‘Você não pode prejudicar a honra de uma pessoa’, diz Moraes para justificar censura

Ao tentar defender a honra de Toffoli, o ministro Moraes não se preocupou em desonrar os jornalistas, tratando-os como criadores de “fake news”.

Resultado de imagem para moraes

Moraes não se preocupou com a honra dos jornalistas censurados

Giuliana Miranda
Folha

O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), defendeu nesta segunda-feira (dia 22) sua decisão de censurar primeiro, e só verificar depois se era fake news, uma reportagem que trazia citação ao presidente do Supremo, Dias Toffoli. “Você não pode prejudicar a honra de uma pessoa quando há, como houve neste caso, uma nota oficial da Procuradoria-Geral da República, que dizia que não tinha conhecimento de nenhum documento [com uma citação a Dias Toffoli], como argumenta a publicação”, afirmou o magistrado.

Na última quinta-feira (dia 18), após pressão externa e interna, Moraes, relator do inquérito das fake news no Supremo, revogou decisão que havia sido tomada por ele próprio de retirada do ar de reportagens da revista Crusoé e do site O Antagonista sobre o apelido a Toffoli pela Odebrecht, produzida com base em documento entregue pela empreiteira à Lava Jato em Curitiba.

AMIGO DO AMIGO – Os veículos censurados publicaram textos com menção a Toffoli feita pelo empresário e delator Marcelo Odebrecht em um e-mail de 2007, quando o atual presidente do Supremo era chefe da AGU (Advocacia-Geral da União) do governo Lula (2003-2010).

No e-mail, enviado agora à Polícia Federal pelo empresário, Marcelo Odebrecht pergunta a dois executivos da empreiteira: “Afinal vocês fecharam com o amigo do amigo de meu pai?”. Não há menção a pagamentos ou irregularidades em relação ao presidente do Supremo.

Na última quinta-feira, em sua decisão que revogou a censura, Moraes alegou que se comprovou que o documento publicado pela revista Crusoé, com menção a Toffoli, “realmente existe”, segundo ele escreveu, e fora enviado pelas autoridades de Curitiba à Procuradoria-Geral da República.

FUTUROLOGIA – Na verdade, o material, autêntico, fora enviado no início da noite daquele dia à Procuradoria, em Brasília. “Como eu coloquei na minha decisão, ou foi um exercício de futurologia pela matéria, já dizendo que já estava na Procuradoria, quando a PGR nem tinha conhecimento, ou alguém vazou. Vazamento é crime, principalmente vazamento de algo sigiloso de uma delação premiada ocorrida num caso importantíssimo”, disse o ministro do Supremo nesta segunda-feira, ao conversar com a imprensa, durante seminário organizado pelo também ministro Gilmar Mendes (STF), em Lisboa.

Na terça-feira (dia 16), a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, enfrentou o STF e afirmou ter arquivado o inquérito. No mesmo dia, Moraes disse que a medida não tinha respaldo legal. Ela pode recorrer da decisão de Moraes, mas um eventual recurso pode demorar.

A PGR informou que só é possível recorrer após ter conhecimento do que foi investigado. As informações sigilosas, no entanto, só serão disponibilizadas após o fim do prazo de 90 dias de prorrogação da apuração.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *