Destaque de Eduardo em detrimento de Ernesto Araújo é desprestígio para Itamaraty

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Ernesto Araújo é um ‘chanceler’ que não faz a menor falta ao Itamaraty

Carla Bridi, Matheus Lara e Bianca Gomes
Estadão

Para o professor de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP) e da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Vinícius Vieira, o protagonismo do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) em detrimento do chanceler Ernesto Araújo durante o encontro entre Jair Bolsonaro e Donald Trump, nesta terça-feira, 19, é um sinal de “desprestígio” para o Itamaraty.

O filho do presidente assumiu o papel de “chanceler informal” na comitiva e esteve com o pai na conversa com Trump no Salão Oval a convite do presidente norte-americano. O encontro tradicionalmente é exclusiva aos chefes de estado e seus tradutores. “Não estamos numa competição e todos os meus passos na área internacional são dados sob orientação do ministro”, escreveu Eduardo no Twitter.

SUSPEIÇÃO – Vieira avalia que a presença de Eduardo na viagem é justificada pelo fato dele ter sido eleito para presidir a Comissão de Relações Internacionais na Câmara. “Ele está como representante legítimo do poder legislativo, mas o que causa estranheza é que não temos o nosso representante das relações exteriores nesse encontro. O fato dele (Eduardo) ser filho do presidente também cria um ambiente de suspeição”, afirmou.

Para Vieira, a atitude “é um desprestígio não só ao próprio gabinete do Bolsonaro, mas ao Itamaraty como um todo. Indica que Araújo tem um poder mais decorativo, muito mais de satisfazer a ala ideológica da direita, do que alguém que vai agregar valor à nossa política externa”, afirmou. O resultado do isolamento do ministro em detrimento de um dos filhos do presidente, segundo o especialista, é fruto de “uma relação muito específica nesse governo, de pai para filho, de um presidente que prefere as opiniões do círculo familiar do que o da própria equipe”.

EXONERAÇÃO – Vieira avalia que a situação na qual chanceler Araújo foi colocada seria válida para um pedido de demissão. “Acho que se fosse um ministro que tivesse ascendido ao poder de uma maneira mais convencional, com base na sua lista de serviços prestados ao País e não por indicações ligadas à razões ideológicas, já teria pedido demissão. Ele não está sendo útil para o que foi contratado”, disse.

A nomeação de Ernesto Araújo ao cargo de ministro foi uma surpresa aos integrantes do Itamaraty, já que o chanceler ainda não havia chefiado nenhuma sede diplomática.

Assumindo à época o Departamento de EUA, Canadá e Assuntos Interamericanos do Itamaraty, o discurso alinhado ao do presidente Jair Bolsonaro motivou a nomeação de Araújo, que criou um blog durante o período eleitoral onde criticava o “globalismo” e defendia o “nacionalismo ocidental”.

ALA MILITAR – As críticas ao alinhamento ideológico de Araújo levaram à exoneração, no início deste mês, do embaixador Paulo Roberto de Almeida do cargo de presidente do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (Ipri).

Segundo a avaliação de Vieira, a atitude poderia se estender em relação ao poder da ala militar do governo. Presente na comitiva da viagem a Washington, o general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), também não obteve tratamento especial durante a viagem. “Ele é um membro forte da ala militar. Talvez seja uma sinalização do presidente de que nos assuntos externos não vai mais se basear na ala militar”.

CONTRADIÇÕES – Durante coletiva de imprensa na terça-feira, ao ser questionado sobre o uso de intervenção militar na Venezuela, Bolsonaro respondeu que “tem certas questões que, se você divulgar, deixam de ser estratégicas. Assim sendo, essas questões se forem discutidas, se já não foram, não podem ser divulgadas”. A afirmação destoa do posicionamento do vice-presidente, general Hamilton Mourão que, em reunião do Grupo de Lima em fevereiro, ressaltou que o Brasil vai “manter a linha de não intervenção”.

“Araújo comprou totalmente a ideologia de Olavo de Carvalho e ainda assim é desprestigiado. É algo que não é completamente relacionado ao alinhamento ideológico”, analisa Vieira. (colaboraram Beatriz Bulla e Ricardo Leopoldo)

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