de Bolsonaro. Ele também não está habituado à gestão pública, pois era um deputado. Ele tem sua maneira de ser, de falar, muitas vezes é exageradamente espontâneo, mas já está diferente. A gente observa que ela está em outra fase e nós esperamos que tudo venha a melhorar. Já se observa um melhor relacionamento com o Congresso, Judiciário. Ele começa a entender que a Câmara não é o Planalto, e as coisas vão acontecer. Tenho certeza que ele vai evoluir para um melhor relacionamento com os outros poderes.

O senhor viaja muito. Lá fora, qual a visão em relação ao Brasil com Bolsonaro no Governo?

Há sempre os que criticam, porque é natural. É uma esquerda e uma direita que eu não sei bem o que é, acho que a gente deveria trabalhar para o bem do Brasil e das pessoas. As pessoas ficam apreensivas, mas o ruim mesmo é a imagem do Brasil com a famosa Lava Jato, que é no fundo, a corrupção violenta que acontece e toda hora nós ficamos surpreendidos, por que vão achando mais bandidagem. Em Portugal, que é onde convivo mais, dizem que quem faz malandragem lá é amador e aqui no Brasil é profissional.

O senhor considera os crimes revelados pelo Lava Jato a maior roubalheira que já aconteceu no Brasil?

Eu acho que no mundo, você não acha? Nada aconteceu igual nesse nível de corrupção que fizeram com os órgãos públicos, com as empresas estatais. E a Lava Jato está tentando resolver, apesar de todas as dificuldades que tem enfrentado, pois a oposição é dura, muita gente forte não quer que a Lava Jato continue, mas eu acho que ela está fazendo uma limpeza, não pra mim, mas para os meus netos e bisnetos viverem num País sem tanta corrupção.

Como o senhor se sente, como cidadão brasileiro e empresário que investe no País, ver o ex-presidente (Lula) e chefe da quadrilha solto?

É difícil acreditar. A gente fica triste, pois começamos um trabalho há 85 anos com meu pai, eu já tenho 72 anos trabalhando, pois comecei aos 9 anos. E a gente chega a um momento que se pergunta: “Será que vale a pena?”. Porque a gente trabalha tanto, paga tanto imposto, para ver tanto ladrão levando nosso dinheiro. Desestimula, mas eu sou um otimista. Ainda é um grande País. Eu digo ao pessoal da Europa, amigos meus, que é “ganhar dinheiro no Brasil e gastar em Portugal”.

O PT fez muito mal ao País?

Fez bem e mal. No começo, fez bem. Era uma oposição ferrenha, mas boa. Lula liderou e mudou quando foi candidato, sendo “paz e amor”. Nos primeiros anos foi muito bem, mas aí veio à facilidade das mudanças, uma grande confusão, e ele começou a se perder. Gastou demais, não conseguiu se controlar, fez um relacionamento externo com as pessoas que ele gostava. Eu não sei como Lula perdeu uma oportunidade tão grande de deixar esse país numa situação muito melhor. Eu não tenho ligação com ele, mas ele vinha muito aqui, dava entrevistas nos nossos veículos, mas, infelizmente, aconteceu o que ninguém esperava: ele conseguiu fazer o Brasil o contrário do que ele pensava.

As pessoas que achavam que o Brasil ia ter uma mudança no ponto de vista ético e moral se decepcionaram?

Totalmente. Tem companheiros dele que não querem se dobrar, que acham que ninguém roubou nada, que ninguém se corrompeu, mas na verdade tudo isso aconteceu.

O senhor disse que não tinha relação com Lula. E com Bolsonaro?

Infelizmente, nunca o cumprimentei. Ele é muito ligado ao Rio de Janeiro, eu sou nordestino e nunca tiver o prazer de cumprimentá-lo. Mas ele é o nosso presidente e vamos com ele até o fim.

Por falar em Nordeste, como o senhor analisa o fato de não haver um ministro representando a Região?

Muito ruim, deveríamos ter vários ministros, como já tivemos em outros governos. Nós temos muita gente competente, que poderia ajudar o Brasil e o Nordeste, naturalmente. Mas é uma opção dele, ele colocou as pessoas que ele tem confiança. E do Nordeste, temos no Senado Fernando Bezerra, que tem uma posição privilegiada, como líder do Governo. Mas eu lamento que a gente não tenha ministros daqui, com tanta gente preparada para ajudar o Brasil a crescer e também reduzir essa desigualdade entre o Sul, Sudeste e Nordeste.

Pernambuco perdeu muito com a morte de Eduardo Campos?

E muito. Eduardo fez um governo voluntarioso, arrojado, junto com Lula. Fizeram projetos exagerados. Por exemplo, a Petroquímica foi vendida por 10% do que eles investiram. Suape era um projeto muito antigo, que veio do passado, que foi muito bom. Refinaria, uma teimosia. Era um negócio de (Hugo) Chávez e Lula, mas é um projeto que no fundo não é estruturador. Acho que o dinheiro poderia ter sido mais bem aplicado. Não fomos felizes com a construção da Arena Pernambuco e não fizemos quase nada de infraestrutura. Atraímos empresas de fora, um grande mérito de Eduardo foi levar para o Agreste e Sertão um pouco de desenvolvimento, mas estamos parados naquela região. Todas as empresas que vem para cá recebem incentivo. É lembrar da velha Sudene. Vem, usufrui do incentivo e depois vai embora. Todo mundo com um pouco de idade sabe o que aconteceu no passado. É muito bom, traz as empresas, uns investem muito, outros dão incentivos fiscais, e vão competir com as daqui que não receberam incentivos fiscais.

Eduardo deixou dois herdeiros. O prefeito Geraldo Júlio e o governador Paulo Câmara. Desses dois gestores públicos, qual o que tem o melhor traço administrativo e pode ser considerado realmente um herdeiro de Eduardo Campos?

São estilos completamente diferentes. Geraldo é muito comunicativo, é envolvente, é um homem que tem conhecimento profundo de formações, de controles e gestão, mas falta nele um pouco mais de garra para criar projetos para a cidade do Recife. Eu acho que Geraldo poderia fazer muito mais do que ele fez, pela sua competência. Paulo Câmara não tinha recursos, mas também não se vê infraestrutura. E me preocupa que nós queríamos fazer muita coisa aqui e tudo era “não”. Primeiro foi não à privatização do aeroporto, depois não à reforma da Previdência, então nós não podemos ser o partido do “não”.

A cúpula do PSB quer colocar um jovem de 25 anos (João Campos) no Recife. A cidade está pronta para receber um administrador tão jovem assim?

Importante saber se o administrador está pronto para dirigir Recife.

E ele está?

Eu não o conheço pessoalmente. Agora, com 25 anos, foi eleito deputado federal, com uma votação extraordinária, é filho de Eduardo Campos, tem uma tradição que vem de Miguel Arraes, mas eu não sei. O eleitor é que vai decidir se acha que um jovem está em condição de dirigir a cidade. Eu sonho que daqui a 20 ou 25 anos ele vai ser o Presidente da República. É talentoso, origem boa e, quem sabe, a gente não vai vê-lo na presidência, como eu esperava até que Eduardo chegasse. A campanha vai começar, vamos ver inclusive se ele vai ser candidato, pois ele não disse ainda, é desejo de companheiros de partido. A gente tem que entender que o jovem é jovem.

A principal adversária dele é a prima, a deputada Marília Arraes. Como o senhor vê o perfil dela?

Eu não a conheço. Vejo que ela é deputada, mas não tenho visto uma luta dela tão grande. Não posso fazer o julgamento, mas sei que ela tem o direito total de disputar, tem o sobrenome forte, é elegante, mas tem outros candidatos que estão por aí.

Por exemplo?

A gente vê no noticiário que tem Raul (Henry), Mendonça (Filho), Silvio Costa, Daniel Coelho…

Qual deles seria um bom nome para Recife?

Mendonça é um nome, foi governador, foi ministro, é reconhecido como um ministro da Educação extraordinário, ele tem qualidades. Já Henry, foi vice-prefeito, vice-governador, deputado. É uma pessoa que tem conhecimento. Os outros são jovens que vêm lutando e ainda tem Armando Monteiro, que é um dos nomes cotados. Muita água vai rolar debaixo da ponte.

Há um mito de que se Lula pisar aqui ele elege até um poste. Lula está tão forte assim, a ponto de eleger um candidato do PT?

Eu não acredito. Acho que as pessoas julgam diferente do que era no passado. Naturalmente, tem Marília que é do PT, mas da vez passada não conseguiu e ela aceitou ser rifada. Não precisa sair do partido para fazer política. O problema é que Lula promete que ela vai ser candidata, mas será que vai? O PSB não está muito satisfeito com o PT. Será que é?

O senhor falou que Geraldo Júlio poderia fazer mais. O que falta na cidade do Recife?

Muita coisa. Nós temos palafitas de doer o coração, não concluímos a Via Mangue, a ligação pra Zona Norte da cidade não é fácil. As ruas não estão boas, falta infraestrutura, os hospitais têm problemas sérios… e precisamos incentivar o empresariado. E outra coisa que se reclama na construção civil é a demora na aprovação de projetos. O próprio Geraldo Júlio me disse que está tudo bem, mas há reclamações. Tenho um bom relacionamento com ele, mas é preciso fazer essa observação. A cidade está feia, tem placa de “aluga-se” e “vende-se” em todo canto, está suja e não temos cuidado com o turismo. Nosso turismo é praticamente Porto de Galinhas. As pessoas chegam no aeroporto e vão para lá. Não há como reter o turista no Recife. Faltam condições à cidade. Temos gastronomia, cultura, museus, igrejas… mas precisamos usar e divulgar para atrair.

O senhor construiu o Riomar, símbolo do lado moderno e arrojado da cidade. Recife Antigo hoje está sem opção, Boa Viagem “morta”. Como se sente em abrir um centro tão moderno e a cidade não acompanhar esse ritmo?

Para mim, é motivo de orgulho. Quando pensamos no projeto do Riomar, nós queríamos colocar no Recife um equipamento moderno e atual. Ele está composto de serviços, lazer, gastronomia, lojas, teatro, cinema, até centro da Polícia Federal veio para nosso shopping. Fico realizado dotando a cidade que me adotou de um shopping desta qualidade, que não temos acanhamento de mostrar a qualquer estrangeiro. Foi com muito trabalho, muita luta e aí a gente tem que fazer justiça ao prefeito João da Costa. Ele foi corretíssimo na construção do Riomar. Ele deu todo o apoio possível. Assim como não tenho nada contra Geraldo Júlio, que nunca atrapalhou nossa vida.

Dá um nó no coração sair do Riomar, com toda aquela estrutura, beleza e suntuosidade, e se deparar na rua com sujeira, esgoto e uma cidade mal cuidada?

Dá um nó e grande. Quando eu vejo que nós retiramos as palafitas ali da frente do shopping, que eram de pescadores e que hoje se tornou uma favela e as autoridades não tomaram providências, isso me entristece. Recife precisa fazer uma autocrítica e verificar que precisa mudar. Nós somos a primeira capital do Brasil, mas agora temos a concorrências de Salvador e Fortaleza. Não adianta enganar. Pior coisa do mundo é enganar a si mesmo.

Então a manchete dessa entrevista seria “Recife tem que se modernizar para acompanhar Fortaleza e Salvador”?

Eu colocaria que João Carlos Paes Mendonça é um amante do Recife, faz tudo pelo Recife e essa seria a manchete.

Mas Recife precisa mudar?

Precisa. Eu vou ser até mais duro. Precisa se transformar. Mudança é ruim, bom é transformação.

E a política está no meio…

É a mentalidade. Nós precisamos que os líderes falem, discutam. Que tenham coragem de contestar, que façam valer a democracia. Esse negócio de ser governista toda vez não dá certo. Eu não sou oposição, não sou governo, eu defendo a sociedade. Se as pessoas estão bem, eu estarei bem. Temos que fazer um trabalho muito forte para engrandecimento do Recife e de Pernambuco. Enquanto nós não tivermos uma ligação de Recife a Petrolina, nós não vamos desenvolver o interior do Estado. Tem o exemplo da BR-232 com Caruaru. Nós precisamos de estradas.

Por que o senhor nunca quis entrar na política?

Eu não tenho vocação da prática do toma-lá-dá-cá. Depois, para entrar na política você precisa de voto, e eu não tenho voto.

Mas o senhor tem a experiência administrativa, o Ceará mudou com Tasso Jereissati…

Mas é diferente. Eu acompanhei a campanha antes de Tancredo Neves, havia um grupo de empresários muito fortes contestando. Eu não vejo essa contestação na cidade do Recife. Eu vejo todo mundo parado. E uma das coisas importantes no Ceará é a classe empresarial valente, crítica. Fazer política é assim. Todo mundo quer elogio, mas precisa ser elogiado quando tem que ser e criticado quando tem que criticar. Houve uma decadência da classe empresarial no Brasil, mais do que no tempo da Revolução.

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