Terror noturno: o que leva uma criança a ter crises

A qualidade do sono e uma rotina de horários de dormir e acordar é a melhor maneira de evitar o terror noturno

Terror noturno: o que leva uma criança a ter crises
Segundo estimativas, o terror noturno afeta entre 2% a 56% de crianças com menos de 13 anos (Foto: Needpix)

No início, as crises de terror noturno não eram muito frequentes. Poucas horas depois de colocar a filha de 6 anos na cama, Melissa Cary ouvia a criança gemer e, em seguida, escutava gritos. Quando entrava no quarto, Melissa via a filha se debatendo na cama aos gritos. Algumas vezes, a menina descia correndo as escadas, com os olhos arregalados. Era impossível acordá-la. As crises, que, em geral, duravam cerca de dois minutos, ficaram mais frequentes.

“A sensação é de impotência porque não há nada que se possa fazer para acalmar a criança. Quando as crianças têm pesadelos você pode abraçá-las e acordá-las com palavras de carinho, mas não em uma crise de terror noturno”, disse.

O terror noturno, que também pode ocorrer durante o cochilo diurno, é um distúrbio do sono mais comum em crianças. Os sintomas clássicos são gemidos, gritos, respiração pesada, agitação e sons sem nexo. É muito difícil e, às vezes impossível, acordar uma criança em meio a uma crise de terror noturno porque o sono é profundo. Em geral, as crianças não se lembram o que aconteceu.

Apesar de assustar os pais, o terror noturno não causa traumas nas crianças. As crises quase sempre são curtas, de apenas alguns minutos. Na maioria dos casos as crises desaparecem depois dos 12 anos de idade. Segundo estimativas, o terror noturno é um distúrbio que afeta entre 2% a 56% de crianças com menos de 13 anos.

Embora não haja uma explicação precisa para o distúrbio, especialistas dizem que em torno de 25 minutos após adormecer, um adulto mergulha em sono profundo. Durante essa fase, a frequência cardíaca e a respiração ficam mais lentas.

“Mas as crianças têm um sono mais profundo do que os adultos. Por isso, são tão difíceis de acordar. O terror noturno ocorre durante esse estágio de sono profundo. Durante as crises, algumas regiões do cérebro, como o sistema límbico, responsável por regular o ciclo vigília e sono permanece em estado profundo, enquanto outras regiões do cérebro com funções motoras interrompem esse sono. Assim, a criança se vê entre o mundo da vigília e do sono, o que a deixa confusa e agitada”, disse o médico Rafael Pelayo, professor da Division of Sleep Medicine da Universidade de Stanford.

“O terror noturno tem um componente genético. De acordo com algumas teorias, em crianças geneticamente predispostas o desenvolvimento do sistema nervoso central pode provocar esse distúrbio”, observou a pediatra Haviva Veler, diretora do Pediatric Sleep and Breathing Disorders Center do New York-Presbyterian Hospital/Weill Cornell Medical Center.

Sachin Relia, psiquiatra do Le Bonheur Children’s Hospital em Memphis, Tennessee, recomenda que os pais retirem objetos pontiagudos ou perigosos do quarto da criança e não tentem acordá-la durante as crises. Caso se levante da cama, basta ajudá-la a deitar de novo com movimentos suaves.

A qualidade do sono e uma rotina de horários de dormir e acordar é a melhor maneira de evitar o terror noturno. Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) recomendam que crianças de 1 a 2 anos durmam entre 11 e 14 horas por dia; crianças de 3 a 5 anos precisam dormir de 10 a 13 horas; e para as de 6 a 12 anos a recomendação é de 9 a 12 horas por dia.

Os CDC dão conselhos básicos para melhorar a qualidade do sono, como evitar bebidas e alimentos que contenham cafeína antes de dormir; manter o quarto escuro, silencioso e com uma temperatura agradável; e criar uma rotina de horários.

Com frequência, os pais têm dificuldade de manter uma rotina de horários de acordar e dormir para os filhos. Segundo Bobbi Hopkins, diretor do Johns Hopkins All Children’s Hospital Sleep Center, acontecimentos que mudam a rotina da família, como férias, podem provocar crises de terror noturno. As crises também podem ser desencadeadas por doenças, como apneia, que causa uma suspensão temporária da respiração durante o sono.

Os fóruns online ajudam as famílias a lidar com os terrores noturnos dos filhos. Neles, os pais trocam experiências, conselhos e opiniões. “Sinto-me mais segura ao saber que não estou sozinha”, disse Melissa.

Fonte:
The New York Times-How to Make Night Terrors Less Terrifying

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